Brasília – Construir uma terceira para a eleição presidencial do ano que vem virou grande desafio para os adversários do presidente Jair Bolsonaro e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por causa da volta da polarização com a retomada dos direitos políticos do petista.
“A questão fundamental é saber quem vai ser o candidato da terceira via ou se nós vamos ter uma terceira via efetivamente competitiva. Temos hoje Ciro Gomes tentando construir essa ponte, temos Doria, Mandetta, assim como o próprio Huck, que é especulado nessas questões. À medida que se tenha esses dois elementos de fato, poderemos começar a traçar um panorama mais exato da conjuntura. É importante lembrar que eleição é uma fotografia de um momento e, nesse aspecto, ainda falta muito tempo para o processo eleitoral. É preciso ter cautela”, observa Creomar de Souza, da Consultoria Dharma.
O cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie Rodrigo Prando, por sua vez, afirma que o cenário revelado pelo instituto DataFolha, com Lula à frente de Bolsonaro, permite algumas conclusões.
“Essa pesquisa joga um balde de água fria não apenas nos bolsonaristas que tinham, há seis meses, quase uma garantia absoluta da reeleição de Bolsonaro, mas, especialmente, nessa terceira via ou nesse polo democrático. Qualquer candidatura que queira escapar da polarização lulismo e bolsonarismo está neste momento seriamente comprometida. Mas até 2022, há uma estrada a ser percorrida e as questões podem mudar”, alerta.
Prando destaca a situação de políticos que, apesar da experiência e visibilidade, estão em desvantagem na preferência do eleitorado.
“Essa distância incomoda especialmente Ciro e Doria porque percebem que a musculatura eleitoral deles é bem menor. Lula ainda tem problemas jurídicos a serem enfrentados. É pouco provável que alguém no campo da Justiça consiga outra condenação nos moldes da Lava- Jato, mas não se pode descartar. Tem o resultado da pandemia, o número de mortos, economia em crise e resultados da CPI que estão atacando o cerne do bolsonarismo de forma muito forte. Por outro lado, a terceira via está acuada e, nesse cenário, não possui grandes chances”, acrescenta.
O especialista observa as dificuldades dos nomes que representariam o centro. Luciano Huck e Sergio Moro, na avaliação de Prando, não teriam condições de entrar numa disputa que exige tarimba e preparo político.
“Nenhum dos dois tem. Mandetta tem pegada para luta política, mas ainda não reúne condições de se viabilizar com musculatura eleitoral. Em relação ao governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e ao senador Tasso Jereissati, também vejo pouca chance. Os nomes seriam Doria e Ciro”, acredita. Mas Prando também identifica problemas nesses últimos.
“Esses dois veem cada vez mais distantes a possibilidade de conquistar poder nesse cenário polarizado. Pode ser que Doria permaneça na tentativa de ser governador paulista, o que vai enfrentar também dificuldade com a força que pode vir de Haddad e Guilherme Boulos. O cenário do Doria é mais difícil do que do Ciro porque o Ciro não tem cargo hoje. Doria tem e pode não ser reeleito e pode sair para concorrer a presidente e não deslanchar. Nesse momento, os dois principais candidatos, numa análise realista, são Bolsonaro e Lula”, conclui Prando.
EXAUSTÃO
Especialista em direito constitucional, Vera Chemim ressalta que um candidato de terceira via, além de neutralizar a polarização, precisará acenar para um projeto político, econômico e social capaz de alavancar o desenvolvimento do país. Ela considera que a chegada desse jogador na briga ainda pode acontecer. “É possível sim, a entrada mesmo que tardia de um terceiro jogador, a despeito do pouco tempo”.
Um dos fatores que contribuirão significativamente para o fortalecimento de uma terceira candidatura, emenda Chemim, é a exaustão da sociedade quanto à polarização ideológica.
“Os potenciais candidatos ainda não estão definidos, embora se tenha algum desenho sobre os seus perfis. Nesse sentido aparecem os nomes de Mandetta, Doria e alguns outros sem maior expressividade política. O cenário ainda se encontra embaralhado e sem qualquer definição sobre o perfil que deverá conquistar o eleitorado brasileiro, apesar de não se descartar uma alternativa de última hora que reúna cumulativamente, carisma popularidade e sobretudo, retidão de caráter e credibilidade perante a opinião pública. Essas, sem dúvida, serão as características que serão cobradas para o futuro presidente do país”, conclui Vera Chemim.