Os últimos três posts no Twitter do ex-presidente da República Michel Temer são de condolências. Pelas mortes do ex-vice-presidente Marco Maciel; do servidor aposentado da Câmara dos Deputados Mozart Vianna; e do ex-prefeito de São Paulo Bruno Covas. O quinto post mais recente, lá de março, é uma esquiva: “Recebi a notícia de que amigos lançaram a minha candidatura. Fico lisonjeado, porque é um reconhecimento ao meu governo. Mas a única candidatura a que me disponho é a tomar a 2ª dose da vacina. Nada mais!”.
Ao Correio, Temer garante não ter mudado de ideia. “Não está nos meus planos. Já passei pela Presidência da República”, diz, taxativo. Aposta numa terceira via – “acho útil que surja como homenagem ao próprio eleitor, que terá opção entre as várias correntes que se apresentarem”, mas diz que o MDB só tomará decisões sobre candidaturas no ano que vem.
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Dezenas de manifestantes fazem protesto em Berlim, na Alemanha, contra BolsonaroManifestações contra Bolsonaro ganham caráter partidárioBolsonaro exibe camisa com alusão à eleição de 2022Manifestações querem levar 1 milhão de pessoas às ruas contra BolsonaroO ex-presidente defende um sistema de semipresidencialismo para o Brasil, que, segundo ele, reduziria a instabilidade política. “O impeachment cria traumas institucionais. Nossa Constituição não tem 33 anos, e dois impedimentos já se verificaram. Não há presidente que não tenha sido objeto de pedidos de impedimentos. E será assim sempre, gerando impasses institucionais”, lamenta o ex-presidente da República, também respeitado como constitucionalista.
Apontado pelo ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha de ter “liderado” o processo de impeachment de Dilma Rousseff, Temer responde com poucas palavras: “O impedimento derivou do povo nas ruas. Cumpriu-se a Constituição Federal, simplesmente”.
Em relação à pandemia, Temer evita críticas, mas reconhece que o presidente da República poderia ter centralizado toda a atividade de combate à pandemia, chamando governadores, chefes dos Poderes e até a oposição para trabalharem juntos. “O vírus não escolhe integrante de uma ou outra agremiação partidária. Atinge a todos”, diz.
O senhor já foi citado como possível candidato a presidente da República. Pensa em concorrer em 2022?
Não está nos meus planos. Já passei pela Presidência da República.
O senhor conversou com Rodrigo Pacheco há alguns dias. Considera que ele tem atributos para representar a terceira via?
Não tenho dúvida de seus atributos. É preciso que ele se articule com todos os candidatáveis à chamada terceira via.
Acredita que surgirá uma terceira via, ou a polarização PT versus Bolsonaro já está posta?
Acho útil que surja como homenagem ao próprio eleitor, que terá opção entre as várias correntes que se apresentarem.
Esta semana, o senhor disse que pensou em apresentar um projeto que estabeleceria o semipresidencialismo e que isso não evoluiu. Por que não evoluiu?
Exerci uma espécie de semipresidencialismo quando ocupei a Presidência da República, chamando o Congresso Nacional para governar comigo. Deu resultado. Tanto que pude levar adiante reformas constitucionais há muito pensadas e jamais efetivadas. Foi também o que permitiu a recuperação do PIB e das estatais, com a consequente redução da inflação e dos juros.
O semipresidencialismo no Brasil diminuiria a instabilidade política?
Sem dúvida alguma. O impeachment cria traumas institucionais. Nossa Constituição não tem 33 anos, e dois impedimentos já se verificaram. Não há presidente que não tenha sido objeto de pedidos de impedimentos. E será assim sempre, gerando impasses institucionais. No semipresidencialismo, o presidente da República é eleito e terá poderes significativos, mas partilhará o governo com o primeiro ministro, por ele nomeado, que terá sede no Parlamento. Para formar o governo, portanto, para ter governo, é preciso maioria parlamentar. Se perder a maioria, cai o governo com muita naturalidade, sem traumas de natureza institucional. Além do que, haverá, conceitualmente, dois partidos: o da situação, que permitiu a formação do gabinete; e a oposição, que se antagoniza com o governo. Ademais, o Legislativo passa a ser também executor, o que lhe dará maior responsabilidade pela governabilidade.
Sistema de governo com a chefia da administração pública partilhada entre o presidente e um primeiro-ministro reduziria discussões sobre impeachment e poderia diminuir o número de partidos políticos? Seria o ideal para o momento?
Certamente, sim.
Vê alguma ameaça às instituições ou à democracia como fruto da polarização?
Não vejo. As instituições estão solidificadas, e o povo não admite a destruição da democracia.
O MDB nunca se uniu em torno de uma campanha presidencial. Por que seria diferente agora?
O MDB nada decidiu até o presente momento. Vamos esperar o ano próximo, que é o adequado para decisões dessa natureza.
Analisando o período em que exerceu a Presidência, o que o senhor faria diferente, além da recepção a Joesley Batista no Alvorada?
O que posso dizer é que aquele gesto impediu que eu completasse as reformas, já que a tributária e administrativa estavam formatadas, e a da Previdência pronta para ir ao plenário. Aquele fato só fez atrasar a reforma da Previdência por dois anos, mas foi fruto do nosso governo, apesar de terem tentado impedi-la.
O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha escreveu em livro que o senhor liderou o processo de impeachment de Dilma Rousseff três meses antes de ir a plenário. Como vê os relatos dele?
O impedimento derivou do povo nas ruas.
Arrepende-se do impeachment da presidente Dilma?
Cumpriu-se a Constituição Federal, simplesmente.
O senhor administrou a Câmara por três vezes. Como avalia a presidência de Arthur Lira?
Acho que o Congresso Nacional tem tido muito protagonismo, e nesse contexto entra a presidência do deputado Arthur Lira.
Como a pandemia pode reforçar os valores humanistas da sociedade? Que ensinamento este momento nos deixa?
Tristemente, em razão dos óbitos, mas registro que a pandemia reforçou os laços de solidariedade humana.
Como vê a perda de tantos brasileiros pela COVID? Os governos deveriam ter sido mais céleres nas decisões? A importância da união em torno de um projeto suprapartidário para mitigar os efeitos da pandemia nos próximos anos é possível?
Acho que cada um cumpriu o seu papel. Mas, para o meu paladar político, o presidente da República poderia ter centralizado toda atividade de combate à pandemia, chamando governadores, chefes dos Poderes e até a oposição para trabalharem juntos. Até a esta última, se poderia argumentar que o vírus não escolhe integrante de uma ou outra agremiação partidária. Atinge a todos.