Políticos aliados e de oposição lamentaram a morte neste domingo (16/5) do prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), após uma longa batalha contra o câncer. Em comum na maioria das mensagens de pesar está o reconhecimento à coragem com que o prefeito de 41 anos enfrentou a doença, e elogios à decisão dele de continuar a trabalhar durante o tratamento.
"Lamento muito a morte do prefeito Bruno Covas. Tivemos uma convivência franca e democrática. Minha solidariedade aos seus familiares e amigos neste momento difícil. Vá em paz, Bruno!", escreveu no Twitter Guilherme Boulos (PC do B), o principal adversário de Covas na eleição para Prefeitura de SP em 2020.
Lamento muito a morte do prefeito Bruno Covas. Tivemos uma convivência franca e democrática. Minha solidariedade aos seus familiares e amigos neste momento difícil. Vá em paz, Bruno!
— Guilherme Boulos (@GuilhermeBoulos) May 16, 2021"A força de Bruno Covas vem do seu exemplo e do seu caráter. Foi leal à família, aos amigos, ao povo de São Paulo e aos filiados do seu partido, o PSDB. Sua garra nos inspira e seu trabalho nos motiva", disse o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que também destacou a "serenidade" e "sensibilidade" de Covas.
"Voz sensata, sorriso largo e bom coração. Bruno Covas era esperança (...) Você foi e coninuará sendo para todos nós um eterno exemplo", escreveu Doria em nota divulgada neste domingo.
O presidente do PSDB, Bruno Araújo, chamou Bruno Covas de "guerreiro" e disse que a morte dele é uma "perda imensa". "Guerreiro Jovem. Jovem Guerreiro. Preparado para servir a vida pública, inspirador, decente, bem humorado, amigo, pai amoroso. Na escassez de grandes quadros na vida pública nacional é uma perda imensa."
Ex-candidato à Presidência da República, Ciro Gomes destacou a dedicação de Bruno Covas, que continuou trabalhando mesmo durante o tratamento contra o câncer.
"Lamento o falecimento do jovem prefeito de São Paulo, Bruno Covas. Trabalhador e muito dedicado ao povo paulistano, levou com brilhantismo a marca de seu avô, meu amigo Mario Covas, para a administração da cidade. Meus sentimentos aos familiares e amigos."
Já a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) disse que o Brasil perde "um dos seus promissores líderes políticos.". "Quero manifestar meus sentimentos ao filho Tomás e a toda família Covas, além dos militantes e dirigentes do PSDB."
Morte foi às 8h30
O prefeito de SP morreu às 8h20 depois de uma longa batalha contra o câncer. Ele tinha 41 anos e havia descoberto a doença em 2019. Ele deixa o filho Tomás, de 15 anos.
Diante de uma piora do seu quadro de saúde, Covas estava internado no Hospital Sírio-Libanês desde o último dia 2 de maio. Por conta do tratamento, Bruno Covas tinha feito um pedido para se licenciar da prefeitura durante 30 dias.
"O prefeito de São Paulo Bruno Covas faleceu hoje às 08:20 em decorrência de um câncer da transição esôfago gástrica, com metástase ao diagnóstico, e suas complicações após longo período de tratamento. Ele estava internado no Hospital Sírio-Libanês desde o dia 2 de maio, sob os cuidados das equipes médicas coordenadas pelo Prof. Dr. David Uip, Dr. Artur Katz, Dr. Tulio Eduardo Flesch Pfiffer, Prof. Dr. Raul Cutait e Prof. Dr. Roberto Kalil", diz nota divulgada pela Prefeitura de São Paulo.
'Quadro irreversível'
Às 19h30 da sexta (14/5) a equipe médica do hospital Sírio Libanês divulgou boletim informando que o quadro clínico de covas era considerado irreversível e ele estava recebendo medicamentos analgésicos e sedativos. "Neste momento, encontra-se no quarto acompanhado de seus familiares", dizia a nota.
O advogado e economista assumiu a prefeitura de São Paulo em 2018, após a renúncia do então prefeito João Doria, de quem era vice, e foi reeleito em 2020. Com sua morte, o vice-prefeito Ricardo Nunes assume a prefeitura da cidade.
Neto do ex-governador de São Paulo Mário Covas (1930-2001), Bruno Covas era envolvido na política desde criança.
Nascido em Santos, no litoral paulista, foi morar com o avô na capital durante o ensino médio e aos 18 anos se filiou ao PSDB, partido do qual Mário Covas foi um dos fundadores. Depois se tornou um dos principais líderes da juventude do partido.
Antes de ser prefeito, Bruno Covas foi deputado estadual, deputado federal e secretário estadual do Meio Ambiente. Era considerado um político moderado de centro-direita.
Político de carreira
Covas sempre enfatizou que tinha orgulho de ser político e que cursou direito na Faculdade de Direito da USP e economia na PUC (Pontifícia Universidade Católica) porque seriam cursos que o ajudariam na administração pública.
No entanto, sua trajetória nos últimos anos esteve muito ligada à de João Doria, que se elegeu com o discurso antipolítica, dizendo que até então não tinha experiência na área e se apresentando como "gestor", e não como político.
Covas foi um dos nomes do PSDB que ficaram do lado de Doria tanto em apoio à sua candidatura à prefeitura quanto quando seu desejo de se tornar governador, em 2018 — que criou uma cisão no PSDB. Geraldo Alckmin, um dos apoiadores da candidatura de Doria para prefeito, defendia o nome de Márcio França (PSB) como seu sucessor no governo do Estado.
