Jornal Estado de Minas

NO SENADO

Análise: Queiroga tentou se equilibrar em terreno pantanoso

Para não se indispor com o problemático chefe, mas também evitando entrar para o rol do negacionismo – o que definitivamente arruinará a reputação de qualquer médico minimamente sério – o quarto ministro da Saúde do governo Bolsonaro, terceiro a depor na CPI da Pandemia, se equilibrou de forma vacilante em terreno pantanoso.





 

 

Sem querer endossar a hidroxicloroquina – já banida dos protocolos de todos os organismos científicos e internacionais para o tratamento da COVID-19 – mas sem desejar confrontar as crendices de Bolsonaro, Queiroga se omitiu, deixando claro: quem faz a política de enfrentamento à COVID no Brasil é o presidente da República. A CPI, já entendeu isso. Resta saber, poderá convocar Jair Bolsonaro? Juridicamente, será esta uma possibilidade, ainda que sem precedentes na história deste país?

 

Em todas as questões envolvendo o uso da hidroxicloroquina, a demora do governo em se mexer para comprar as vacinas, o posicionamento presidencial em relação ao distanciamento social e ao uso de máscaras, Queiroga sacou da cartola a resposta padrão ao estilo: “Meu papel não é ser crítico das ações do presidente da República ou de outros integrantes do governo".
 
E encontrou na CPI, como de resto os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e o próprio Nelson Teich, senadores da base bolsonarista que fizeram proselitismo com a hidroxicloroquina e a ivermectina, alegando uma “divisão” entre médicos. Mas receberam chapoletada cirúrgicas, principalmente do senador Otto Alencar (PSD-BA), de longe o mais preparado para inquirir as testemunhas.

A questão da hidroxicloroquina é um ponto importante sob investigação da CPI. Afinal, desde junho do ano passado que já havia se pacificado entre órgãos de pesquisa científica de respeitabilidade, que o medicamento não tem eficácia no tratamento da COVID-19.




 
Mesmo assim, o presidente da República insiste na toada e sob a gestão do ex-ministro Eduardo Pazuello, o Ministério da Saúde implementou a distribuição dos medicamentos sem comprovação, conhecidos como "tratamento precoce", e incluiu a cloroquina no protocolo de tratamento do SUS.

Ou seja, em vez de privilegiar a aquisição de vacinas, promoveu a cloroquina. Daí a insistência da CPI em torno do dito fármaco.

Questionado novamente pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) se concordava com o uso do medicamento, Queiroga desconversou: "Está sendo elaborado um protocolo e eu sou última instância decisória, se eu manifesto uma opinião aqui eu invalido a decisão."

O ministro também respondeu que ele não autorizou a distribuição de cloroquina durante sua gestão e que não sabe se o Ministério da Saúde tem distribuído o medicamento.



Ele tampouco soube responder o senador Randolfe Rodrigues (AP-Rede), quando este lhe perguntou se encontrou 4 milhões de comprimidos de cloroquina estocados no ministério quando assumiu.

"Não sei. Não me deparei para verificar os estoques deste fármaco", disse.
 
Para desviar o foco da artilharia, deu a notícia: o Ministério da Saúde publicará em edição extra do Diário Oficial da União, uma dispensa de licitação para a compra de 100 milhões de doses de vacinas para COVID-19 da farmacêutica americana Pfizer, ao valor total de R$ 6,6 bilhões.

Sobre qualquer outro tema, sobraram evasivas. Disse que não foi consultado por Bolsonaro sobre a ideia de um decreto contra medidas restritivas de estados e municípios contra a COVID-19.

E garantiu ter autonomia, algo que nem Nelson Teich nem Mandetta encontram à frente da pasta. Enfim, Queiroga rodopiou, balançou, mas agarrado ao emprego, empurrou o “testemunho”. Acrescentou pouco. Da próxima vez, melhor chamar o chefe.

audima