A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) está descontente com o número de vacinas contra a COVID-19 repassadas pelo governo mineiro na última leva de imunizantes. A cidade esperava receber cerca de 70 mil doses, mas ficou com pouco mais de 19,3 mil. Nesta terça-feira (15/6), ao comentar o tema, o secretário municipal de Saúde, Jackson Machado Pinto, atribuiu a diminuição ao que chamou de "uso político" da vacina. O Ministério Público vai ser acionado.
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PBH vacinaria público de 53 a 55 anos com doses que estado não entregouSecretário de Saúde: população de BH ficou sem 50 mil doses da vacinaKalil x Zema: alianças para 2022 começam a ser discutidas'Se provar, o mundo vai cair', diz Kalil sobre superfaturamento da CovaxinDesembargador Marcos Lincoln dos Santos é o novo presidente do TRE-MGO Estado de Minas apurou, porém, que nos círculos internos da prefeitura belo-horizontina a corrida rumo ao pleito de 2022 é elencada como principal motivo para a repentina diminuição nos repasses.
O governo de Minas, por seu turno, diz não ter autonomia para mudar o quantitativo dos repasses, definido preliminarmente pelo Ministério da Saúde.
Nesta terça-feira, ao anunciar que todos os cidadãos do estado maiores de 18 anos serão vacinados com a primeira dose até o fim de outubro, o secretário estadual de Saúde, Fábio Baccheretti, afirmou que os cálculos são referendados por pareceres técnicos.
Ao ser questionado sobre possível relação entre o caso dos imunizantes e a disputa entre Kalil e Zema, Jackson Machado desconversou. Segundo ele, é possível especular motivos para a queda no número de injeções distribuídas às autoridades de BH, mas não há como cravar a justificativa.
Antes, quando perguntado sobre as ditas questões políticas que afetam o enfrentamento à crise sanitária, o médico tergiversou na resposta. "Para bom entendedor, meia palavra basta", disse, em entrevista coletiva.
Apesar das esquivas, o secretário foi taxativo ao garantir que há figuras tentando utilizar a vacina para fins políticos. "Não resta a menor dúvida de que isso foi por uso político da vacina. Me deixa indignado o fato de usarem a vacina – e a pandemia – como motivo de política. Fazer aglomeração para inaugurar hospital, tudo bem. É um critério político. Uma maneira de fazer política. Inaugurar e asfaltar estradas, tudo bem. Agora, usar a vacina para isso? Fico indignado", sustentou.
Com as doses projetadas, mas não entregues, a prefeitura esperava vacinar cidadãos de 53 a 55 anos. Agora, a saúde municipal não nutre expectativas de convocar novas faixas etárias nesta semana.
A Prefeitura de BH explicou que o Ministério da Saúde estabeleceu dois critérios para os estados distribuírem as vacinas entre seus municípios: a população proporcional a cada público contemplado (tais como idade e comorbidade) e a adesão à campanha de vacinação da gripe em anos anteriores.
"Por esse critério, Belo Horizonte tem direito a algo em torno de 14% dos imunizantes destinados a Minas Gerais. Na semana passada, no entanto, o índice foi de 3,3% – sem que a administração municipal fosse comunicada previamente e nem apresentada qualquer justificativa", informou a gestão de Kalil, em nota.
Segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES), o Ministério da Saúde utiliza as bases de dados das campanhas de imunização contra a gripe de 2020, 2019 e 2018 para determinar o número de doses enviadas a cada localidade.
Para equilibrar eventuais diferenças, cálculo referendado por entidades como o Conselho de Emergência em Saúde (COES) e a Comissão Intergestores Bipartite (CIB), ligada à SES, passou a considerar as pessoas com comorbidades em proporção ao total de habitantes que têm entre 18 e 59 anos.
"Foi observado que aproximadamente 14% da população de 18 a 59 anos de cada município corresponde à parcela de pessoas do grupo com comorbidade. Nas últimas remessas, porém, Belo Horizonte recebeu doses correspondentes a 12% da população com comorbidade, enquanto vários municípios receberam quantitativos menores, entre 7% e 8%. Portanto, para equilibrar essa distribuição, a última remessa enviada à capital foi com uma quantidade menor de vacinas, conforme decisão em CIB", lê-se em posicionamento enviado pelo governo mineiro.
A reportagem procurou o secretário-geral do governo Zema, Mateus Simões, sobre o dito "uso político" das vacinas citado por Jackson. Em resposta, Simões assegurou que os critérios seguidos para a distribuição de doses são "extremamente técnicos".
Incômodo com postura de Zema ao se vacinar em BH
Ao discorrer sobre o cronograma de imunização em Belo Horizonte, Jackson Machado transpareceu incômodo com a forma como Zema conduziu a própria imunização, nesta terça-feira, em um posto de Saúde da Pampulha. Ele o afirmou que, se convidado, Kalil pode se encontrar com o governador para tratar dos repasses de doses.
"Se o governador chamar o prefeito, ele irá de muito bom grado. Mas duvido que o governador o convide. O governador se vacinou hoje e nem sequer teve a delicadeza de comunicar à secretaria municipal de Saúde para ir lá recebê-lo", opinou.
"Converso com o secretário Baccheretti quase todos os dias, Tecnicamente, Belo Horizonte se afina muito com a Secretaria de Estado de Saúde. Mas, nesse caso específico das vacinas, essa conversa foi furada", assegurou.
Ministério da Saúde também vai ser acionado
O chefe da Saúde belo-horizontina denunciou, ainda, cortes nos repasses de remédios necessários para a intubação de pacientes. A diminuição na transferência de medicamentos e o montante de vacinas encaminhados à cidade serão alvo de ofícios remetidos, além do MPMG, ao Ministério da Saúde.
"Sabemos que o Estado de São Paulo tem quase 10 mil leitos; Minas tem 4 mil leitos; Mato Grosso do Sul, 900 leitos. E o Mato Grosso do Sul recebe proporcionalmente uma quantidade muito maior de kit intubação do que São Paulo ou Minas Gerais", alegou Jackson.
Kalil já admite pré-candidatura
Nesta semana, Alexandre Kalil reconheceu que é, sim, pré-candidato ao governo mineiro. O prefeito, contudo, assegurou que eventual participação na corrida eleitoral só vai se concretizar se puder entregar Belo Horizonte em boas condições.
Zema também reconhece o desejo de buscar a reeleição.
Na semana passada, o EM mostrou que há costuras para viabilizar a candidatura do pessedista. O PDT deve caminhar com Kalil, que pode contar com o apoio do presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Agostinho Patrus (PV).
O Novo, que montou chapa "puro-sangue" para a eleição de 2018, deve ter coligação em torno de Zema. Um dos partidos que pode compor o cordão é o PP, do deputado federal Marcelo Aro, próximo ao governador.