Em meados deste mês, o prefeito de BH, Alexandre Kalil, confirmou que é pré-candidato ao governo de Minas Gerais nas eleições do ano que vem. Contudo, tem dito que não é hora de fazer campanha, diante da gravidade da pandemia de COVID-19, e criticado a polarização, no campo das eleições para presidente, entre Jair Bolsonaro (sem partido) e Luiz Inácio Lula da Silva.
O PSD de Gilberto Kassab não descarta apoio ao ex-presidente Lula. Se isso ocorrer, como o senhor vai se posicionar?
Isso é invenção. O que o Kassab está falando em todas as suas entrevistas é que o PSD terá candidato a Presidência da República. Ele nunca falou em apoiar o Lula.
E quem são os nomes do PSD?
Ah, nós temos vários nomes. Temos o Ratinho Júnior (governador do Paraná), temos o próprio senador Otto Alencar, temos o Omar (Omar Aziz, presidente da CPI da COVID). Temos um monte de nomes. E temos o próprio, que não é do partido, mas seria uma terceira via ótima, que é o presidente do Senado (Rodrigo Pacheco). Por que não?
Sim, sim. E temos que lembrar que o Lula estava na televisão em novembro (na campanha de 2020) pedindo voto contra mim. Eu tenho obrigação de pular no colo dele?
O senhor é pré-candidato ao governo de Minas?
Olha, estou dando o meu tempo. Por este estado que eu vou, por onde passo, por ver que já estão em campanha. Quer dizer já estão em campanha... Quê isso? Estamos com 500 mil caixões. E já tem gente em campanha eleitoral. Isso me desanima.
Desanima, mas o senhor é pré-candidato?
Uai, vamos ver o que vai acontecer até lá. Falta muita água pra passar debaixo dessa ponte.
Qual será a opção do senhor entre Lula e Bolsonaro, já que o senhor não tem admitido apoio eventual a Lula. Ao mesmo tempo, o senhor aceitaria no plano estadual apoio do PT para concorrer ao governo de Minas?
Olha, apoio eu quero de todo mundo. Do Novo, do PT, do PDT, do PSB. Apoio, quero apoio de todos, está certo? Do PSL...
E numa eventual disputa entre Lula e Bolsonaro?
Eu me dou ao direito, inclusive, de ficar neutro. Pelo que eu disse. Quem veio me ajudar aqui na minha campanha, na minha reeleição? Vocês tiveram notícia do Bolsonaro aqui ou do Lula.? Por que sou obrigado a não cruzar os braços e dizer: “Vota em quem quiser, gente”. Por quê? Ninguém me ajudou, ninguém me empurrou.
Recentemente, Fernando Haddad (ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo) esteve em BH. Qual foi a pauta da conversa?
Fernando Haddad esteve aqui, Carlos Siqueira, presidente do PSB, esteve comigo. O Lupi esteve comigo, presidente do PDT. Todos que vierem... Se Bolsonaro vier aqui ou me convocar, vou lá. Está certo? Se o Lula vier aqui vai ser muito bem recebido. O problema seu não é dos Associados não, é da imprensa. Tem de botar uma etiqueta. Eu já tenho uma etiqueta. Sou atleticano. Já estou etiquetado. É o que briguei. Daqui a pouco vão descobrir uma tatuagem do Cruzeiro na minha coxa. Eles querem pôr estrela no meu peito, querem que eu pegue em arma... não aceitam, não entra na cabeça de ninguém que etiqueta eu não tenho. É isso que ninguém entende. Porque ajudar pobre é coisa de petista. E ajudar banco é coisa do Novo. Não gente, tem de ajudar o banco... o banco até que não. Ajudar o comércio, as empresas, as construtoras, que elas é que geram emprego para ajudar o pobre. Então, quer dizer, vocês não conseguem entender isso. Não é vocês não. É Rio, São Paulo, Brasília. Todos perguntam isso.
Mas a política tem circunstâncias. Uma circunstância possível seria esse cenário de polarização, e aí é uma situação em que é pouco provável que um candidato ao governo de Minas vá ficar neutro...
Eu me dou ao direito de ficar neutro, porque os dois tentaram puxar o meu pé aqui. Posso chegar e falar: “Não, não vou ficar neutro não”. E qual a força que eu tenho? Qual é a força que eu tenho? Isso tem de ser medido também. Parece que o apoio do prefeito de Belo Horizonte pode mudar o cenário nacional. Até para isso tem de ter autocrítica. O que vai mudar se eu apoiar um ou outro? Entendeu?
Em abril, o sr. brincou dizendo que “conversa com Bolsonaro, só se for com sinal de fumaça”. Houve algum tipo de diálogo com o presidente?
Ele não me atende, uai. Outro dia ele citou, quando perguntaram para ele “você persegue o Kalil”. Ele disse assim: “Porque ele fechou muito a cidade”. Uai, mas não era motivo pra ter raiva de mim não. Foi recebido duas vezes aqui. Uma vez veio ele e a turma dele toda com fome, tive de pagar do meu bolso pão de queijo pra ele aqui.
Isso foi em 2018?
Foi quando ele era candidato a presidente. Foi recebido duas vezes aqui.
O presidente então brigou com o sr. porque tomou medidas de enfrentamento à pandemia?
Só pode ser.
Qual é a racionalidade desse comportamento do presidente?
Nenhuma. Nenhuma. Uma descortesia para com um prefeito de uma capital importante como Belo Horizonte.
Em sua avaliação, o presidente tomou medidas para conter a pandemia, para dar exemplos de enfrentamento?
Não, não. Gastou dinheiro e muito. Mas se tivesse tido uma posição não negacionista, acho que estaríamos melhor hoje. E quanto à escuta que a Pfizer (laboratório farmacêutico que informou ter tentado negociar a oferta de vacinas contra a COVID-19 com o governo Bolsonaro, sem sucesso) bateu na embaixada brasileira oferecendo 70 milhões de vacinas, aí é de cair da cadeira. É de cair da cadeira.
Se o presidente vier aqui para fazer motociata o sr. vai multa-lo?
Eu já falei para ele, inclusive via imprensa, para não vir. Tá certo? Nós cuidamos muito da cidade, né. Eu cito sempre essa frase: “Muito ajuda quem pouco atrapalha”
O sr. foi criticado pela família Bolsonaro por causa das medidas de restrição de comércio adotadas durante a pandemia. Eduardo Bolsonaro, inclusive já chamou o senhor de “projeto de ditador”. Como recebe as críticas dos filhos do presidente, repetidas por outros nas redes sociais?
Já falei sobre isso. Está achando que eu vou responder deputado? São 579 (na verdade são 513). Se cada vez que um deputado for falar eu for responder, eu não tenho de ficar brincando no twitter. Não tenho tempo.