O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da COVID, o senador Omar Aziz (PSD-Amazonas), comentou sobre as investigações em entrevista à GloboNews, na noite desta sexta-feira (04/06). Além de criticar a reação do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), Aziz também pontuou as dificuldades de liderar os trabalhos.
“Às vezes, um se exalta ou o outro se exalta, mas todos somos amigos e companheiros que convivemos diariamente”, pontuou. As reuniões da CPI da COVID vêm sendo marcadas por “bate-bocas” entre parlamentares e convidados com ideias diferentes.
discussões calorosas sobre o uso da cloroquina como "tratamento precoce" para a COVID-19. A reunião em que a médica infectologista Luana Araújo depôs também teve “bate-bocas” sobre o uso dos medicamentos em pacientes com a doença.
Por exemplo, o depoimento da médica Nise Yamaguchi, que foi marcado por Segundo Aziz, na entrevista, os ânimos exaltados são em decorrência da pressão que a comissão está sentindo. “Estamos tratando de vida, estamos tratando de pessoas que estão morrendo. Lógico que aflora mais essa discussão", explicou.
“Quando nós procuramos trazer a verdade para a população, ela (a verdade) está aparecendo! Este desespero do governo (federal), esse é o desespero toda quinta-feira do presidente, em que ele agride aleatoriamente as pessoas sem pensar nas famílias", comentou Aziz em tom de crítica a Bolsonaro.
Todas as quintas-feiras, Bolsonaro entra ao vivo em suas redes sociais para conversar com os brasileiros. Além disso, o presidente já criticou a CPI da COVID em algumas ocasiões, como em uma publicação no Twitter, em que dizia que “falta coragem moral” aos integrantes da comissão.
Bolsonaro volta a atacar integrantes da CPI: %u201Cfalta coragem moral%u201D. Presidente publicou vídeo para pressionar Comissão Parlamentar a ouvir o presidente do Conselho Federal de Medicina, que classificou a CPI como %u201Ctóxica e vergonhosa%u201D. pic.twitter.com/gwWb7lgxbM
%u2014 Estado de Minas (@em_com) June 3, 2021
“Eu tenho relevado estas questões”, afirmou Aziz sobre as críticas de Bolsonaro.
"Historicamente, desde que começou o governo, todas os desafetos e as pessoas que o contrariam, ele (bolsonaro), destruiu através das mídias robóticas que ele tem, através do gabinete do ódio", completou. O ‘gabinete do ódio’, que seria um suposto gabinete montado para espalhar informações falsas, também é alvo das investigações da CPI da COVID. Aziz cita Moro como exemplo de alguém que foi "destruído" pela mídia.
O “gabinete paralelo”,' que é um suposto grupo que aconselhava o governo federal a respeito do combate à pandemia de COVID-19, também é uma das pautas da reunião. Durante o depoimento de Nise para a comissão, a médica negou a existência do gabinete.
“Nós vamos chegar lá. E vamos mostrar para a população o que se passa (no governo)”, concluiu.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Eduardo Oliveira
*Estagiária sob supervisão do subeditor Eduardo Oliveira
O que é uma CPI?
As comissões parlamentares de inquérito (CPIs) são instrumentos usados por integrantes do Poder Legislativo (vereadores, deputados estaduais, deputados federais e senadores) para investigar fato determinado de grande relevância ligado à vida econômica, social ou legal do país, de um estado ou de um município. Embora tenham poderes de Justiça e uma série de prerrogativas, comitês do tipo não podem estabelecer condenações a pessoas.
Para ser instalado no Senado Federal, uma CPI precisa do aval de, ao menos, 27 senadores; um terço dos 81 parlamentares. Na Câmara dos Deputados, também é preciso aval de ao menos uma terceira parte dos componentes (171 deputados).
Há a possibilidade de criar comissões parlamentares mistas de inquérito (CPMIs), compostas por senadores e deputados. Nesses casos, é preciso obter assinaturas de um terço dos integrantes das duas casas legislativas que compõem o Congresso Nacional.
O que a CPI da COVID investiga?
Instalada pelo Senado Federal em 27 de abril de 2021, após determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), a CPI da COVID trabalha para apurar possíveis falhas e omissões na atuação do governo federal no combate à pandemia do novo coronavírus. O repasse de recursos a estados e municípios também foi incluído na CPI e está na mira dos parlamentares.
O presidente do colegiado é Omar Aziz (PSD-AM). O alagoano Renan Calheiros (MDB) é o relator. O prazo inicial de trabalho são 90 dias, podendo esse período ser prorrogado por mais 90 dias.
Saiba como funciona uma CPI
Após a coleta de assinaturas, o pedido de CPI é apresentado ao presidente da respectiva casa Legislativa. O grupo é oficialmente criado após a leitura em sessão plenária do requerimento que justifica a abertura de inquérito. Os integrantes da comissão são definidos levando em consideração a proporcionalidade partidária — as legendas ou blocos parlamentares com mais representantes arrebatam mais assentos. As lideranças de cada agremiação são responsáveis por indicar os componentes.
