Jornal Estado de Minas

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Depois de ser citado na CPI, Eduardo Bolsonaro chama Luis Miranda de '171'

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) chamou o também deputado Luis Miranda (DEM-DF) de ‘171’, nesta sexta-feira (25/06). O filho do presidente da República publicou no Twitter o termo - uma referência ao artigo do Código Penal que define o crime de estelionato. 





Leia: Irmãos Miranda prestam depoimento à CPI; veja ao vivo  

Luis Miranda depõe à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da COVID junto com o irmão Luis Ricardo Miranda, chefe de importação do Departamento de Logística do Ministério da Saúde.

O filho 03 do presidente compartilhou uma foto do deputado com um colete a prova de balas e uma Bíblia na mão. "Já vi 171 na minha vida, mas igual a esse Luis Miranda tá para nascer... Meu Deus!”, escreveu na legenda.
 
 
 
Mais cedo, Luis Miranda afirmou à CPI da COVID que avisou o Eduardo Bolsonaro sobre as denúncias da Covaxin. O democrata disse que passou o telefone do irmão Luis Ricardo, servidor do Ministério da Saúde, ao deputado do PSL. 





Na sequência, também em depoimento à CPI, o chefe de importação do Departamento de Logística da Pasta negou que tivesse sido procurado pelo filho do presidente.

 
"Eduardo Bolsonaro ligou?", perguntou Renan Calheiros, relator da CPI, ao que responde o servidor do governo federal: "Não".
  
 

Depoimento aguardado

O deputado Luis Miranda (DEM-DF) e o irmão, Luis Ricardo Fernandes Miranda, servidor do Ministério da Saúde, prestam depoimento nesta sexta-feira (25/6) à CPI da COVID-19 no Senado. Os dois falam sobre as negociações da vacina Covaxin, produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech.
 
Os irmãos se tornaram alvo da CPI após o deputado federal afirmar ter alertado o presidente Jair Bolsonaro sobre indícios de irregularidades na negociação do Ministério da Saúde para a compra da vacina indiana. O parlamentar é irmão de Luís Ricardo Fernandes Miranda, chefe da Divisão de Importação do Ministério da Saúde. 





O servidor, por sua vez, disse ter sofrido pressão atípica de superiores e que membros do governo federal articularam junto à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em favor da vacina. O parlamentar ainda alegou ter mais informações sobre o caso e colocou-se à disposição da comissão para prestar depoimento ao lado do irmão.
 
Leia: Luis Miranda: 'Bolsonaro ainda vai pedir perdão para mim'

Ameaça

No final da tarde de quarta-feira (23/6), o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, concedeu uma entrevista coletiva para explicar a denúncia de superfaturamento.
 
Durante a entrevista, o ministro ameçou o deputado Luis Miranda. "Deus tá vendo. Mas você não vai se entender com Deus só, não. Vai se entender com a gente também", afirmou o ministro. 




 
 

O que é uma CPI?

As comissões parlamentares de inquérito (CPIs) são instrumentos usados por integrantes do Poder Legislativo (vereadores, deputados estaduais, deputados federais e senadores) para investigar fato determinado de grande relevância ligado à vida econômica, social ou legal do país, de um estado ou de um município. Embora tenham poderes de Justiça e uma série de prerrogativas, comitês do tipo não podem estabelecer condenações a pessoas.


Para ser instalado no Senado Federal, uma CPI precisa do aval de, ao menos, 27 senadores; um terço dos 81 parlamentares. Na Câmara dos Deputados, também é preciso aval de ao menos uma terceira parte dos componentes (171 deputados).

Há a possibilidade de criar comissões parlamentares mistas de inquérito (CPMIs), compostas por senadores e deputados. Nesses casos, é preciso obter assinaturas de um terço dos integrantes das duas casas legislativas que compõem o Congresso Nacional.





O que a CPI da COVID investiga?

Instalada pelo Senado Federal em 27 de abril de 2021, após determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), a CPI da COVID trabalha para apurar possíveis falhas e omissões na atuação do governo federal no combate à pandemia do novo coronavírus. O repasse de recursos a estados e municípios também foi incluído na CPI e está na mira dos parlamentares.

O presidente do colegiado é Omar Aziz (PSD-AM). O alagoano Renan Calheiros (MDB) é o relator. O prazo inicial de trabalho são 90 dias, podendo esse período ser prorrogado por mais 90 dias.


Saiba como funciona uma CPI

Após a coleta de assinaturas, o pedido de CPI é apresentado ao presidente da respectiva casa Legislativa. O grupo é oficialmente criado após a leitura em sessão plenária do requerimento que justifica a abertura de inquérito. Os integrantes da comissão são definidos levando em consideração a proporcionalidade partidária — as legendas ou blocos parlamentares com mais representantes arrebatam mais assentos. As lideranças de cada agremiação são responsáveis por indicar os componentes.





