A insistência do presidente Jair Bolsonaro em testar a candidatura do ministro Tarcísio de Freitas tem causado desconforto na equipe da Infraestrutura. Em conversas com amigos, Tarcísio disse mais de uma vez que não quer concorrer ao governo de São Paulo, hoje comandado por João Doria (PSDB), desafeto de Bolsonaro, nem a outro cargo executivo, em 2022.
Mesmo assim, o presidente costuma usar uma palavra com forte peso na hierarquia militar quando se refere a esse plano, na tentativa de convencer o ministro. "É uma missão", diz. Foi assim também no discurso feito por ele, na sexta-feira passada, para inaugurar uma ponte em Rondônia.
Ali, o presidente afirmou que o ministro da Infraestrutura, ex-capitão do Exército, tem uma "missão" para cumprir "antes de 2026". O comentário foi feito em resposta aos que pediam para Tarcísio ser candidato ao Palácio do Planalto, após eventual segundo mandato de Bolsonaro. "Ele tem uma missão antes e vai cumprir essa missão antes, pode ter certeza", insistiu o presidente. Ontem, ao falar com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro voltou ao assunto. "Eu estou a fim de ficar livre do Tarcísio, mandá-lo para São Paulo. Algum paulista aí?" disse.
Auxiliares de Tarcísio disseram, porém, que essas apostas eleitorais não lhe agradam. A avaliação de pessoas próximas ao ministro é a de que esse movimento pode dificultar os trabalhos da pasta, porque Tarcísio precisa de uma interlocução técnica para tratar dos investimentos em obras nos Estados.
Essa "imunidade" seria necessária tanto para negociações políticas como para barrar indicações ao ministério e suas autarquias, como o cobiçado Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
Um exemplo de desafio que a Infraestrutura enfrenta hoje é a renovação do contrato de concessão da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA). O traçado é longo e corta sete Estados brasileiros: Minas Gerais, Espírito Santo, Rio, Sergipe, Goiás, Bahia e São Paulo.
Os governos travam discussões com o ministério sobre para onde deve ir o dinheiro que a empresa VLI pagará para renovar a operação. Nessa empreitada, Tarcísio precisa convencer que os critérios sobre o destino da verba são técnicos. Aspirações políticas não ajudam o diálogo.
Outras possíveis candidaturas do entorno de Bolsonaro ao Palácio dos Bandeirantes têm sido citadas, como a do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, a do deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP) e do presidente da Fiesp, Paulo Skaf.
Bolsonaro não foi o primeiro a jogar Tarcísio em especulações eleitorais. O ministro já foi citado para disputar o governo do Rio, do Distrito Federal e de Goiás. Nascido no Rio, Tarcísio tem Brasília como seu domicílio eleitoral e já avisou que não pretende mudar. Nos últimos tempos, outra vaga levantada para o engenheiro, de 45 anos, foi a de candidato a vice na chapa de Bolsonaro, em 2022. Ele diz que essa possibilidade nunca esteve no seu radar.
Procurado, o Ministério da Infraestrutura afirmou em nota que o ministro Tarcísio "não é filiado a nenhum partido político e não se apresenta como candidato para qualquer cargo eletivo em 2022". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.