Na primeira reunião do colegiado, os componentes elegem presidente e vice. Cabe ao presidente a tarefa de escolher o relator da CPI. O ocupante do posto é responsável por conduzir as investigações e apresentar o cronograma de trabalho. Ele precisa escrever o relatório final do inquérito, contendo as conclusões obtidas ao longo dos trabalhos.
Em determinados casos, o texto pode ter recomendações para evitar que as ilicitudes apuradas não voltem a ocorrer, como projetos de lei. O documento deve ser encaminhado a órgãos como o Ministério Público e a Advocacia-Geral da União (AGE), na esfera federal.
Conforme as investigações avançam, o relator começa a aprimorar a linha de investigação a ser seguida. No Congresso, sub-relatores podem ser designados para agilizar o processo.
As CPIs precisam terminar em prazo pré-fixado, embora possam ser prorrogadas por mais um período, se houver aval de parte dos parlamentares
O que a CPI pode fazer?
- chamar testemunhas para oitivas, com o compromisso de dizer a verdade
- convocar suspeitos para prestar depoimentos (há direito ao silêncio)
- executar prisões em caso de flagrante
- solicitar documentos e informações a órgãos ligados à administração pública
- convocar autoridades, como ministros de Estado — ou secretários, no caso de CPIs estaduais — para depor
- ir a qualquer ponto do país — ou do estado, no caso de CPIs criadas por assembleias legislativas — para audiências e diligências
- quebrar sigilos fiscais, bancários e de dados se houver fundamentação
- solicitar a colaboração de servidores de outros poderes
- elaborar relatório final contendo conclusões obtidas pela investigação e recomendações para evitar novas ocorrências como a apurada
- pedir buscas e apreensões (exceto a domicílios)
- solicitar o indiciamento de envolvidos nos casos apurados
O que a CPI não pode fazer?
Embora tenham poderes de Justiça, as CPIs não podem:
- julgar ou punir investigados
- autorizar grampos telefônicos
- solicitar prisões preventivas ou outras medidas cautelares
- declarar a indisponibilidade de bens
- autorizar buscas e apreensões em domicílios
- impedir que advogados de depoentes compareçam às oitivas e acessem
- documentos relativos à CPI
- determinar a apreensão de passaportes
A história das CPIs no Brasil
A primeira Constituição Federal a prever a possibilidade de CPI foi editada em 1934, mas dava tal prerrogativa apenas à Câmara dos Deputados. Treze anos depois, o Senado também passou a poder instaurar investigações. Em 1967, as CPMIs passaram a ser previstas.
Segundo a Câmara dos Deputados, a primeira CPI instalada pelo Legislativo federal brasileiro começou a funcionar em 1935, para investigar as condições de vida dos trabalhadores do campo e das cidades. No Senado, comitê similar foi criado em 1952, quando a preocupação era a situação da indústria de comércio e cimento.
As CPIs ganharam estofo e passaram a ser recorrentes a partir de 1988, quando nova Constituição foi redigida. O texto máximo da nação passou a atribuir poderes de Justiça a grupos investigativos formados por parlamentares.
CPIs famosas no Brasil
1975: CPI do Mobral (Senado) - investigar a atuação do sistema de alfabetização adotado pelo governo militar
1992: CPMI do Esquema PC Farias - culminou no impeachment de Fernando Collor
1992: CPMI do Esquema PC Farias - culminou no impeachment de Fernando Collor
1993: CPI dos Anões do Orçamento (Câmara) - apurou desvios do Orçamento da União
2000: CPIs do Futebol - (Senado e Câmara, separadamente) - relações entre CBF, clubes e patrocinadores
2001: CPI do Preço do Leite (Assembleia de MG e outros Legislativos estaduais, separadamente) - apurar os valores cobrados pelo produto e as diretrizes para a formulação dos valores
2005: CPMI dos Correios - investigar denúncias de corrupção na empresa estatal
2005: CPMI do Mensalão - apurar possíveis vantagens recebidas por parlamentares para votar a favor de projetos do governo
2006: CPI dos Bingos (Câmara) - apurar o uso de casas de jogo do bicho para crimes como lavagem de dinheiro
2006: CPI dos Sanguessugas (Câmara) - apurou possível desvio de verbas destinadas à Saúde
2015: CPI da Petrobras (Senado) - apurar possível corrupção na estatal de petróleo
2015: Nova CPI do Futebol (Senado) - Investigar a CBF e o comitê organizador da Copa do Mundo de 2014
2019: CPMI das Fake News - disseminação de notícias falsas na disputa eleitoral de 2018
2019: CPI de Brumadinho (Assembleia de MG) - apurar as responsabilidades pelo rompimento da barragem do Córrego do Feijão