A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) está descontente com o número de vacinas contra a COVID-19 repassadas pelo governo mineiro na última leva de imunizantes. A cidade esperava receber cerca de 70 mil doses, mas ficou com pouco mais de 19,3 mil. Nesta terça-feira (15/6), ao comentar o tema, o secretário municipal de Saúde, Jackson Machado Pinto, atribuiu a diminuição ao que chamou de "uso político" da vacina. O Ministério Público vai ser acionado.
Publicamente, como visto nas falas de Jackson, a administração municipal não atribui o imbróglio em torno das vacinas à iminente disputa eleitoral entre o governador Romeu Zema (Novo) e o prefeito Alexandre Kalil (PSD) e aos contornos da relação entre eles.
O Estado de Minas apurou, porém, que nos círculos internos da prefeitura belo-horizontina a corrida rumo ao pleito de 2022 é elencada como principal motivo para a repentina diminuição nos repasses.
O governo de Minas, por seu turno, diz não ter autonomia para mudar o quantitativo dos repasses, definido preliminarmente pelo Ministério da Saúde.
Nesta terça-feira, ao anunciar que todos os cidadãos do estado maiores de 18 anos serão vacinados com a primeira dose até o fim de outubro, o secretário estadual de Saúde, Fábio Baccheretti, afirmou que os cálculos são referendados por pareceres técnicos.
Ao ser questionado sobre possível relação entre o caso dos imunizantes e a disputa entre Kalil e Zema, Jackson Machado desconversou. Segundo ele, é possível especular motivos para a queda no número de injeções distribuídas às autoridades de BH, mas não há como cravar a justificativa.
Antes, quando perguntado sobre as ditas questões políticas que afetam o enfrentamento à crise sanitária, o médico tergiversou na resposta. "Para bom entendedor, meia palavra basta", disse, em entrevista coletiva.
Apesar das esquivas, o secretário foi taxativo ao garantir que há figuras tentando utilizar a vacina para fins políticos. "Não resta a menor dúvida de que isso foi por uso político da vacina. Me deixa indignado o fato de usarem a vacina – e a pandemia – como motivo de política. Fazer aglomeração para inaugurar hospital, tudo bem. É um critério político. Uma maneira de fazer política. Inaugurar e asfaltar estradas, tudo bem. Agora, usar a vacina para isso? Fico indignado", sustentou.
Com as doses projetadas, mas não entregues, a prefeitura esperava vacinar cidadãos de 53 a 55 anos. Agora, a saúde municipal não nutre expectativas de convocar novas faixas etárias nesta semana.
A Prefeitura de BH explicou que o Ministério da Saúde estabeleceu dois critérios para os estados distribuírem as vacinas entre seus municípios: a população proporcional a cada público contemplado (tais como idade e comorbidade) e a adesão à campanha de vacinação da gripe em anos anteriores.
"Por esse critério, Belo Horizonte tem direito a algo em torno de 14% dos imunizantes destinados a Minas Gerais. Na semana passada, no entanto, o índice foi de 3,3% – sem que a administração municipal fosse comunicada previamente e nem apresentada qualquer justificativa", informou a gestão de Kalil, em nota.
Segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES), o Ministério da Saúde utiliza as bases de dados das campanhas de imunização contra a gripe de 2020, 2019 e 2018 para determinar o número de doses enviadas a cada localidade.
Para equilibrar eventuais diferenças, cálculo referendado por entidades como o Conselho de Emergência em Saúde (COES) e a Comissão Intergestores Bipartite (CIB), ligada à SES, passou a considerar as pessoas com comorbidades em proporção ao total de habitantes que têm entre 18 e 59 anos.
"Foi observado que aproximadamente 14% da população de 18 a 59 anos de cada município corresponde à parcela de pessoas do grupo com comorbidade. Nas últimas remessas, porém, Belo Horizonte recebeu doses correspondentes a 12% da população com comorbidade, enquanto vários municípios receberam quantitativos menores, entre 7% e 8%. Portanto, para equilibrar essa distribuição, a última remessa enviada à capital foi com uma quantidade menor de vacinas, conforme decisão em CIB", lê-se em posicionamento enviado pelo governo mineiro.
