O deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e o irmão, Luis Ricardo Fernandes Miranda, servidor do Ministério da Saúde, afirmaram que tem como provar que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) estava ciente das denúncias que fizeram sobre irregularidades na negociação da vacina Covaxin.
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Luis Miranda confirma na CPI que Ricardo Barros foi citado por Bolsonaro Luis Miranda diz que avisou Eduardo Bolsonaro sobre as denúncias da CovaxinLuis Miranda: 'Bolsonaro ainda vai pedir perdão para mim'cpiCOVIDLuis Miranda afirma que irmão teve acesso bloqueado no Ministério da Saúde'Começou com o vírus; agora, chegou ao câncer', diz Renan sobre CPIPresidentes de 11 partidos fecham acordo contra voto impressoPSOL vai ao Supremo com notícia-crime enquadrando Bolsonaro no ECALuis Miranda (DEM-DF): Queríamos abrir os olhos do presidente'Não queria perder minha paz', diz Miranda sobre não citar Ricardo Barros'CPI de sete pilantras', diz Bolsonaro após ser citado em depoimentoOs irmãos deram entrevista para o site O Antagonista, neste sábado, para falar sobre o depoimento que ambos prestaram nessa sexta-feira (25/6) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da COVID-19 no Senado.
Segundo Luis Miranda, o presidente teria sido alertado sobre as irregularidades. Já o irmão, Luis Ricardo afirmou que eles não se arrependem das denúncias.
“Fizemos o que é certo e que seja investigado pelas autoridades competentes. A gente recebeu a documentação, verificou inconsistências e apresentou às autoridades para verificar.”
Segundo o servidor, essa foi a primeira vez que encontrou inconsistências e esteve com o presidente apenas uma vez, no dia 20 de março.
Perguntado se está com medo de alguma represália, ele disse que por enquanto está tranquilo e cumpriu apenas com o seu dever. Além disso, afirmou que não tem pretensões políticas.
Combater a corrupção
O deputado Luis Miranda afirmou que a intenção deles era apenas denunciar as irregularidades.
“A gente não disse: ‘Bolsonaro está envolvido com corrupção’. A gente foi nele. E, quando ele evita buscar a verdade e fica rebatendo… Não deveriam nos atacar. Deveriam nos chamar e perguntar quais eram nossas desconfianças.”
Mas, de acordo com ele, aconteceu o contrário. “Simplesmente atacaram as testemunhas tentando descredibilizar a verdade, se referindo a entrevista do ministro Onyx Lorenzoni.
O deputado afirma que com as investigações vai ficar provado que existiam outras irregularidades no Ministério da Saúde, uma vez que a Precisa, empresa que estava intermediando as negociações para a compra da vacina indiana, já era alvo de outras investigações.
“Vai ficar escancarado que tem algo errado de fato. Nós não estamos atacando o governo. Estamos combatendo a corrupção.”
Evitar escândalo no governo
O deputado foi perguntado se acredita que o presidente possa ter dado uma ordem para que as denúncias não fossem investigadas.
“Eu acho que ele jamais faria isso. Eu acho que o presidente não gostou do que estavam fazendo (no Ministério da Saúde). Eu sinto que ele não foi combativo para não estourar um escândalo dentro do ministério dele. Porque iam dizer que no governo Bolsonaro, em plena pandemia, estava rolando um esquema de corrupção.”
Para o deputado, o maior erro do presidente é que, para manter a bandeira de combate à corrupção, permite que aconteçam coisas no ministério que não sejam investigadas.
Surpresa mágica
O deputado foi perguntado se não tem medo de que, nas próximas semanas, fique a palavra dele contra a do presidente.
“Aí ele vai ter uma surpresa mágica. Se ele fizer isso, vou ter que fazer uma coisa que nunca um parlamentar deve fazer contra um presidente. Aí ele vai ficar constrangido porque eu tenho como provar. Na hora certa.”
Questionado se ele gravou o presidente, Miranda foi evasivo. “Tinham três pessoas na sala. Eu como parlamentar não o gravaria, mas vamos mudar esse assunto”, concluiu.
* Estagiária sob supervisão da subeditora Ellen Cristie.
O que é uma CPI?
As comissões parlamentares de inquérito (CPIs) são instrumentos usados por integrantes do Poder Legislativo (vereadores, deputados estaduais, deputados federais e senadores) para investigar fato determinado de grande relevância ligado à vida econômica, social ou legal do país, de um estado ou de um município. Embora tenham poderes de Justiça e uma série de prerrogativas, comitês do tipo não podem estabelecer condenações a pessoas.
Para ser instalado no Senado Federal, uma CPI precisa do aval de, ao menos, 27 senadores; um terço dos 81 parlamentares. Na Câmara dos Deputados, também é preciso aval de ao menos uma terceira parte dos componentes (171 deputados).
Há a possibilidade de criar comissões parlamentares mistas de inquérito (CPMIs), compostas por senadores e deputados. Nesses casos, é preciso obter assinaturas de um terço dos integrantes das duas casas legislativas que compõem o Congresso Nacional.
O que a CPI da COVID investiga?
Instalada pelo Senado Federal em 27 de abril de 2021, após determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), a CPI da COVID trabalha para apurar possíveis falhas e omissões na atuação do governo federal no combate à pandemia do novo coronavírus. O repasse de recursos a estados e municípios também foi incluído na CPI e está na mira dos parlamentares.