Na primeira reunião do colegiado, os componentes elegem presidente e vice. Cabe ao presidente a tarefa de escolher o relator da CPI. O ocupante do posto é responsável por conduzir as investigações e apresentar o cronograma de trabalho. Ele precisa escrever o relatório final do inquérito, contendo as conclusões obtidas ao longo dos trabalhos. 

Em determinados casos, o texto pode ter recomendações para evitar que as ilicitudes apuradas não voltem a ocorrer, como projetos de lei. O documento deve ser encaminhado a órgãos como o Ministério Público e a Advocacia-Geral da União (AGE), na esfera federal.

Conforme as investigações avançam, o relator começa a aprimorar a linha de investigação a ser seguida. No Congresso, sub-relatores podem ser designados para agilizar o processo.

As CPIs precisam terminar em prazo pré-fixado, embora possam ser prorrogadas por mais um período, se houver aval de parte dos parlamentares

O que a CPI pode fazer?

  • chamar testemunhas para oitivas, com o compromisso de dizer a verdade
  • convocar suspeitos para prestar depoimentos (há direito ao silêncio)
  • executar prisões em caso de flagrante
  • solicitar documentos e informações a órgãos ligados à administração pública
  • convocar autoridades, como ministros de Estado — ou secretários, no caso de CPIs estaduais — para depor
  • ir a qualquer ponto do país — ou do estado, no caso de CPIs criadas por assembleias legislativas — para audiências e diligências
  • quebrar sigilos fiscais, bancários e de dados se houver fundamentação
  • solicitar a colaboração de servidores de outros poderes
  • elaborar relatório final contendo conclusões obtidas pela investigação e recomendações para evitar novas ocorrências como a apurada
  • pedir buscas e apreensões (exceto a domicílios)
  • solicitar o indiciamento de envolvidos nos casos apurados

O que a CPI não pode fazer?

Embora tenham poderes de Justiça, as CPIs não podem:

  • julgar ou punir investigados
  • autorizar grampos telefônicos
  • solicitar prisões preventivas ou outras medidas cautelares
  • declarar a indisponibilidade de bens
  • autorizar buscas e apreensões em domicílios
  • impedir que advogados de depoentes compareçam às oitivas e acessem
  • documentos relativos à CPI
  • determinar a apreensão de passaportes

A história das CPIs no Brasil

A primeira Constituição Federal a prever a possibilidade de CPI foi editada em 1934, mas dava tal prerrogativa apenas à Câmara dos Deputados. Treze anos depois, o Senado também passou a poder instaurar investigações. Em 1967, as CPMIs passaram a ser previstas.





Segundo a Câmara dos Deputados, a primeira CPI instalada pelo Legislativo federal brasileiro começou a funcionar em 1935, para investigar as condições de vida dos trabalhadores do campo e das cidades. No Senado, comitê similar foi criado em 1952, quando a preocupação era a situação da indústria de comércio e cimento.

As CPIs ganharam estofo e passaram a ser recorrentes a partir de 1988, quando nova Constituição foi redigida. O texto máximo da nação passou a atribuir poderes de Justiça a grupos investigativos formados por parlamentares.

CPIs famosas no Brasil

1975: CPI do Mobral (Senado) - investigar a atuação do sistema de alfabetização adotado pelo governo militar

1992: CPMI do Esquema PC Farias - culminou no impeachment de Fernando Collor

1993: CPI dos Anões do Orçamento (Câmara) - apurou desvios do Orçamento da União

2000: CPIs do Futebol - (Senado e Câmara, separadamente) - relações entre CBF, clubes e patrocinadores

2001: CPI do Preço do Leite (Assembleia de MG e outros Legislativos estaduais, separadamente) - apurar os valores cobrados pelo produto e as diretrizes para a formulação dos valores

2005: CPMI dos Correios - investigar denúncias de corrupção na empresa estatal

2005: CPMI do Mensalão - apurar possíveis vantagens recebidas por parlamentares para votar a favor de projetos do governo

2006: CPI dos Bingos (Câmara) - apurar o uso de casas de jogo do bicho para crimes como lavagem de dinheiro

2006: CPI dos Sanguessugas (Câmara) - apurou possível desvio de verbas destinadas à Saúde

2015: CPI da Petrobras (Senado) - apurar possível corrupção na estatal de petróleo

2015: Nova CPI do Futebol (Senado) - Investigar a CBF e o comitê organizador da Copa do Mundo de 2014

2019: CPMI das Fake News - disseminação de notícias falsas na disputa eleitoral de 2018

2019: CPI de Brumadinho (Assembleia de MG) - apurar as responsabilidades pelo rompimento da barragem do Córrego do Feijão
 

*Estagiária sob supervisão do subeditor Thiago Ricci 
 




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