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Estado de Minas CPI da COVID

Omar Aziz: 'Pazuello não tem compromisso com quem está no poder'

Presidente da CPI diz que ex-ministro da Saúde, que está amparado por habeas corpus concedido pelo STF, deve falar somente a verdade no depoimento


15/05/2021 20:26 - atualizado 15/05/2021 21:36

Omar Aziz diz que respeitará o habeas corpus concedido ao ex-ministro Eduardo Pazuello(foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)
Omar Aziz diz que respeitará o habeas corpus concedido ao ex-ministro Eduardo Pazuello (foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

O presidente da CPI da COVID, senador Omar Aziz (PSD-AM), disse neste sábado (15/5) que respeitará o habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que dá ao general o direito de ficar calado no interrogatório de quarta-feira (19/5), quando julgar necessário. No entanto, o parlamentar pediu para que o ex-chefe da pasta fale somente a verdade na sessão.

“Uma das bases de pedido do habeas corpus conseguido pelo Pazuello é a proteção. Mas eu aconselho a todos que forem à CPI falarem a verdade. O ministro Pazuello é um general de carreira no Exército e tem compromisso com a nação brasileira. Ele não tem compromisso com quem está no poder ou está ali presidindo o Estado”, afirmou o senador, em entrevista à Globonews
 
A decisão do STF, assinada pelo ministro Ricardo Lewandowski, atendeu ao pedido da Advocacia-Geral da União (AGU). O órgão recorreu à Suprema Corte para que Pazuello fosse autorizado a não responder perguntas que possam, de alguma forma, incriminá-lo. Mas ele continua obrigado a responder aos demais questionamentos.  

Segundo o presidente da CPI, um dos mistérios a ser solucionados com o depoimento de Pazuello é a recusa do governo brasileiro em comprar a vacina Pfizer em setembro.

“Vamos respeitar a decisão do Supremo e procurar a verdade não só através do ministro Pazuello, mas através de um conjunto de fatores. Era importante saber do ministro porque ele não comprou vacina da Pfzer em setembro, já que o governo recebeu esse documento”, afirmou.

“Pazuello era o responsável por negociar as vacinas. E quem negociava era o Fábio Wajngarten. Todos nós sabemos disso”, acrescentou.
 
 

Omar Aziz ainda afirmou que o Brasil teve uma série de erros durante a pandemia, mas disse que não é possível ainda responsabilizar ninguém.

“Houve erro na condução, todos nós sabemos. Essa questão de apostar na imunidade de rebanho e Kit COVID não salvou ninguém. E nunca houve compromisso da compra da vacina. Queremos ir a fundo para ver o porquê disso. Mas não podemos responsabilizar nem prejulgar ninguém.”

Ele também disse que ex-ministros da Saúde “mentiram ou omitiram” em seus depoimentos e deu exemplo de Luiz Henrique Mandetta, primeiro a ser ouvido na CPI.

“Quando o Mandetta esteve lá, ele disse que não se lembrava quem estava na sala quando apareceu o famoso decreto para colocar a cloroquina na bula. Disse que estava lá o Jorge Ramos. Não, estava lá o Braga Neto, que foi ministro com ele, e a doutora Yamaguchi, que ele sabe quem é. Mas na CPI ele omitiu ou mentiu. E tem outras situações.”
 

O que é uma CPI?

As comissões parlamentares de inquérito (CPIs) são instrumentos usados por integrantes do Poder Legislativo (vereadores, deputados estaduais, deputados federais e senadores) para investigar fato determinado de grande relevância ligado à vida econômica, social ou legal do país, de um estado ou de um município. Embora tenham poderes de Justiça e uma série de prerrogativas, comitês do tipo não podem estabelecer condenações a pessoas.

Para ser instalado no Senado Federal, uma CPI precisa do aval de, ao menos, 27 senadores; um terço dos 81 parlamentares. Na Câmara dos Deputados, também é preciso aval de ao menos uma terceira parte dos componentes (171 deputados).

Há a possibilidade de criar comissões parlamentares mistas de inquérito (CPMIs), compostas por senadores e deputados. Nesses casos, é preciso obter assinaturas de um terço dos integrantes das duas casas legislativas que compõem o Congresso Nacional.

O que a CPI da COVID investiga?


O presidente do colegiado é Omar Aziz (PSD-AM). O alagoano Renan Calheiros (MDB) é o relator. O prazo inicial de trabalho são 90 dias, podendo esse período ser prorrogado por mais 90 dias.



Saiba como funciona uma CPI

Após a coleta de assinaturas, o pedido de CPI é apresentado ao presidente da respectiva casa Legislativa. O grupo é oficialmente criado após a leitura em sessão plenária do requerimento que justifica a abertura de inquérito. Os integrantes da comissão são definidos levando em consideração a proporcionalidade partidária — as legendas ou blocos parlamentares com mais representantes arrebatam mais assentos. As lideranças de cada agremiação são responsáveis por indicar os componentes.

