Um desentendimento entre os senadores Rogério Carvalho (PT-SE) e Eduardo Girão (Podemos-CE) causou tumulto durante o depoimento da secretária de Gestão, Trabalho e Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, nesta terça-feira (25/5). O bate-boca começou depois do discurso do parlamentar petista, que acusou a depoente de falar mentiras na sessão.
Depois da fala de Rogério, Mayra disse que não teve a chance de responder a uma pergunta do senador, que a questionou o motivo de não ter pedido demissão do Ministério da Saúde. Anteriormente, ele havia perguntado se ela defendia isolamento, máscaras e vacinação em massa. Mayra disse que sim. Em seguida, ela negou que tenha defendido a imunidade de rebanho.
Leia também: CPI da COVID: Renan aponta 11 mentiras e contradições de Mayra Pinheiro
Por sua vez, Eduardo Girão interrompeu a fala de Rogério, que estava no sistema remoto.“O senhor deixou muito claro que não queria ouvir a resposta dela”, afirmou.
Nervoso, Rogério disparou contra o senador cearense: “No meu direito parlamentar, fiz o que minha consciência manda. Não é o senhor e nem ninguém que vai dizer como eu vou me portar aqui. Tenho minha opinião e ela é clara. Todos que vêm aqui estão treinados para mentir e enganar o Brasil”.
Por fim, Mayra também entrou na discussão: “Você me respeite, senador. Vim aqui na qualidade de técnica e o senhor está me acusando de mentirosa. Me respeite, senador”.
Leia: Mayra discorda de Bolsonaro: 'Todos precisam vacinar, até quem teve COVID'
A discussão foi interrompida quando o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM) interveio.
Depoimento
A CPI da COVID, instalada no Senado em 27 de abril deste ano, apura possíveis ações e omissões do governo federal no enfrentamento à pandemia do coronavírus e repasses de verbas a estados e municípios. Os depoimentos tiveram início em 4 de maio, com Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde.
No dia seguinte, Nelson Teich, sucessor de Mandetta no cargo, depôs. No dia 6 de maio, foi a vez de Marcelo Queiroga, atual ministro da Saúde, prestar depoimento. Em 11 de maio, o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, depôs.
Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação do governo federal, foi ouvido pelos senadores em 12 de maio, seguido de Carlos Murillo, ex-presidente da Pfizer no Brasil e atual presidente regional da empresa na América Latina. O boliviano prestou depoimento à CPI na quinta-feira (13/5) da semana retrasada.
Na última semana, a CPI deu início às oitivas com o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, na terça-feira (18/5) passada. Nos dois dias seguintes, depois de suspensão por conta de reunião em plenário e de um mal-estar sentido pelo depoente, Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, depôs.
Nesta quarta-feira (26/5), será realizada sessão exclusiva para votação de requerimentos. Vários deles dizem respeito a novas convocações e reconvocações. Na quinta-feira (27/5), espera-se que alguma testemunha deponha à CPI.
O que é uma CPI?
O que a CPI da COVID investiga?
Saiba como funciona uma CPI
O que a CPI pode fazer?
- chamar testemunhas para oitivas, com o compromisso de dizer a verdade
- convocar suspeitos para prestar depoimentos (há direito ao silêncio)
- executar prisões em caso de flagrante
- solicitar documentos e informações a órgãos ligados à administração pública
- convocar autoridades, como ministros de Estado — ou secretários, no caso de CPIs estaduais — para depor
- ir a qualquer ponto do país — ou do estado, no caso de CPIs criadas por assembleias legislativas — para audiências e diligências
- quebrar sigilos fiscais, bancários e de dados se houver fundamentação
- solicitar a colaboração de servidores de outros poderes
- elaborar relatório final contendo conclusões obtidas pela investigação e recomendações para evitar novas ocorrências como a apurada
- pedir buscas e apreensões (exceto a domicílios)
- solicitar o indiciamento de envolvidos nos casos apurados
O que a CPI não pode fazer?
Embora tenham poderes de Justiça, as CPIs não podem:
- julgar ou punir investigados
- autorizar grampos telefônicos
- solicitar prisões preventivas ou outras medidas cautelares
- declarar a indisponibilidade de bens
- autorizar buscas e apreensões em domicílios
- impedir que advogados de depoentes compareçam às oitivas e acessem
- documentos relativos à CPI
- determinar a apreensão de passaportes
A história das CPIs no Brasil
CPIs famosas no Brasil
1992: CPMI do Esquema PC Farias - culminou no impeachment de Fernando Collor
1993: CPI dos Anões do Orçamento (Câmara) - apurou desvios do Orçamento da União
2000: CPIs do Futebol - (Senado e Câmara, separadamente) - relações entre CBF, clubes e patrocinadores
2001: CPI do Preço do Leite (Assembleia de MG e outros Legislativos estaduais, separadamente) - apurar os valores cobrados pelo produto e as diretrizes para a formulação dos valores
2005: CPMI dos Correios - investigar denúncias de corrupção na empresa estatal
2005: CPMI do Mensalão - apurar possíveis vantagens recebidas por parlamentares para votar a favor de projetos do governo
2006: CPI dos Bingos (Câmara) - apurar o uso de casas de jogo do bicho para crimes como lavagem de dinheiro
2006: CPI dos Sanguessugas (Câmara) - apurou possível desvio de verbas destinadas à Saúde
2015: CPI da Petrobras (Senado) - apurar possível corrupção na estatal de petróleo
2015: Nova CPI do Futebol (Senado) - Investigar a CBF e o comitê organizador da Copa do Mundo de 2014
2019: CPMI das Fake News - disseminação de notícias falsas na disputa eleitoral de 2018
2019: CPI de Brumadinho (Assembleia de MG) - apurar as responsabilidades pelo rompimento da barragem do Córrego do Feijão