Brasília – Os senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), respectivamente, relator e vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito da COVID, afirmaram que a comissão terá de fazer acareações entre os seus depoentes.
Segundo Renan, já é possível ver "contradições óbvias" entre depoimentos prestados à CPI, o que torna a confrontação de informações necessária. As declarações ocorreram no intervalo do depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, cuja participação na CPI deve levar a mais de uma acareação, de acordo com Randolfe.
"Neste caso de Pazuello, as contradições são tantas que me parece que vamos concluir que não será suficiente somente uma acareação, talvez mais de uma", disse o vice-presidente da CPI, exemplificando com possíveis contradições entre o que disse Pazuello e o que tem dito o Instituto Butantan a respeito do cancelamento da compra de 46 milhões de doses da CoronaVac. O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, também será ouvido como testemunha pela CPI da Pandemia.
Segundo Renan, já é possível ver "contradições óbvias" entre depoimentos prestados à CPI, o que torna a confrontação de informações necessária. As declarações ocorreram no intervalo do depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, cuja participação na CPI deve levar a mais de uma acareação, de acordo com Randolfe.
"Neste caso de Pazuello, as contradições são tantas que me parece que vamos concluir que não será suficiente somente uma acareação, talvez mais de uma", disse o vice-presidente da CPI, exemplificando com possíveis contradições entre o que disse Pazuello e o que tem dito o Instituto Butantan a respeito do cancelamento da compra de 46 milhões de doses da CoronaVac. O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, também será ouvido como testemunha pela CPI da Pandemia.
O relator da CPI, Renan Calheiros, disse que vai propor ao presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), a contratação de uma agência de checagem que possa auxiliar os senadores da CPI na apuração do que é dito pelos depoentes. Para Renan, a contratação se faz necessária para "checar essas mentiras que reiteradamente estão sendo ditas na CPI". Seria a primeira vez em que algo do tipo ocorre em uma comissão.
Questionado sobre o depoimento participação de Pazuello, Renan disse que o ex-ministro tratou "com desdém e dissimulou sobre as perguntas” da CPI. "É fundamental que ele [Pazuello] colabore, preste essas informações, mas ele chegou ao cúmulo de negar declarações públicas dele mesmo e do presidente da República", argumentou o relator. Randolfe Rodrigues disse que o general faz "um contorcionismo enorme" e tenta "distorcer fatos".
REQUERIMENTOS
Antes de dar continuidade ao depoimento de Pazuello hoje, a CPI deve votar 27 requerimentos, incluindo a convocação do empresário Carlos Wizard, apontado como integrante de um suposto conselho paralelo de saúde, além de executivos da empresa White Martins, que fornece oxigênio para hospitais. O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) disse que Wizard é apontado como um dos integrantes de uma espécie de “ministério paralelo” de saúde, que teria atuado junto ao governo federal na defesa de medicamentos sem eficácia comprovada contra a COVID-19. O requerimento é o único de convocação na pauta. Os outros pedidos de oitiva estão na forma de convite.
Entre esses requerimentos estão os que pedem depoimentos de dois executivos da empresa White Martins: Paulo Baraúna e Christiano Cruz. Autor dos requerimentos, o senador Eduardo Braga lembra depoimento de Christiano Cruz ao Ministério Público Federal. O executivo relatou que a White Martins só conseguiu se reunir com integrantes do Ministério da Saúde para relatar pessoalmente o grave problema na disponibilidade de oxigênio no Amazonas às vésperas do colapso. Ontem, Pazuello disse à CPI que a pasta não foi comunicada pela White Martins sobre a falta de oxigênio em Manaus.
Além dos requerimentos, o senador Randolfe Rodrigues vai apresentar pedido de quebra de sigilo bancário, fiscal e de comunicações de Pazuello. A medida tem a ver com denúncias de que o ministério teria usado a pandemia como pretexto para contratar obras sem licitação.
Depoimentos divergentes
Brasília – Em seu depoimento à CPI da COVID, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello deu versões diferentes às de outros depoentes na comissão sobre ações do governo federal no combate à pandemia. É o caso da oitiva do executivo da Pfizer, Carlos Murillo, e do ex-secretário de Comunicação Social da Presidência da República Fábio Wajngarten. O general afirmou que houve resposta às ofertas de vacina feitas no ano passado pela empresa farmacêutica. E também divergiu de seus antecessores no cargo (Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich) sobre a influência dos filhos do presidente Jair Bolsonaro e o uso de cloroquina.
Carlos Murillo afirmou à CPI que o governo não respondeu a seis ofertas. Wajngarten falou de uma carta enviada pelo presidente mundial da empresa, Albert Bourla, a integrantes do governo brasileiro que ficou sem resposta. Ontem, perguntado pelo relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), por que não respondeu as propostas da Pfizer no ano passado, Pazuello afirmou, primeiramente, que as condições oferecidas eram piores do que as de outras empresas. Depois, com a insistência de Calheiros, disse que respondeu a Pfizer. “Respondemos inúmeras vezes de agosto a dezembro. Eu tenho todas a comunicações da Pfizer”, declarou o general, sem apresentar comprovação.
