Durante um bate-boca na sessão desta quarta-feira, 12, da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, envolvendo o senador Fernando Bezerra (MDB-BE), o presidente do colegiado, senador Omar Aziz (PSD-AM) e o relator Renan Calheiros (MDB-AL), foi levantada a possibilidade de investigação do orçamento secreto do governo revelado em matéria exclusiva do Estadão. "Eu acho que essa é uma investigação pertinente que haja aqui" afirmou Renan. O despeito do assunto não ser relacionado ao combate à covid, o tema vem ganhando destaque no palco dessa comissão.
A sugestão, que partiu de Renan Calheiros, veio após o início de uma discussão entre os parlamentares envolvendo a pressão de integrantes governistas do colegiado para o início das investigações dos repasses federais feitos a Estados e municípios.
Ao defender a investigação dos repasses, o senador Fernando Bezerra citou que o governo teria desembolsado R$ 173 bilhões de reais de recursos, mas, antes de terminar seu ponto, Bezerra foi interrompido por Aziz, que cobrou consistência nos números apresentados pelos parlamentares.
De acordo com Aziz, os integrantes da CPI que cobram a investigação dos repasses a Estados e municípios precisam "chegar num acordo" sobre qual teria sido o volume de recursos repassados pelo Executivo, citando que o senador Marcos Rogério (DEM-RO) já teria falado de um montante de cerca R$ 200 bilhões de reais, e que a todo momento um senador "diz um número"."Qual é o número real?", questionou Aziz.
No meio da discussão, Calheiros afirmou que a discussão não ia "chegar a lugar nenhum", e citou a investigação do Estadão sobre o orçamento secreto como uma investigação pertinente de existir no colegiado. Já afastado do microfone, é possível ouvir Calheiros advogar a favor do tema dizendo que essa investigação sim "teria fato determinante" para ser analisado. Bezerra acusou Calheiros de tentar fugir de uma situação trazendo outra, acusando-o de tentar ser um "relator universal" de todos os fatos da república.
Conforme revelou o Estadão, um esquema montado pelo presidente Jair Bolsonaro, no final do ano passado, para aumentar sua base de apoio no Congresso criou um orçamento paralelo de R$ 3 bilhões em emendas, boa parte delas destinada à compra de tratores e equipamentos agrícolas por preços até 259% acima dos valores de referência fixados pelo governo. O caso já está sendo chamado de "tratoraço".