Jornal Estado de Minas

Entrevista

Queiroga adianta o que deverá falar em 2º depoimento à CPI da COVID


Nos próximos dias o Brasil sedia a Copa América ao passo que o país entra no período sazonal mais propício para agravamentos de doenças respiratórias, como é o caso do novo coronavírus. A ameaça pela confirmação dos primeiros casos da variante indiana em território nacional provoca ainda mais preocupação em relação a uma terceira onda de infecções.



O enredo é motivo de uma nova convocação do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para voltar à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da COVID, na terça-feira.

Dias antes da sabatina, o gestor da pasta mais importante do enfrentamento à pandemia adiantou, em entrevista exclusiva ao programa CB Poder, do Correio Braziliense/Diários Associados, ontem, os principais assuntos que devem pautar a sessão.

Na avaliação de Queiroga, não haveria motivo para a reconvocação, opinando já ter feito “os esclarecimentos devidos”. “Se os parlamentares acham que eu posso contribuir nesse momento na CPI, estou à disposição. Agora, vou mostrar o que todos os brasileiros já sabem, o que temos feito à frente do Ministério da Saúde”. O ministro afirmou não acompanhar os trabalhos da CPI. “Eu tenho que me concentrar em garantir que não faltem insumos nas CTIs (Centro de Tratamento e Terapia Intensiva) do Brasil”, justificou.



O foco, para Queiroga, é o Programa Nacional de Imunização (PNI). Mas, no contexto da Copa das Américas, “a exigência da vacinação não é uma obrigação” para os que estão envolvidos diretamente no evento esportivo. Para justificar a dispensa da vacina, Queiroga afirmou que os campeonatos nacionais já estão acontecendo no país. À CPI, Queiroga deverá responder, ainda, sobre em que pé anda a avaliação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) sobre protocolos a serem unificados para tratar pacientes com COVID-19. Leia abaixo os principais trechos entrevista.

O senhor está há dois meses no comando do Ministério da Saúde. O que  destaca nesse período e o que o senhor ainda espera e tem como desafio pela frente?
Eu recebi a incumbência de comandar a pasta da Saúde do senhor presidente da República, Jair Bolsonaro, há 6 meses. É um grande desafio para qualquer um, é uma pandemia, é uma situação excepcional. Essa pandemia já infelicita a sociedade mundial há mais de um ano e precisamos dar respostas aos brasileiros que suscitam confiança em um futuro melhor para todos nós. Hoje a esperança se chama vacina. É um progresso da ciência ter vacinas contra a COVID-19 em tão curto espaço de tempo. O presidente da República tem dito de forma reiterada a importância da vacinação. Na quarta-feira fez um pronunciamento em cadeia de televisão falando da importância da vacinação e sobre as conquistas que o Brasil tem feito. Mais de 100 milhões de doses distribuídas, que colocam o país em uma posição de vanguarda, entre os cinco que mais distribuíram doses de vacina com sua população.

Mas a gente vê que só 12% da população já recebeu as duas doses da vacina. Qual a expectativa do senhor para que cheguem mais vacinas para a população? Como é que está esse calendário?
Temos trabalhado todos os dias para ter mais doses. Agora no mês de maio, por exemplo, nós distribuímos mais de 30 milhões de doses. Isso dá para vacinar a população de Portugal, da Grécia, de Israel. Agora no mês de junho nós temos assegurado mais de 40 milhões de doses e firmamos o contrato de transferência de tecnologia entre a AstraZeneca e a Fiocruz para a produção de vacinas no Brasil com o IFA nacional. Isso é uma grande conquista, é uma aposta no fortalecimento do complexo industrial da saúde. Nós firmamos dois contratos com a farmacêutica Pfizer. O primeiro de 100 milhões de doses e o segundo, já em nossa gestão, de mais 100 milhões de doses. Ou seja, teremos 100 milhões de doses até setembro e de setembro a dezembro mais 100 milhões de doses da vacina da Pfizer, que é um imunizante que é chancelado pelas mais diversas agências sanitárias do mundo. Eu posso aqui dizer que até o fim do ano, nós vacinaremos toda a população brasileira acima de 18 anos.





Muita gente disse também que o Brasil poderia ter começado a vacinar antes. Como é que o senhor vê isso? Como é que o senhor vê essa crítica que surge volta e meia ali na CPI da COVID?
Eu acho que o que nós devemos é valorizar o nosso Programa Nacional de Imunização (PNI). Nós devemos levar confiança ao povo brasileiro para que eles possam realmente acreditar que essas vacinas estão disponíveis nas salas de vacinação. São 38 mil salas de vacinação espalhadas por todo o Brasil e se tivermos doses suficientes podemos vacinar até 2,4 milhões brasileiros (por dia). A função que o presidente me deu foi de acelerar a campanha nacional de imunização e nós buscamos doses de vacina, seja através da recuperação das doses do Covax Facility, que já deveriam ter sido entregues no primeiro trimestre. O governo trabalha de maneira articulada. Hoje mesmo, nós fechamos com a Janssen para trazer mais 3 milhões de doses que serão aplicadas agora no mês de junho. Então, nós não paramos de trabalhar.

Então, até o final do ano o senhor garante que a população estará vacinada? As pessoas com mais de 18 anos podem ficar tranquilas que até o final do ano elas vão ter vacina?
Pode, porque nós já temos mais de 600 milhões de doses contratualizadas. O que queremos fazer é antecipar, ter mais doses agora nesse momento. Até porque vivemos, apesar de ser um país tropical, um momento de uma estação climática sobretudo no Sul do país, mais fria, onde existe uma tendência maior de circulação do vírus e, assim, a possibilidade de novos casos. O programa nacional de imunização tem trabalhado estratégias para se for o caso oferecer mais doses para essas regiões, como também para os estados que fazem fronteira e naqueles locais onde é o momento epidemiológico é mais complexo com ameaça de colapso no sistema de saúde.