Covas ficou ao lado de Doria mesmo já tendo sido próximo de Alckmin — foi secretário do Meio Ambiente em seu governo. Foi no cargo, em 2011, que enfrentou um dos momentos mais tensos em sua carreira.
Ele disse ter recebido, quando deputado estadual, oferta de propina por um prefeito em troca de emendas parlamentares favoráveis. Depois, afirmou que a declaração se tratava de um exemplo hipotético — mas viveu um período de intenso escrutínio pela declaração.
Como vice-prefeito de Doria, Covas acumulou também o cargo de chefe da poderosa Secretaria das Prefeituras Regionais. Mas ficou na função por menos de um ano: Doria o substituiu por Cláudio Carvalho, ex-executivo da construtora Cyrela. Bruno foi para o cargo de Secretário-Chefe da Casa Civil.
Segundo informações de bastidores, esta transição teria resultado de um desgaste entre prefeito e vice. Ambos negam a existência de animosidades, mas, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, Bruno reconheceu que houve "divergências de entendimento em relação a algumas questões" com Doria.
Ele também não hesitou em responder à reportagem se sua prefeitura seria mais parecida com a gestão de Mário Covas ou João Doria.
"Mário Covas. Em função da convivência com ele, sou um social-democrata que entende que o Estado não deve participar de tudo, mas precisa dar atenção máxima a educação, saúde e segurança. Doria tem uma posição mais liberal, mas tudo é relativo", afirmou ao jornal.
Mas foi a influência de Covas dentro da juventude do PSDB um dos fatores que levaram esse setor do partido a pressionar pela aprovação da candidatura de Doria ao governo do Estado.
Doria não esteve muito presente na campanha de Covas à reeleição — na época o governador contava com índices altos de rejeição. Quando questionado, Covas respondeu diversas vezes: "o candidato sou eu".
Vida pessoal
Covas tinha um filho, Tomás, de 15 anos. Já foi casado, divorciou-se em 2014 e estava oficialmente solteiro — dizia ser "um homem casado com a cidade de São Paulo".
Em 2017 mudou radicalmente de visual: perdeu mais de 15 quilos, deixou a barba crescer e raspou o cabelo.
Antes da prefeitura, conciliava uma rotina de dieta rigorosa e frequentes exercícios físicos.
Em seus últimos anos, no entanto, o cargo de prefeito, batalha contra o câncer e a pandemia modificaram radicalmente esse rotina.
Gestão como prefeito
Durante a epidemia de covid-19 em 2020, Covas chegou a se mudar para a sede da prefeitura para continuar trabalhando em meio ao lockdown no Estado.
Em junho, foi diagnosticado com covid-19, mas conseguiu se recuperar da doença sem sequelas, apesar de seu estado de saúde na época, quando já fazia tratamento contra o câncer.
No fim do ano, pouco tempo depois de ser reeleito e em meio à crise gerada pela pandemia, Covas sancionou um aumento de 46% em seu próprio salário e no salário de secretários.
À época, o político afirmou em entrevista à GloboNews que aprovou o aumento para elevar o teto do funcionalismo público na cidade que, segundo ele, estaria defasado.
"Durante este período de oito anos, a inflação foi de 60% a 100%, dependendo do valor que é considerado. O salário mínimo aumentou, neste período, 68%. O valor do salário dos professores na rede municipal aumentou 80%. Então, hoje o teto está defasado. É um teto de R$ 24 mil", disse na ocasião.
Em 2021, sua presença no estádio do Maracanã, no Rio, na final da Copa Libertadores gerou críticas por se tratar de uma aglomeração.
O político se defendeu dizendo que ver uma final da competição era um sonho que tinha com o filho.
"Depois de tantas incertezas sobre a vida, a felicidade de levar o filho ao estádio tomou uma proporção diferente para mim", disse ele, que chamou as críticas à sua atitude de "lacração da internet".
Também gerou protestos em 2021 a decisão de Covas de retirar a gratuidade no transporte público de idosos entre 60 e 65 anos, como parte da "revisão de políticas para essa faixa etária" e modo de economizar em subsídios.
Batalha contra o câncer
Covas lutava contra o câncer desde 2019, quando foi internado no Hospital Sírio-Libanês para investigar um problema na perna e acabou descobrindo um adenocarcinoma, um tipo de câncer maligno, situado na região da cárdia, na transição do esôfago para o estômago.
Quando descoberto, o câncer já estava com metástase em outras áreas do corpo. A metástase ocorre quando uma lesão inicial migra por via sanguínea ou linfática para outros órgãos.
Ao longo dos anos, fez quimioterapia, radioterapia e imunoterapia. Ele chegou a responder ao tratamento, mas teve uma piora no quadro no início deste ano.
Seus médicos descobriram em abril novos pontos de câncer no fígado e nos ossos do prefeito e ele precisou voltar a fazer sessões de quimioterapia e imunoterapia.
Em 16 de abril, Covas foi diagnosticado com líquido nos pulmões e no abdômen, problema desencadeado pela presença dos nódulos no fígado. Ele também passou a receber uma suplementação nutricional para se fortalecer para o tratamento.
O líquido estava entre as pleuras, tecidos que revestem os pulmões e o tórax, causando incômodo na função respiratória. Uma drenagem foi iniciada no dia seguinte, o que impediu que o político tivesse alta para continuar o novo tratamento oncológico em casa.
Mesmo com a piora do quadro, ele seguiu despachando do hospital.