O presidente do colegiado é Omar Aziz (PSD-AM). O alagoano Renan Calheiros (MDB) é o relator. O prazo inicial de trabalho são 90 dias, podendo esse período ser prorrogado por mais 90 dias.
Saiba como funciona uma CPI
Após a coleta de assinaturas, o pedido de CPI é apresentado ao presidente da respectiva casa Legislativa. O grupo é oficialmente criado após a leitura em sessão plenária do requerimento que justifica a abertura de inquérito. Os integrantes da comissão são definidos levando em consideração a proporcionalidade partidária — as legendas ou blocos parlamentares com mais representantes arrebatam mais assentos. As lideranças de cada agremiação são responsáveis por indicar os componentes.
Na primeira reunião do colegiado, os componentes elegem presidente e vice. Cabe ao presidente a tarefa de escolher o relator da CPI. O ocupante do posto é responsável por conduzir as investigações e apresentar o cronograma de trabalho. Ele precisa escrever o relatório final do inquérito, contendo as conclusões obtidas ao longo dos trabalhos.
Em determinados casos, o texto pode ter recomendações para evitar que as ilicitudes apuradas não voltem a ocorrer, como projetos de lei. O documento deve ser encaminhado a órgãos como o Ministério Público e a Advocacia-Geral da União (AGE), na esfera federal.
Conforme as investigações avançam, o relator começa a aprimorar a linha de investigação a ser seguida. No Congresso, sub-relatores podem ser designados para agilizar o processo.
As CPIs precisam terminar em prazo pré-fixado, embora possam ser prorrogadas por mais um período, se houver aval de parte dos parlamentares
O que a CPI pode fazer?
- chamar testemunhas para oitivas, com o compromisso de dizer a verdade
- convocar suspeitos para prestar depoimentos (há direito ao silêncio)
- executar prisões em caso de flagrante
- solicitar documentos e informações a órgãos ligados à administração pública
- convocar autoridades, como ministros de Estado — ou secretários, no caso de CPIs estaduais — para depor
- ir a qualquer ponto do país — ou do estado, no caso de CPIs criadas por assembleias legislativas — para audiências e diligências
- quebrar sigilos fiscais, bancários e de dados se houver fundamentação
- solicitar a colaboração de servidores de outros poderes
- elaborar relatório final contendo conclusões obtidas pela investigação e recomendações para evitar novas ocorrências como a apurada
- pedir buscas e apreensões (exceto a domicílios)
- solicitar o indiciamento de envolvidos nos casos apurados
O que a CPI não pode fazer?
Embora tenham poderes de Justiça, as CPIs não podem:
- julgar ou punir investigados
- autorizar grampos telefônicos
- solicitar prisões preventivas ou outras medidas cautelares
- declarar a indisponibilidade de bens
- autorizar buscas e apreensões em domicílios
- impedir que advogados de depoentes compareçam às oitivas e acessem
- documentos relativos à CPI
- determinar a apreensão de passaportes
A história das CPIs no Brasil
A primeira Constituição Federal a prever a possibilidade de CPI foi editada em 1934, mas dava tal prerrogativa apenas à Câmara dos Deputados. Treze anos depois, o Senado também passou a poder instaurar investigações. Em 1967, as CPMIs passaram a ser previstas.
Segundo a Câmara dos Deputados, a primeira CPI instalada pelo Legislativo federal brasileiro começou a funcionar em 1935, para investigar as condições de vida dos trabalhadores do campo e das cidades. No Senado, comitê similar foi criado em 1952, quando a preocupação era a situação da indústria de comércio e cimento.
As CPIs ganharam estofo e passaram a ser recorrentes a partir de 1988, quando nova Constituição foi redigida. O texto máximo da nação passou a atribuir poderes de Justiça a grupos investigativos formados por parlamentares.
CPIs famosas no Brasil
1975: CPI do Mobral (Senado) - investigar a atuação do sistema de alfabetização adotado pelo governo militar
1992: CPMI do Esquema PC Farias - culminou no impeachment de Fernando Collor
1992: CPMI do Esquema PC Farias - culminou no impeachment de Fernando Collor
1993: CPI dos Anões do Orçamento (Câmara) - apurou desvios do Orçamento da União
2000: CPIs do Futebol - (Senado e Câmara, separadamente) - relações entre CBF, clubes e patrocinadores
2001: CPI do Preço do Leite (Assembleia de MG e outros Legislativos estaduais, separadamente) - apurar os valores cobrados pelo produto e as diretrizes para a formulação dos valores
2005: CPMI dos Correios - investigar denúncias de corrupção na empresa estatal
2005: CPMI do Mensalão - apurar possíveis vantagens recebidas por parlamentares para votar a favor de projetos do governo
2006: CPI dos Bingos (Câmara) - apurar o uso de casas de jogo do bicho para crimes como lavagem de dinheiro
2006: CPI dos Sanguessugas (Câmara) - apurou possível desvio de verbas destinadas à Saúde
2015: CPI da Petrobras (Senado) - apurar possível corrupção na estatal de petróleo
2015: Nova CPI do Futebol (Senado) - Investigar a CBF e o comitê organizador da Copa do Mundo de 2014
2019: CPMI das Fake News - disseminação de notícias falsas na disputa eleitoral de 2018
2019: CPI de Brumadinho (Assembleia de MG) - apurar as responsabilidades pelo rompimento da barragem do Córrego do Feijão