A reportagem procurou o secretário-geral do governo Zema, Mateus Simões, sobre o dito "uso político" das vacinas citado por Jackson. Em resposta, Simões assegurou que os critérios seguidos para a distribuição de doses são "extremamente técnicos".
Ao discorrer sobre o cronograma de imunização em Belo Horizonte, Jackson Machado transpareceu incômodo com a forma como Zema conduziu a própria imunização, nesta terça-feira, em um posto de Saúde da Pampulha. Ele o afirmou que, se convidado, Kalil pode se encontrar com o governador para tratar dos repasses de doses.
"Se o governador chamar o prefeito, ele irá de muito bom grado. Mas duvido que o governador o convide. O governador se vacinou hoje e nem sequer teve a delicadeza de comunicar à secretaria municipal de Saúde para ir lá recebê-lo", opinou.
"Converso com o secretário Baccheretti quase todos os dias, Tecnicamente, Belo Horizonte se afina muito com a Secretaria de Estado de Saúde. Mas, nesse caso específico das vacinas, essa conversa foi furada", assegurou.
O chefe da Saúde belo-horizontina denunciou, ainda, cortes nos repasses de remédios necessários para a intubação de pacientes. A diminuição na transferência de medicamentos e o montante de vacinas encaminhados à cidade serão alvo de ofícios remetidos, além do MPMG, ao Ministério da Saúde.
"Sabemos que o Estado de São Paulo tem quase 10 mil leitos; Minas tem 4 mil leitos; Mato Grosso do Sul, 900 leitos. E o Mato Grosso do Sul recebe proporcionalmente uma quantidade muito maior de kit intubação do que São Paulo ou Minas Gerais", alegou Jackson.
Nesta semana, Alexandre Kalil reconheceu que é, sim, pré-candidato ao governo mineiro. O prefeito, contudo, assegurou que eventual participação na corrida eleitoral só vai se concretizar se puder entregar Belo Horizonte em boas condições.
Zema também reconhece o desejo de buscar a reeleição.
Na semana passada, o EM mostrou que há costuras para viabilizar a candidatura do pessedista. O PDT deve caminhar com Kalil, que pode contar com o apoio do presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Agostinho Patrus (PV).
O Novo, que montou chapa "puro-sangue" para a eleição de 2018, deve ter coligação em torno de Zema. Um dos partidos que pode compor o cordão é o PP, do deputado federal Marcelo Aro, próximo ao governador.
Publicamente, como visto nas falas de Jackson, a administração municipal não atribui o imbróglio em torno das vacinas à iminente disputa eleitoral entre o governador Romeu Zema (Novo) e o prefeito Alexandre Kalil (PSD) e aos contornos da relação entre eles.
O Estado de Minas apurou, porém, que nos círculos internos da prefeitura belo-horizontina a corrida rumo ao pleito de 2022 é elencada como principal motivo para a repentina diminuição nos repasses.
O governo de Minas, por seu turno, diz não ter autonomia para mudar o quantitativo dos repasses, definido preliminarmente pelo Ministério da Saúde.
Nesta terça-feira, ao anunciar que todos os cidadãos do estado maiores de 18 anos serão vacinados com a primeira dose até o fim de outubro, o secretário estadual de Saúde, Fábio Baccheretti, afirmou que os cálculos são referendados por pareceres técnicos.
Ao ser questionado sobre possível relação entre o caso dos imunizantes e a disputa entre Kalil e Zema, Jackson Machado desconversou. Segundo ele, é possível especular motivos para a queda no número de injeções distribuídas às autoridades de BH, mas não há como cravar a justificativa.
Antes, quando perguntado sobre as ditas questões políticas que afetam o enfrentamento à crise sanitária, o médico tergiversou na resposta. "Para bom entendedor, meia palavra basta", disse, em entrevista coletiva.
Apesar das esquivas, o secretário foi taxativo ao garantir que há figuras tentando utilizar a vacina para fins políticos. "Não resta a menor dúvida de que isso foi por uso político da vacina. Me deixa indignado o fato de usarem a vacina – e a pandemia – como motivo de política. Fazer aglomeração para inaugurar hospital, tudo bem. É um critério político. Uma maneira de fazer política. Inaugurar e asfaltar estradas, tudo bem. Agora, usar a vacina para isso? Fico indignado", sustentou.
