Jornal Estado de Minas

Investigação

Com Wizard, CPI da COVID quer unir elos de 'assessoria paralela'


Os integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da COVID se preparam para tomar, nesta quarta-feira, o depoimento do empresário Carlos Wizard Martins, suspeito de integrar o chamado ministério paralelo da saúde. O grupo é apontado como responsável por orientar ações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ante a pandemia.



Enquanto isso, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) promete registrar, hoje, notícia-crime contra o presidente na Procuradoria-Geral da República por crime de prevaricação no caso Coxavin, de compra suspeita de vacina indina. Foi o tema dos depoimentos dos irmãos Miranda na semana passada. Fausto Junior (PRTB), integrante da Assembleia Legislativa do Amazonas e relator da investigação sobre a condução de medidas sanitárias naquele estado, vai falar amanhã aos membros do comitê do Senado.

O encontro entre os senadores e Wizard, dono de empresas dos setores de educação, esportes e alimentação, está agendado para começar às 9h. Ele deve desembarcar hoje pela manhã no Aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP). Wizard fundou a maior rede de ensino de idiomas do Brasil, vendida para a empresa britânica Pearson. Há, sobre o suposto gabinete paralelo ligado ao Palácio do Planalto, indícios de participação na recomendação de medicamentos sem eficácia comprovada para combater o coronavírus, como a hidroxicloroquina, e simpatia à teoria da imunidade de rebanho, que deposita as esperanças do fim de uma infecção no contágio massivo.

O depoimento de Wizard havia sido marcado para o dia 17, mas ele estava nos Estados Unidos e não compareceu ao Senado. Segundo a defesa do empresário, a viagem foi feita para acompanhar o tratamento de saúde de um parente. Em meio ao imbróglio, ele passou a figurar na lista de pessoas investigadas pela CPI — dentro da linha de trabalho adotada pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL). Haveria condução coercitiva, mas Wizard garantiu que estará em território nacional nesta quarta-feira.





O empresário tentou marcar oitiva por videoconferência, mas teve o pedido negado. O presidente do comitê de inquérito, Omar Aziz (PSD-AM), solicitou o confisco do passaporte do depoente. Tido como um dos financiadores das atividades do “gabinete paralelo”, o bilionário foi alvo de pedido de quebra de sigilos telefônico, fiscal e telemático.

Vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues acredita que já existem provas suficientes da existência do gabinete paralelo, nas palavras dele, “negacionista”, e da tentativa de pôr em prática a imunidade de rebanho. “Só não tínhamos informação, até agora, de que tudo isso era por dinheiro. Que nesse esquema tudo tinha como alicerce um enorme e estruturado esquema de corrupção”, disse, após o depoimento dos irmãos Miranda sobre o caso Coxavin.

Denúncia criminal 


Randolfe Rodrigues quer a ação da PGR por causa da postura de Bolsonaro ante a suposta corrupção na operação para a aquisição da vacina indiana. Ao lado do irmão Luis Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) disse, na sexta-feira, que avisou  o presidente, em março, sobre as suspeitas de irregularidades. O parlamentar sustentou que o chefe do Executivo Federal, em resposta, apontou possível participação de seu líder na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR).





Ainda na sexta-feira, Randolfe informou que a CPI analisa a possibilidade de comunicar ao Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a ação de Bolsonaro. Ele reforçou que elementos de crime de prevaricação estão à mesa. “O presidente da República recebeu a comunicação de um fato criminoso. Não tomou as devidas providências para instalar inquérito ou para deter o continuar do delito”, protestou, acusando o governo de tentar intimidar testemunhas.

Desdobramento da apuração, senador Randolfe Rodrigues pretende registrar notícia-crime contra Bolsonaro na PGR alegando prevaricação (foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado - 5/5/21)

O outro depoente da semana, Fausto Junior, relatou CPI instalada em maio do ano passado pelo Legislativo amazonense para apurar danos aos cofres públicos causados por gastos assumidos pelo governo de Wilson Lima (PSC) sob a justificativa de combater o vírus. Segundo o texto final do comitê intitulado CPI da Saúde, servidores públicos e pessoas ligadas ao setor privado se associaram em busca de vantagens financeiras, se aproveitando do relaxamento das ações de fiscalização das despesas. A comissão encerrou as atividades em setembro de 2020 — antes do caos do início deste ano, quando Manaus e outras cidades colapsaram por falta de oxigênio nos hospitais.




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