“O presidente da Pfizer disse que não houve resposta. Ele mentiu?”, emendou Renan. Pazuello afirmou que a resposta era a negociação direta com a Pfizer e que vai enviar toda a documentação com as respostas para a CPI. “Foram respondidas em negociação intensa e direta”. Calheiros insistiu novamente e Pazuello declarou: “Não houve decisão de não responder à Pfizer. Pela quinta vez.” Ainda segundo o ex-ministro, Bolsonaro foi informado por ele durante todo o processo das tratativas com a Pfizer, de julho até março deste ano.
Há duas semanas, o ex-ministro Mandetta citou na CPI o papel dos filhos de Jair Bolsonaro, em especial do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), que participava das reuniões no Planalto com ministros. Na versão de Mandetta, Carlos e os irmãos, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), dificultaram as relações com a China. Ontem, Pazuello também negou influência dos filhos de Bolsonaro e lamentou não ter falado mais com eles: “Não havia influência dos filhos do presidente. E eu achava que ia me encontrar mais com eles”.
Em seu depoimento, o também ex-ministro Nelson Teich afirmou que deixou o cargo cerca de um mês depois de ter entrado no governo porque não teria a autonomia e a liderança de que precisava. Segundo ele, isso ficou mais evidente em relação às "divergências com o governo quanto à eficácia e extensão do uso de cloroquina para o tratamento da COVID". Ontem, indagado por Calheiros se sua nomeação como ministro para o lugar de Teich ocorreu em cumprimento de alguma ordem, como recomendação do uso de cloroquina ou outro remédio para tratamento precoce da COVID, Pazuello negou: “Em hipótese alguma O presidente nunca me deu ordens diretas para nada.”
O ex-ministro garantiu que informava Bolsonaro sobre tudo. "O presidente da República era informado o tempo todo sobre as minhas conduções. Todas elas, não só da Pfizer. Quando eu ia despachar com ele. Durante todo o processo eu despachava com o presidente periodicamente e, nessas conversas, eu falava como estavam as negociações, inclusive com a Pfizer. Ele foi informado por mim, em todo o processo, que começou em julho [de 2020] até março [de 2021], quando contratamos a Pfizer”, afirmou.
Ele declarou que não aceitou as ofertas da farmacêutica em 2020 porque considerou que o preço das doses era caro em relação a outras negociações que estavam sendo feitas com outros laboratórios. Ele também disse que considerava a quantidade de doses pequena para os primeiros meses, mesmo havendo a previsão de entrega de doses ainda em 2020.
Pazuello também listou cláusulas do contrato que não agradavam o governo brasileiro. Entre elas estavam, segundo o ex-ministro, a ausência de multas caso houvesse atraso de remessas e a isenção de qualquer responsabilidade da empresa em caso de efeitos colaterais. "A Pfizer trouxe 10 dólares a dose, e estávamos negociando 3,75 dólares [com outros laboratórios]. Era três vezes mais caro. Então, coloco aos senhores: uma vacina três vezes mais cara, com todas essas cláusulas que eu coloquei aqui e com quantitativos que eram, a meu ver, muito inferiores ao que nós estávamos negociando", disse. Renan Calheiros afirmou que tudo o que Pazuello tentou fazer em depoimento foi blindar o presidente. "Inclusive divagando com relação à objetividade das respostas das perguntas que fazíamos".
Doria e Covas rebatem Pazuello
São Paulo – O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, rebateram a declaração do ex-ministro Eduardo Pazuello à CPI de que tenha desistido da compra da vacina CoronaVac. Em entrevista coletiva após a oitiva do general, o chefe do Executivo paulista ironizou. “Eu recomendaria ao Eduardo Pazuello, que foi ministro da Saúde, que tome Fosfosol para melhorar um pouquinho a memória. Ele aparentemente está com deficiência de memória.” Fosfosol é um antigo medicamento, que fez sucesso nos anos 1950 e 1960, vendido como elixir para a memória.
Dimas Covas também comentou. “Nós tivemos dificuldade na assinatura do contrato. Ele foi assinado em 7 de janeiro deste ano, sendo que a primeira proposta foi em julho do ano passado”, afirmou o diretor do Butantan, que continuou: “É só fazer as contas: temos um pouco mais de seis meses e um contrato que não foi assinado [neste período], embora tenha sido proposto no meio do ano passado”.
O diretor do Instituto Butantan disse ainda que a demora da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) paraaprovar o uso do soro anticoronavírus em humanos ocorre devido à insegurança da agência reguladora, que é vinculada ao Ministério da Saúde. O soro está sendo desenvolvido pelo Instituto Butantan desde o ano passado a partir do plasma de cavalos e será testado incialmente em pacientes transplantados do Hospital do Rim, em São Paulo. “A Anvisa sempre se pronuncia só após outras agências se pronunciarem. Quando se submete à Anvisa pela primeira vez um soro, existe uma dificuldade lá, uma insegurança. Porque essa decisão da Anvisa vai valer pro mundo inteiro”, disse Covas.