Especialistas estão falando que vêm aí uma terceira onda da COVID-19. O que está sendo feito para tentar combater essa nova onda?
O número de óbitos está elevado e isso decorre da gravidade da doença. Isso não é só no Brasil, vale salientar. É claro que estamos aqui no nosso país, temos que comentar sobre o Brasil, mas essa doença pressionou fortemente sistemas de saúde muito mais organizados, como o sistema de saúde da Inglaterra, dos Estados Unidos, da Itália, da Espanha. Então, a gente precisa em primeiro lugar avançar a campanha de vacinação, em segundo lugar avançar a campanha de vacinação, e em terceiro avançar a campanha de vacinação. Em quarto lugar, insistir nas medidas não farmacológicas e em quinto adotar uma política de testagem que seja mais eficiente e já estamos fazendo isso. A expectativa é que testemos até 20 milhões de brasileiros todos os meses.





Ministro, o país vai sediar a Copa América agora e a gente sabe que é necessário uma estrutura de saúde reservada para atender jogadores e os envolvidos no torneio. O Ministério da Saúde é quem vai prover essa estrutura? Como é que está essa distribuição? 
A questão do sistema único de saúde funciona independente de competições esportivas. Vale aqui destacar que acontece o Campeonato Brasileiro de futebol nas diversas divisões, Taça Libertadores da América, Sul-Americana, eliminatórias da Copa do Mundo, estão acontecendo. O protocolo da CBF é um protocolo rigoroso, que foi elaborado com a participação de médicos infectologistas muito categorizados e é feito o monitoramento e casos (positivos) que acontecem com jogadores do campo são desprezíveis, de tal maneira que é um protocolo seguro. Essa demanda da Copa América foi uma demanda que partiu do presidente da República e cumpre ao Ministério da Saúde verificar os protocolos da Conmebol e fazer sugestões para aprimorá-los e tornar seguro esse evento aqui no nosso país.

A questão da Copa América é um assunto que preocupa muito. Foi dito na semana passada que os jogadores seriam todos vacinados. Acontece que nós estamos aí a menos de 10 dias dos jogos e não dá tempo de vacinar todo mundo, pelo menos com as duas doses. Como é que isso vai ser feito?
Bom, como eu já falei, os campeonatos de futebol estão acontecendo, inclusive eventos internacionais, e a exigência da vacinação não é uma obrigação. Vai acontecer na Olimpíada. Esse sim é um grande evento mundial do esporte.

Até foram vacinados todos os atletas brasileiros. 
Sim. Então há protocolos de segurança da Conmebol. O Ministério da Saúde está avaliando esses protocolos para verificar se eles são adequados. Então há uma política de testagem dos jogadores e daqueles integrantes da comissão técnica. Caso se encontre positividade, o atleta é imediatamente afastado e isolado; não tem público nos estádios; os atletas vão sair do estádio e vão para o hotel. Vai se criar uma bolha. São apenas quatro cidades e os governadores todos concordaram em sediar o evento. Não é incumbência do Ministério da Saúde autorizar a realização de eventos esportivos, mas tem que assegurar que os protocolos são adequados e as autoridades sanitárias dos municípios e do estado tem que fiscalizar o seu cumprimento.





Além dessa questão da Copa América, a CPI continua e não vai terminar pelo jeito. Teremos pelo menos mais dois meses de CPI e na semana que vem o senhor já está convocado novamente para prestar esclarecimentos. Tivemos a doutora Luana Araújo, que trabalhou uns 10 dias no ministério. Ela chegou a dizer que o tratamento precoce é escolher "para que lado da terra plana a pessoa vai pular". Foi essa a expressão que ela usou. Como o senhor avalia esse depoimento dela e o que pensa em dizer de novo para os parlamentares uma vez que já esteve na CPI?
Eu já fiz os esclarecimentos devidos. Se os parlamentares acham que eu posso contribuir neste momento, na comissão parlamentar de inquérito, estou à disposição e agora eu vou mostrar o que todos os brasileiros já sabem, né? O que temos feito à frente do Ministério da Saúde.

Por exemplo?
Acelerado a campanha de vacinação fortemente, fizemos um contrato adicional de 100 milhões de doses da vacina Pfizer; conquistado a confiança dos brasileiros; procurado harmonizar a relação entre os médicos. Eu falei acerca de protocolos de tratamentos e eu disse que encaminharia para a Conitec. Já está na Conitec em consulta pública um protocolo acerca do tratamento dos pacientes hospitalizados contra COVID-19. Pelo decreto que regulamenta a Conitec, o ministro é uma instância recursal. Então se houver um questionamento acerca de algum desses protocolos, aí o ministro pode ali, fundamentando a sua decisão, fazer algum tipo de observação. Neste momento é prematuro. Em relação à participação da Dra Luana, eu não assisti ao depoimento.

Mas o senhor acha que ela foi bem? Dado o que repercutiu, porque foi tão divulgado?
Não assisti. A doutora Luana não foi nomeada e ela participou como colaboradora. O que eu posso dizer é que ela é uma pessoa que tem um bom currículo… Eu não fico assistindo depoimento na CPI, porque eu tenho que me concentrar em garantir que não faltem insumos nas CTIs.

Nem o resumo o senhor tem acompanhado?
Olha, eu vou dizer uma coisa: eu não vejo rede social, eu não participo de grupo de WhatsApp, porque isso vai desviar meu foco.






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