Os presidenciáveis Ciro Gomes (PDT), Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Eduardo Leite (PSDB) convergiram mais do que discordaram em caminhos possíveis para a superação das graves crises sanitária e econômica do País. No primeiro debate da série Primárias, realizado nesta quinta-feira, 1º, em São Paulo, pelo Centro de Liderança Pública (CLP), em parceria com o Estadão, os três potenciais candidatos em 2022 defenderam a necessidade de uma reforma tributária e mudanças no sistema político nacional como essenciais para a retomada do crescimento e o estabelecimento de um ambiente político mais estável.
Marcado pelo tom propositivo, o encontro mediado pelo cientista político e presidente do CLP, Luiz Felipe d'Avila, expôs também os temas e bandeiras que eles pretendem apresentar neste período ainda distante da campanha eleitoral do ano que vem: Ciro, ex-ministro e ex-governador do Ceará, reiterou a necessidade de um projeto nacional de desenvolvimento; Leite ressaltou a defesa do equilíbrio fiscal, citando, sempre que pode, sua experiência como governador do Rio Grande do Sul; Mandetta, se destacou pela crítica contundente ao governo do presidente Jair Bolsonaro, que chegou a integrar como ministro da Saúde.
Os três avaliaram que, para além da tragédia sanitária, a pandemia exige respostas imediatas nos campos econômico e social e discutiram questões como crise energética, Sistema Único de Saúde (SUS), desmatamento da Amazônia e desenvolvimento.
Escolhido por sorteio, Mandetta foi o primeiro a falar, defendendo uma reforma tributária, para que o Brasil não seja "um inferno fiscal". Ele disse também que os programas de suporte social devam ser continuados. "Vamos ter de fazer transferência de renda por um bom tempo porque as pessoas estão passando fome", afirmou. Mandetta pediu ênfase no setor de construção civil.
Ciro Gomes afirmou que quer "devolver ao País uma noção de projeto nacional de desenvolvimento. "Hoje, ninguém sabe para onde o Brasil está indo em nenhum setor". Ele disse que, se eleito presidente, tomaria três providências: o socorro às famílias endividadas, o socorro às empresas "colapsadas" e a elaboração de um plano de R$ 3 trilhões em dez anos para retomar o crescimento.
Leite lembrou que não se pode crescer sem implementar uma política nacional de imunização. Para ele, "a vacinação é o primeiro passo para que se possa ter tranquilidade para pensar o crescimento para além da recuperação pós-pandemia".
Em resposta a uma questão sobre a proposta de semipresidencialismo encampada pelo ex-presidente Michel Temer, Leite lembrou que o PSDB mantém a bandeira do parlamentarismo, mas que este é um processo longo. Destacou que a instabilidade política gera riscos econômicos e defendeu que o próximo presidente da República não se candidate à reeleição.
"A gente não pode banalizar o impeachment, mas não pode permitir que se banalize a Presidência da República", afirmou, ressaltando que as atuais denúncias "merecem ter toda a atenção para, se for o caso inevitável, dar curso ao processo de impeachment". "A primeira maldade que fizeram na condução dessa pandemia foi a quebra do pacto federativo", completou Mandetta. "O governo fez uma intervenção militar sem preparo técnico para se ausentar do processo. Isso causou uma enorme ruptura no nosso sistema de saúde".
Diante das denúncias de suposta cobrança de propina para a compra de imunizantes, o ex-ministro da Saúde afirmou também: "Além de não adquirir, de atrasar, ainda coloca sob suspeição o uso de corrupção do dinheiro público na compra. Partir para negociatas na compra de vacina me parece que esse é o crime principal".
Mandetta reconheceu que o País vive uma dualidade: presidencialismo com Congresso forte. E disse que seria interessante a adoção de mecanismos do parlamentarismo, como o voto de desconfiança. "Sem a reforma política o Brasil caminha para a divisão."
Em outros momentos do debate, Ciro defendeu taxar grandes fortunas - acima de 20 milhões. Mandetta disse temer a fuga de capitais
Nas considerações finais, o presidenciável do PDT defende união em torno de um projeto comum. Mandetta também falou em diálogo. "Tem caminho, tem união, gente que está a fim de fazer e tem pressa."
Leite concluiu defendendo que o Brasil volte ao centro com políticas ambientais, ações de proteção social e respeito à diversidade.
Exames
Os três participantes se submeteram a exames da covid-19 e testaram negativo assim que entraram no teatro D. O esquema sanitário do debate foi rigoroso. Não houve participação do público e restrição de assessores. Uma vez feito o teste, não era mais permitido sair do teatro. Mandetta foi o primeiro a chegar com quase uma hora de antecedência. Ciro chegou em seguida e os dois conversaram longamente no camarim. O ex-ministro de Bolsonaro contou ao pedetista como eram caótica as reuniões ministeriais e que o presidente sabe pouco sobre o que se passa em cada pasta.
Debatedores preferem distância dos atos de rua pelo impeachment
Os três pré-candidatos à Presidência identificados com o centro político nacional que participaram ontem do debate "Primárias" promovido pelo Estadão em parceria com o Centro de Lideranças Políticas (CLP), os ex-ministros Ciro Gomes (PDT) e Luiz Henrique Mandetta (DEM) e o governador Eduardo Leite (PSDB), disseram que não pretendem participar dos atos de rua convocados para amanhã por organizações e partidos de esquerda para pedir o impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Entre os participantes do debate, apenas Ciro se disse favorável ao movimento pluripartidário que reuniu lideranças da esquerda, centro e direita em um "superpedido" protocolado nesta semana na Câmara dos Deputados.
Ciro disse ter um sentimento dúbio em relação aos atos. "De um lado, considero que o Brasil ainda não superou a pandemia. Mas, de outro, o Bolsonaro está destruindo a nação brasileira. Entre um valor e outro, estou dizendo às pessoas que pensem nisso e, se resolverem ir, que vão, mas com muito cuidado. Nesse momento estou decidido que não é correto eu ir, mas vou consultar as pessoas", disse Ciro.
"Tenho vários relatos de pessoas que foram às manifestações e saíram porque se sentiram constrangidas. Colocaram adesivos de Lula ou movimentos ligados a partidos políticos. Isso acaba nos afastando. Pelo nível de insatisfação da população, se não fosse a cooptação por movimentos, muito mais gente estaria nas ruas", afirmou Leite. Já Mandetta, que foi ministro da Saúde de Bolsonaro, mas rompeu com o presidente, foi contundente. "Tenho evitado aglomerações. Não sei se está na hora de aglomerar. Não sei quem vai, mas o vírus vai estar lá."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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