A gravidade dos fatos narrados pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, em depoimento inaugural da CPI da COVID, foi além da esperada. Isso porque o autor de "Um paciente chamado Brasil" (Objetiva) – livro que narrou os bastidores de um governo negacionista em seus primeiros meses de interação com a pandemia –, divulgou carta datada de 28 de março de 2020, entregue ao presidente da República, na qual recomendava “expressamente” que revisse o seu posicionamento, sob risco de gerar um “colapso no sistema de saúde” e consequências gravíssimas à saúde da população.
Mandetta deixa registrado na correspondência que as orientações e recomendações do Ministério de Saúde, pasta que comandava à época, embora embasadas em especialistas e autoridades da saúde, não foram seguidas nem receberam apoio do governo.
Com esse documento, o ex-ministro da Saúde dribla a tentativa do governo Bolsonaro, de colocá-lo na posição de “cúmplice” ou co-partícipe da estratégia inicial de condução da pandemia.
Ao mesmo tempo, Mandetta formaliza um fato amplamente conhecido, mas agora comprovado sob o crivo de uma comissão parlamentar de inquérito: Bolsonaro foi orientado em relação às medidas adequadas ao enfrentamento da COVID-19, mas decidiu fazer o contrário.
Este é um fato que abraça a acusação que paira sobre o governo Bolsonaro: adotou deliberadamente e com dolo a tese da imunidade de rebanho.
Casos não faltam e foram despejados por senadores da oposição: estimulou aglomerações; recorreu ao Supremo Tribunal Federal para tentar suspender ações de prefeitos e governadores no enfrentamento da doença; lançou a população contra estes, porque adotaram medidas restritivas.
A oposição quer demonstrar que Bolsonaro incentivou as pessoas a se expor ao vírus, sob a falsa segurança de que disporiam de uma espécie de “kit milagroso” – o chamado tratamento precoce, à base de cloroquina.
Sobre esta, um capítulo à parte. Mandetta reiterou o que já havia abordado em seu livro: foi-lhe apresentada, em reunião no Palácio do Planalto, uma proposta de decreto presidencial para alterar a bula da hidroxicloroquina a fim de que o medicamento pudesse ser receitado para tratar a COVID-19.
Mandetta voltou a afirmar que Bolsonaro mantinha um assessoramento paralelo sobre a pandemia. Embora não tenha detalhado em seu depoimento na CPI, em entrevista ao Estado de Minas, em 6 de março de 2021, Mandetta se estendeu sobre esse tema.
Segundo ele, a mesma ideologia de grupos internacionais que patrocinam mundo afora a reemergência do neonazismo e de outros grupos de extrema direita – que propõem a ruptura da ordem democrática institucional e o desmanche do multilateralismo – fundamenta parte do governo de Jair Bolsonaro.
“O Brasil, hoje, é administrado pela internet e por pessoas que não fazem parte do governo. O Brasil está sendo administrado pelo algoritmo”, afirmou ele ao EM.
No enfrentamento da COVID-19 não foi diferente.
Não menos grave, as afirmações de Mandetta que demonstram que foi um posicionamento ideológico, e não focado no combate ao novo coronavírus, que norteou o comportamento do presidente da República.
Segundo Mandetta, o comportamento do ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo e dos três filhos mais velhos do presidente dificultaram as negociações de insumos com a China, dos quais o Brasil era dependente.
O governo Bolsonaro está preocupado. Por ora, conseguiu adiar o depoimento do ex-ministro Eduardo Pazuello, que alegou ter tido contato com pessoas contaminadas pela COVID-19.
Tenta, como pode mobilizar sua base minoritária na CPI, que não trouxe argumentos novos para além dos velhos fatos alternativos que frequentam as redes sociais bolsonaristas.
Procura também colar a pecha de “CPI política”, para desqualificar um desfecho, que antevê, não lhe será favorável.
Um grupo de estrategistas, entre os quais o ministro das Comunicações, Fábio Faria, municia senadores com perguntas. Uma delas, inadvertidamente, foi enviada por este a Mandetta, que fez questão de pontuar o fato, quando o mesmo questionamento lhe foi feito pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI).
A CPI mostrou a que veio: vai investigar as ações e omissões no enfrentamento ao coronavírus, constituindo um ponto de inflexão em narrativas que justificam o macabro marcador das mortes por COVID-19 no Brasil – que, até 1º de julho, segundo projeções do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME) da Universidade de Washington, terá ceifado a vida de 501.505 brasileiros no melhor dos cenários, 571.176 mil no pior deles.