Com as doses projetadas, mas não entregues, a prefeitura esperava vacinar cidadãos de 53 a 55 anos. Agora, a saúde municipal não nutre expectativas de convocar novas faixas etárias nesta semana.
A Prefeitura de BH explicou que o Ministério da Saúde estabeleceu dois critérios para os estados distribuírem as vacinas entre seus municípios: a população proporcional a cada público contemplado (tais como idade e comorbidade) e a adesão à campanha de vacinação da gripe em anos anteriores.
"Por esse critério, Belo Horizonte tem direito a algo em torno de 14% dos imunizantes destinados a Minas Gerais. Na semana passada, no entanto, o índice foi de 3,3% – sem que a administração municipal fosse comunicada previamente e nem apresentada qualquer justificativa", informou a gestão de Kalil, em nota.
Segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES), o Ministério da Saúde utiliza as bases de dados das campanhas de imunização contra a gripe de 2020, 2019 e 2018 para determinar o número de doses enviadas a cada localidade.
Para equilibrar eventuais diferenças, cálculo referendado por entidades como o Conselho de Emergência em Saúde (COES) e a Comissão Intergestores Bipartite (CIB), ligada à SES, passou a considerar as pessoas com comorbidades em proporção ao total de habitantes que têm entre 18 e 59 anos.
"Foi observado que aproximadamente 14% da população de 18 a 59 anos de cada município corresponde à parcela de pessoas do grupo com comorbidade. Nas últimas remessas, porém, Belo Horizonte recebeu doses correspondentes a 12% da população com comorbidade, enquanto vários municípios receberam quantitativos menores, entre 7% e 8%. Portanto, para equilibrar essa distribuição, a última remessa enviada à capital foi com uma quantidade menor de vacinas, conforme decisão em CIB", lê-se em posicionamento enviado pelo governo mineiro.
A reportagem procurou o secretário-geral do governo Zema, Mateus Simões, sobre o dito "uso político" das vacinas citado por Jackson. Em resposta, Simões assegurou que os critérios seguidos para a distribuição de doses são "extremamente técnicos".
Incômodo com postura de Zema ao se vacinar em BH
Ao discorrer sobre o cronograma de imunização em Belo Horizonte, Jackson Machado transpareceu incômodo com a forma como Zema conduziu a própria imunização, nesta terça-feira, em um posto de Saúde da Pampulha. Ele o afirmou que, se convidado, Kalil pode se encontrar com o governador para tratar dos repasses de doses.
"Se o governador chamar o prefeito, ele irá de muito bom grado. Mas duvido que o governador o convide. O governador se vacinou hoje e nem sequer teve a delicadeza de comunicar à secretaria municipal de Saúde para ir lá recebê-lo", opinou.
"Converso com o secretário Baccheretti quase todos os dias, Tecnicamente, Belo Horizonte se afina muito com a Secretaria de Estado de Saúde. Mas, nesse caso específico das vacinas, essa conversa foi furada", assegurou.
Ministério da Saúde também vai ser acionado
O chefe da Saúde belo-horizontina denunciou, ainda, cortes nos repasses de remédios necessários para a intubação de pacientes. A diminuição na transferência de medicamentos e o montante de vacinas encaminhados à cidade serão alvo de ofícios remetidos, além do MPMG, ao Ministério da Saúde.
"Sabemos que o Estado de São Paulo tem quase 10 mil leitos; Minas tem 4 mil leitos; Mato Grosso do Sul, 900 leitos. E o Mato Grosso do Sul recebe proporcionalmente uma quantidade muito maior de kit intubação do que São Paulo ou Minas Gerais", alegou Jackson.
Kalil já admite pré-candidatura
Nesta semana, Alexandre Kalil reconheceu que é, sim, pré-candidato ao governo mineiro. O prefeito, contudo, assegurou que eventual participação na corrida eleitoral só vai se concretizar se puder entregar Belo Horizonte em boas condições.
Zema também reconhece o desejo de buscar a reeleição.
Na semana passada, o EM mostrou que há costuras para viabilizar a candidatura do pessedista. O PDT deve caminhar com Kalil, que pode contar com o apoio do presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Agostinho Patrus (PV).
O Novo, que montou chapa "puro-sangue" para a eleição de 2018, deve ter coligação em torno de Zema. Um dos partidos que pode compor o cordão é o PP, do deputado federal Marcelo Aro, próximo ao governador.