A recém-criada Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à COVID-19 está sem comando. O Ministério da Saúde informou neste sábado (22/5), que a médica infectologista Luana Araújo, anunciada para o cargo de secretária há apenas dez dias, não ocupará mais a função.
O decreto que criou a secretaria foi publicado no dia 10 de maio. Dois dias depois, em evento em Brasília, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou a médica como a chefe do órgão.
O governo foi criticado por montar uma secretaria específica para combater a COVID-19 na estrutura do ministério somente 15 meses após o primeiro caso da doença no Brasil.
Segundo publicou a Revista Veja, Luana Araújo não aceitou determinações impostas pelo Palácio do Planalto e abriu mão de aceitar o cargo.
Em depoimento à CPI da COVID, Queiroga afirmou que tem total autonomia para liderar o ministério e não recebe pressões do presidente Jair Bolsonaro.
Após a confirmação do recuo da médica, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), suplente da CPI, solicitou a convocação de Luana "para que seja possível esclarecer as razões que a levaram a pedir exoneração do cargo de secretária de enfrentamento à COVID no Ministério da Saúde após apenas uma semana de trabalho".
Como mostrou o Estadão, Luana Araújo é defensora da vacinação em massa, já declarou ser favorável a medidas restritivas e contra o "kit covid", mesmo para pacientes com sintomas leves. Ela já afirmou também que "todos os estudos sérios" demonstram a ineficácia da cloroquina e que a ivermectina é "fruto da arrogância brasileira" e "mal funciona para piolho".
Durante uma live com o vereador Rafael Pacheco (Podemos), de Adamantina, interior de São Paulo, sua cidade de origem, ela também criticou o uso de hidroxicloroquina contra a COVID-19.
"A hidroxicloroquina a gente já sabia que não ia funcionar. E todos os estudos sérios, bem feitos, multicêntricos - quer dizer, feitos ao redor do mundo ao mesmo tempo -, cheio de recursos mostram que não funcionou. E ponto", disse Luana na live. "A ivermectina é fruto da arrogância brasileira. O brasileiro não investe em ciência, mas acha que tem a chave para resolver as coisas."
O uso desses remédios foi defendido diversas vezes por Bolsonaro, pessoas do governo e aliados políticos desde o início da pandemia. O presidente também acumula críticas da comunidade científica por ser flagrado em aglomerações sem máscara, questionar a eficácia do isolamento social e dar declarações confusas sobre vacinação.