Mandetta teve um longo dia – começou a depor no meio da manhã de terça-feira e somente terminou no início da noite. Mas, pelo que afirmou o ex-ministro, o governo Bolsonaro terá longas semanas pela frente.
Mandetta deixa registrado na correspondência que as orientações e recomendações do Ministério de Saúde, pasta que comandava à época, embora embasadas em especialistas e autoridades da saúde, não foram seguidas nem receberam apoio do governo.
Com esse documento, o ex-ministro da Saúde dribla a tentativa do governo Bolsonaro, de colocá-lo na posição de “cúmplice” ou co-partícipe da estratégia inicial de condução da pandemia.
Ao mesmo tempo, Mandetta formaliza um fato amplamente conhecido, mas agora comprovado sob o crivo de uma comissão parlamentar de inquérito: Bolsonaro foi orientado em relação às medidas adequadas ao enfrentamento da COVID-19, mas decidiu fazer o contrário.
Este é um fato que abraça a acusação que paira sobre o governo Bolsonaro: adotou deliberadamente e com dolo a tese da imunidade de rebanho.
Casos não faltam e foram despejados por senadores da oposição: estimulou aglomerações; recorreu ao Supremo Tribunal Federal para tentar suspender ações de prefeitos e governadores no enfrentamento da doença; lançou a população contra estes, porque adotaram medidas restritivas.
A oposição quer demonstrar que Bolsonaro incentivou as pessoas a se expor ao vírus, sob a falsa segurança de que disporiam de uma espécie de “kit milagroso” – o chamado tratamento precoce, à base de cloroquina.
Sobre esta, um capítulo à parte. Mandetta reiterou o que já havia abordado em seu livro: foi-lhe apresentada, em reunião no Palácio do Planalto, uma proposta de decreto presidencial para alterar a bula da hidroxicloroquina a fim de que o medicamento pudesse ser receitado para tratar a COVID-19.
Mandetta voltou a afirmar que Bolsonaro mantinha um assessoramento paralelo sobre a pandemia. Embora não tenha detalhado em seu depoimento na CPI, em entrevista ao Estado de Minas, em 6 de março de 2021, Mandetta se estendeu sobre esse tema.
Segundo ele, a mesma ideologia de grupos internacionais que patrocinam mundo afora a reemergência do neonazismo e de outros grupos de extrema direita – que propõem a ruptura da ordem democrática institucional e o desmanche do multilateralismo – fundamenta parte do governo de Jair Bolsonaro.
“O Brasil, hoje, é administrado pela internet e por pessoas que não fazem parte do governo. O Brasil está sendo administrado pelo algoritmo”, afirmou ele ao EM.
No enfrentamento da COVID-19 não foi diferente.
Não menos grave, as afirmações de Mandetta que demonstram que foi um posicionamento ideológico, e não focado no combate ao novo coronavírus, que norteou o comportamento do presidente da República.
Segundo Mandetta, o comportamento do ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo e dos três filhos mais velhos do presidente dificultaram as negociações de insumos com a China, dos quais o Brasil era dependente.
O governo Bolsonaro está preocupado. Por ora, conseguiu adiar o depoimento do ex-ministro Eduardo Pazuello, que alegou ter tido contato com pessoas contaminadas pela COVID-19.
Tenta, como pode mobilizar sua base minoritária na CPI, que não trouxe argumentos novos para além dos velhos fatos alternativos que frequentam as redes sociais bolsonaristas.
Procura também colar a pecha de “CPI política”, para desqualificar um desfecho, que antevê, não lhe será favorável.
Um grupo de estrategistas, entre os quais o ministro das Comunicações, Fábio Faria, municia senadores com perguntas. Uma delas, inadvertidamente, foi enviada por este a Mandetta, que fez questão de pontuar o fato, quando o mesmo questionamento lhe foi feito pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI).
A CPI mostrou a que veio: vai investigar as ações e omissões no enfrentamento ao coronavírus, constituindo um ponto de inflexão em narrativas que justificam o macabro marcador das mortes por COVID-19 no Brasil – que, até 1º de julho, segundo projeções do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME) da Universidade de Washington, terá ceifado a vida de 501.505 brasileiros no melhor dos cenários, 571.176 mil no pior deles.
Mandetta teve um longo dia – começou a depor no meio da manhã de terça-feira e somente terminou no início da noite. Mas, pelo que afirmou o ex-ministro, o governo Bolsonaro terá longas semanas pela frente.