Fakes tentaram driblar fatos no longo depoimento de Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, à CPI da COVID. E as narrativas são as mesmas que frequentam as redes sociais bolsonaristas. Milimetricamente construídas, estrategicamente orientadas, o objetivo é sempre o mesmo: criar o caos informacional, justificar atos injustificáveis e declarações que jamais poderiam ter sido feitas.
Contorcionismo, fatos triturados, tenta-se induzir, via de regra, à mesma conclusão: o presidente da República disse mas não disse; fez, mas não fez; e a culpa do “disse não disse”, “fez não fez” é sempre de um terceiro. Em bom português: o algoz se torna a vítima.
Nessa toada, Pazuello repetiu a falácia que tenta explicar o inexplicável, ou seja, a inação do governo federal para evitar mortes da pandemia, que poderiam ser evitadas.
Distorceu: “A decisão do STF em abril de 2020 limitou ainda mais a atuação do governo federal nessas ações. Assim, não há possibilidade de o Ministério da Saúde interferir na execução das ações dos estados na saúde sem usurpar as competências dos estados e municípios”.
Jamais o STF limitou ações do governo federal. Mas, antes, determinou que União, estados, Distrito Federal e municípios têm competência concorrente na área da saúde, o que significa dizer: é responsabilidade de todos os entes da federação adotarem medidas em benefício da população brasileira no que se refere à pandemia.
Rememorar o depoimento é mais um ato de naturalização do teatro dos absurdos. É assim que o oxigênio “só” teria faltado três dias em Manaus; o presidente da República “nunca” teria mandado desfazer qualquer contrato com o Butantan para a produção de vacinas contra a COVID-19; como ministro, ele teria “sempre” defendido o isolamento social; o aplicativo TrateCOV, do Ministério da Saúde em recomendação ao uso de medicamentos sem eficácia, “nunca” teria entrado em operação.
Para completar, Pazuello tentou dividir a fatura com o Tribunal de Contas da União (TCU), pela recusa do governo brasileiro para a compra de vacinas da Pfizer ainda em 2020. Conforme detalhou à CPI o gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, a farmacêutica tentou em 2020, seis vezes, sem sucesso, vender a vacina contra a COVID-19 ao Brasil.
Pazuello disse que o governo não teria aceito as ofertas da farmacêutica no ano passado porque não concordou com as cláusulas do contrato e considerou que o preço das doses era “caro”.
E disse também que a decisão de refutar a Pfizer teria sido tomada depois que órgãos de controle, entre eles o Tribunal de Contas da União (TCU), orientarem que o documento “não deveria ser assinado”. Pelo menos desta vez, foi desmentido ao vivo e a cores pelo TCU, na voz do relator Renan Calheiros (MDB-AL).
Difícil crer em que mundo estamos, a que ponto chegamos. No topo da hierarquia, o Ministério da Saúde se omitiu em coordenar esforços em uma única direção, para combater a disseminação do vírus, para o uso de máscaras, para que fosse feito o distanciamento social, para a aquisição de vacinas?
É isso o que a CPI investiga, e para tal, talvez nem depoimentos seriam necessários. Bastaria se buscar o amplo acervo de vídeos, tuítes, declarações do presidente da República, documentos ofícios, prints, que até as pedras conhecem.
Mas foi aí que Pazuello de fato inovou. Segundo ele, o Bolsonaro das redes é uma espécie de “persona” independente, autônoma, do Bolsonaro que governa. Por essa lógica, Bolsonaro mente nas redes; mas governaria. Quando sabe-se, que a recíproca que é de fato a verdadeira: o presidente diz o que pensa nas redes; e por que acredita no que diz, não governa.
Por fim, ao justificar a sua saída do Ministério da Saúde, Pazuello apresentou a cereja do bolo: “Missão cumprida”. Tem toda a razão.
Contorcionismo, fatos triturados, tenta-se induzir, via de regra, à mesma conclusão: o presidente da República disse mas não disse; fez, mas não fez; e a culpa do “disse não disse”, “fez não fez” é sempre de um terceiro. Em bom português: o algoz se torna a vítima.
Nessa toada, Pazuello repetiu a falácia que tenta explicar o inexplicável, ou seja, a inação do governo federal para evitar mortes da pandemia, que poderiam ser evitadas.
Distorceu: “A decisão do STF em abril de 2020 limitou ainda mais a atuação do governo federal nessas ações. Assim, não há possibilidade de o Ministério da Saúde interferir na execução das ações dos estados na saúde sem usurpar as competências dos estados e municípios”.
Jamais o STF limitou ações do governo federal. Mas, antes, determinou que União, estados, Distrito Federal e municípios têm competência concorrente na área da saúde, o que significa dizer: é responsabilidade de todos os entes da federação adotarem medidas em benefício da população brasileira no que se refere à pandemia.
Rememorar o depoimento é mais um ato de naturalização do teatro dos absurdos. É assim que o oxigênio “só” teria faltado três dias em Manaus; o presidente da República “nunca” teria mandado desfazer qualquer contrato com o Butantan para a produção de vacinas contra a COVID-19; como ministro, ele teria “sempre” defendido o isolamento social; o aplicativo TrateCOV, do Ministério da Saúde em recomendação ao uso de medicamentos sem eficácia, “nunca” teria entrado em operação.
Para completar, Pazuello tentou dividir a fatura com o Tribunal de Contas da União (TCU), pela recusa do governo brasileiro para a compra de vacinas da Pfizer ainda em 2020. Conforme detalhou à CPI o gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, a farmacêutica tentou em 2020, seis vezes, sem sucesso, vender a vacina contra a COVID-19 ao Brasil.
Pazuello disse que o governo não teria aceito as ofertas da farmacêutica no ano passado porque não concordou com as cláusulas do contrato e considerou que o preço das doses era “caro”.
E disse também que a decisão de refutar a Pfizer teria sido tomada depois que órgãos de controle, entre eles o Tribunal de Contas da União (TCU), orientarem que o documento “não deveria ser assinado”. Pelo menos desta vez, foi desmentido ao vivo e a cores pelo TCU, na voz do relator Renan Calheiros (MDB-AL).
Difícil crer em que mundo estamos, a que ponto chegamos. No topo da hierarquia, o Ministério da Saúde se omitiu em coordenar esforços em uma única direção, para combater a disseminação do vírus, para o uso de máscaras, para que fosse feito o distanciamento social, para a aquisição de vacinas?
É isso o que a CPI investiga, e para tal, talvez nem depoimentos seriam necessários. Bastaria se buscar o amplo acervo de vídeos, tuítes, declarações do presidente da República, documentos ofícios, prints, que até as pedras conhecem.
Mas foi aí que Pazuello de fato inovou. Segundo ele, o Bolsonaro das redes é uma espécie de “persona” independente, autônoma, do Bolsonaro que governa. Por essa lógica, Bolsonaro mente nas redes; mas governaria. Quando sabe-se, que a recíproca que é de fato a verdadeira: o presidente diz o que pensa nas redes; e por que acredita no que diz, não governa.
Por fim, ao justificar a sua saída do Ministério da Saúde, Pazuello apresentou a cereja do bolo: “Missão cumprida”. Tem toda a razão.