Aliado do governo de Jair Bolsonaro, o deputado Luis Miranda (DEM-DF) afirmou ter levado a denúncia sobre um esquema de corrupção envolvendo a compra da vacina indiana Covaxin ao próprio presidente. Segundo afirmou ao Estadão, a reunião ocorreu cerca de um mês após o contrato ter sido assinado. Apesar do aviso, o governo seguiu com o negócio em que prevê pagar pelo imunizante um preço 1.000% maior do que o anunciado pela própria fabricante seis meses antes.
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Segundo o parlamentar disse ontem, as suspeitas já haviam sido levadas para o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que nada fez. Na ocasião, seu irmão, que é chefe de importação do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, o servidor Luís Ricardo Fernandes Miranda, chegou a ser demitido após denunciar o esquema de corrupção no processo de compra da vacina indiana Covaxin.
Ao saber da demissão do irmão, Miranda disse ter procurado Pazuello para reverter a decisão. "Fui despachar com o Pazuello e falei que ele (Luís Ricardo) estava sendo exonerado porque estava denunciando um esquema de corrupção. Vou explodir na mídia se fizerem isso com o garoto", disse o deputado, contando sua conversa com o general.
Como o Estadão revelou nesta terça-feira, 22, o governo comprou a Covaxin por um preço 1.000% maior do que, seis meses antes, era anunciado pela própria fabricante. Telegrama sigiloso da embaixada brasileira em Nova Délhi de agosto do ano passado, ao qual o Estadão teve acesso, informava que o imunizante produzido pela Bharat Biotech tinha o preço estimado em 100 rúpias (US$ 1,34 a dose). Em fevereiro deste ano, o Ministério da Saúde pagou US$ 15 por unidade (R$ 80,70, na cotação da época) - a mais cara das seis vacinas compradas até agora.
Diferentemente dos demais imunizantes, negociados diretamente com seus fabricantes (no País ou no exterior), a compra da Covaxin pelo Brasil foi intermediada pela Precisa Medicamentos. A empresa virou alvo da CPI da Covid, que na semana passada autorizou a quebra dos sigilos telefônico, telemático, fiscal e bancário de um de seus sócios, Francisco Maximiano. O depoimento do empresário na comissão estava marcado para hoje, mas ele alegou estar em quarentena após voltar da Índia e não compareceu.
O Ministério Público Federal (MPF), que investiga suspeitas envolvendo a compra da Covaxin, afirmou ver indícios de crime e “interesses divorciados do interesse público” na contratação. A procuradora da República Luciana Loureiro Oliveira, do Distrito Federal, decidiu enviar parte da apuração para a área criminal do MPF.
Ontem, o vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou que o colegiado passará a investigar agentes públicos e privados pelos crimes de corrupção ativa e passiva. Nesse caso, as conclusões da apuração poderão ser encaminhadas ao Ministério Público Federal e gerar uma denúncia na Justiça.