O depoimento de Célio Bouzada, ex-presidente da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans), nesta quarta-feira (9/6) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da BHTrans, instalada pela Câmara Municipal da capital mineira, enfureceu o presidente da CPI.
Com pouco mais de uma hora de depoimento, o vereador Gabriel (sem partido) se exaltou com o que havia sido dito até então e subiu o tom, dizendo que a empresa “não entrega merda nenhuma” à cidade e que Bouzada agia como um “pavão envaidecido” ao falar à CPI.
Com pouco mais de uma hora de depoimento, o vereador Gabriel (sem partido) se exaltou com o que havia sido dito até então e subiu o tom, dizendo que a empresa “não entrega merda nenhuma” à cidade e que Bouzada agia como um “pavão envaidecido” ao falar à CPI.
Antes da interrupção de Gabriel, Professor Claudiney Dulim (Avante) e Braulio Lara (Novo) haviam feito perguntas a Bouzada. Presidente da empresa entre janeiro de 2017 e dezembro de 2020, ele negou que a empresa tenha uma “caixa preta” da empresa a ser aberta, o que motivou o início do discurso inflamado do presidente da CPI.
“O que eu quero aqui é abrir, e desculpa discordar do senhor, a caixa preta que existe sim. Não venha me dizer aqui, diante dos meus olhos, que está tudo claro e transparente. Não trate essa cidade como idiota, porque não há idiotas nesta Câmara e não há pessoas que acham que vai tudo bem no transporte público. Quem vê o senhor falando aqui, parece que está diante de um servidor público que tão somente fez benfeitorias a essa cidade. O senhor Diogo Prosdoscimi que esteve aqui na última quarta-feira foi muito incisivo e claro ao deixar evidente que a BHTrans não presta um bom serviço, que é impossível fiscalizar as empresas de ônibus porque este contrato é draconiano e beneficia empresários em detrimento da população de Belo Horizonte”, começou Gabriel.
Na sequência, Gabriel se exalta. Ele também trouxe à tona a questão de Bouzada ter ministrado aulas criadas pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Belo Horizonte (Setra-BH), ligado à BHTrans, em uma faculdade particular da capital mineira. Bouzada também atua como professor e confirmou o fato, mas não soube informar o quanto recebeu com essas aulas.
“Desculpa senhor Célio, pode ter servidores dedicados, mas não entrega merda nenhuma para essa cidade de positivo. Há um serviço mal feito, há ônibus abarrotados, há gente que espera e é tratada como lixo nos ônibus, e o senhor vem aqui tal qual um pavão envaidecido dizer que essa empresa é uma maravilha? Me desculpa senhor Célio, há uma desconexão entre o que o senhor está falando e a realidade do município. Total. Então, faço essas duas perguntas para deixar claro: estamos diante de alguém que recebeu e não sabe quanto, talvez cuide de suas finanças como cuidou da BHTrans, não sabe quanto recebeu por ser professor e que desconhece, vejam que cinismo, uma operação da Polícia Federal que escancarou que o responsável pelos contratos recebeu quatro anos depois meio milhão de reais de consultoria”.
O depoente não se manifestou após as fortes declarações. Ao passar a palavra a outros vereadores, Gabriel afirmou que Bouzada será reconvocado na condição de investigado. Ele esteve na Câmara de BH nesta quarta-feira após aprovação de requerimento de convite, de autoria justamente do presidente da CPI, e falou na condição de testemunha. “Vamos ser mais sinceros nesta comissão”.
Wanderley Porto (Patriota), primeiro signatário do requerimento, Reinaldo Gomes Preto Sacolão (MDB) Gabriel, Professor Claudiney Dulim, Bella Gonçalves (Psol), Braulio Lara e Rubão (PP) são os membros titulares da comissão que busca abrir a “caixa preta” da BHTrans.
Fernando Luiz (PSD), Professora Marli (PP), Henrique Braga (PSDB), Leo (PSL), Macaé Evaristo (PT), Fernanda Pereira Altoé (Novo) e Wilsinho da Tabu (PP) são os membros suplentes da CPI. A comissão acontece de forma ordinária durante a manhã de todas as quartas-feiras e semipresencial, por conta da pandemia de COVID-19.
Retaliação à Prefeitura de BH
Bouzada afirmou durante depoimento à CPI que as empresas usaram a retirada dos agentes de bordo, conhecidos como cobradores ou trocadores, dos ônibus como forma de retaliação à paralisação de reajustes no valor das tarifas. Atualmente, o valor da tarifa municipal é de R$ 4,50 desde janeiro de 2019, após briga judicial. O presidente da CPI pontuou a questão.
“O senhor Célio Bouzada afirmou categoricamente que as empresas de ônibus retaliaram a Prefeitura de Belo Horizonte. Portanto, agiram de modo a descumprir o contrato vigente. Isso é uma pontuação fundamental no dia de hoje. Há uma afirmação do presidente da BHTrans do período de 2017 a 2020 que houve retaliação de empresários à Prefeitura de Belo Horizonte. Portanto, uma ação penosa, premeditada, de empresários contra a população de Belo Horizonte para descumprir um contrato”, afirmou Gabriel, sobre o contrato que vigora desde 2009 no prazo mínimo de 20 anos, após formulação em 2008.
Bouzada também foi acusado de mentir por Gabriel sobre a auditoria independente de 2018, que propôs ajuste da passagem para R$ 6,35. “Só para pontuar, o senhor mentiu. Mas tudo bem, é uma mentira, e por isso o senhor vai voltar aqui na condição de investigado. Porque o senhor deu por auditoria algo que não é (...) Quando as empresas afirmam que algo custou X ou algo custou Y, esses canalhas estão mentindo para a cidade. E por isso quando o senhor topa dar aula para esses canalhas e receber, tenho mesmo que me exaltar”.