Na primeira reunião do colegiado, os componentes elegem presidente e vice. Cabe ao presidente a tarefa de escolher o relator da CPI. O ocupante do posto é responsável por conduzir as investigações e apresentar o cronograma de trabalho. Ele precisa escrever o relatório final do inquérito, contendo as conclusões obtidas ao longo dos trabalhos. 

Em determinados casos, o texto pode ter recomendações para evitar que as ilicitudes apuradas não voltem a ocorrer, como projetos de lei. O documento deve ser encaminhado a órgãos como o Ministério Público e a Advocacia-Geral da União (AGE), na esfera federal.

Conforme as investigações avançam, o relator começa a aprimorar a linha de investigação a ser seguida. No Congresso, sub-relatores podem ser designados para agilizar o processo.

As CPIs precisam terminar em prazo pré-fixado, embora possam ser prorrogadas por mais um período, se houver aval de parte dos parlamentares

O que a CPI pode fazer?

  • chamar testemunhas para oitivas, com o compromisso de dizer a verdade
  • convocar suspeitos para prestar depoimentos (há direito ao silêncio)
  • executar prisões em caso de flagrante
  • solicitar documentos e informações a órgãos ligados à administração pública
  • convocar autoridades, como ministros de Estado — ou secretários, no caso de CPIs estaduais — para depor
  • ir a qualquer ponto do país — ou do estado, no caso de CPIs criadas por assembleias legislativas — para audiências e diligências
  • quebrar sigilos fiscais, bancários e de dados se houver fundamentação
  • solicitar a colaboração de servidores de outros poderes
  • elaborar relatório final contendo conclusões obtidas pela investigação e recomendações para evitar novas ocorrências como a apurada
  • pedir buscas e apreensões (exceto a domicílios)
  • solicitar o indiciamento de envolvidos nos casos apurados

O que a CPI não pode fazer?

Embora tenham poderes de Justiça, as CPIs não podem:

  • julgar ou punir investigados
  • autorizar grampos telefônicos
  • solicitar prisões preventivas ou outras medidas cautelares
  • declarar a indisponibilidade de bens
  • autorizar buscas e apreensões em domicílios
  • impedir que advogados de depoentes compareçam às oitivas e acessem
  • documentos relativos à CPI
  • determinar a apreensão de passaportes

A história das CPIs no Brasil

A primeira Constituição Federal a prever a possibilidade de CPI foi editada em 1934, mas dava tal prerrogativa apenas à Câmara dos Deputados. Treze anos depois, o Senado também passou a poder instaurar investigações. Em 1967, as CPMIs passaram a ser previstas.

Segundo a Câmara dos Deputados, a primeira CPI instalada pelo Legislativo federal brasileiro começou a funcionar em 1935, para investigar as condições de vida dos trabalhadores do campo e das cidades. No Senado, comitê similar foi criado em 1952, quando a preocupação era a situação da indústria de comércio e cimento.

As CPIs ganharam estofo e passaram a ser recorrentes a partir de 1988, quando nova Constituição foi redigida. O texto máximo da nação passou a atribuir poderes de Justiça a grupos investigativos formados por parlamentares.

CPIs famosas no Brasil

1975: CPI do Mobral (Senado) - investigar a atuação do sistema de alfabetização adotado pelo governo militar

1992: CPMI do Esquema PC Farias - culminou no impeachment de Fernando Collor

1993: CPI dos Anões do Orçamento (Câmara) - apurou desvios do Orçamento da União

2000: CPIs do Futebol - (Senado e Câmara, separadamente) - relações entre CBF, clubes e patrocinadores

2001: CPI do Preço do Leite (Assembleia de MG e outros Legislativos estaduais, separadamente) - apurar os valores cobrados pelo produto e as diretrizes para a formulação dos valores

2005: CPMI dos Correios - investigar denúncias de corrupção na empresa estatal

2005: CPMI do Mensalão - apurar possíveis vantagens recebidas por parlamentares para votar a favor de projetos do governo

2006: CPI dos Bingos (Câmara) - apurar o uso de casas de jogo do bicho para crimes como lavagem de dinheiro

2006: CPI dos Sanguessugas (Câmara) - apurou possível desvio de verbas destinadas à Saúde

2015: CPI da Petrobras (Senado) - apurar possível corrupção na estatal de petróleo

2015: Nova CPI do Futebol (Senado) - Investigar a CBF e o comitê organizador da Copa do Mundo de 2014

2019: CPMI das Fake News - disseminação de notícias falsas na disputa eleitoral de 2018

2019: CPI de Brumadinho (Assembleia de MG) - apurar as responsabilidades pelo rompimento da barragem do Córrego do Feijão
 


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