Choveu a madrugada toda em Recife. A chuva persistiu até pouco antes do horário marcado para o início da concentração. Mas bastou um pouco de sol para que os manifestantes começassem a chegar à praça do Derby para participar do protesto "Fora Bolsonaro" deste 3 de julho.
O primeiro grupo a marcar presença com suas camisas bandeiras azuis, pouco depois das 8h, foi o dos jovens da União dos Estudantes de Pernambuco (UEP). A presidente da entidade, Stephannye Vilela, esteve no ato de entrega do superpedido de impeachment de Jair Bolsonaro, e disse ser favorável à participação da centro e da direita não bolsonarista junto com as organizações de esquerda: "Nesse momento, o que importa é tirar do poder esse presidente irresponsável. Se você é a favor disso, então venha, junte-se a nós".
- Manifestantes estão concentrados no Rio de Janeiro
O motorista Givaldo Ferreira, de 63 anos, nem chegou a escutar o convite da presidente da UEP. Pela primeira vez na vida, ele decidiu ir às ruas protestar contra um governante e levou junto a filha Suellen, de 32 anos, e a neta Júlia, de 13 anos, que também estrearam em um protesto.
"Eu não sou de me manifestar, mas desta vez eu vir porque a vida não importa pra quem tá dirigindo o país. Ele primeiro disse que pra a gente ir comprar vacina na casa da mãe e perguntou pra que tanto vexame pra comprar vacina, mas aí agora a gente vê que tinha gente do governo se beneficiando com isso", disse Ferreira.
Às 10h10min, Ferreira e sua família ergueram os cartazes artesanais que fizeram em casa e se juntaram à passeata que começou a se mover, atravessando a avenida Agamenon Magalhães em direção ao centro do Recife.
Ao redor da família novata na manifestação, predominavam faixas e símbolos sempre presentes nos atos contra o governo Bolsonaro: Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MTST), movimento estudantil, organizações indígenas, grupos de mulheres, militantes antirracistas, partidos de esquerda e centro-esquerda.
Clima de paz no início
Mais uma vez, agentes de conciliação da ouvidoria da Secretaria de Defesa Social (SDS-PE) também estavam presentes usando jalecos e em contato com os advogados voluntários para dar assistência jurídica em caso de violência policial. Todos os policiais usavam tarjeta de identificação e os Batalhões de Choque e de Radiopatrulha não foram mobilizados para atuar na segurança do protesto.
No despacho que pediu a abertura da investigação nesta sexta-feira (2/7), a Procuradoria-Geral da República (PGR) sinalizou que pretende ouvir 'os supostos autores do fato'. O prazo inicial estabelecido para a conclusão da primeira etapa das apurações, que inclui os interrogatórios, é de 90 dias.
Acontece que o impasse sobre o depoimento do presidente já travou outro inquérito que atingiu o Planalto: o que apura se Bolsonaro tentou interferir politicamente na Polícia Federal para blindar familiares e aliados de investigações, como sugeriu o ex-ministro da Justiça Sergio Moro ao desembarcar do governo.
A apuração, que completou um ano em abril, está parada na PGR aguardando o Supremo Tribunal Federal (STF) bater o martelo sobre como deve ocorrer o interrogatório – se presencial ou por escrito. A oitiva é a última pendência do caso.
O tema está previsto para ser julgado do STF em setembro, quase um ano após ter sido pautado pela primeira vez no plenário. A votação foi iniciada em outubro, com o voto do então decano Celso de Mello, mas foi suspensa logo em seguida. Depois disso, chegou a entrar na pauta em fevereiro, mas acabou remarcada.
O novo inquérito contra Bolsonaro teve origem em uma notícia-crime oferecida pelos senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Fabiano Contarato (Rede-ES) e Jorge Kajuru (Podemos-GO) a partir das suspeitas tornadas públicas na CPI da COVID.
O caso foi levado ao STF depois que o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e o irmão do parlamentar, Luis Ricardo Miranda, que é chefe de importação do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, disseram em depoimento à comissão parlamentar que o presidente ignorou alertas a respeito de suspeitas de corrupção no processo de aquisição do imunizante fabricado pelo laboratório indiano Bharat Biotech.
Em um primeiro momento, a PGR defendeu aguardar o fim da CPI antes de pensar em abrir uma investigação concorrente, mas a ministra Rosa Weber, relatora do caso, pediu um parecer definitivo sobre a abertura ou não de uma investigação neste momento. Só então o vice-procurador-geral da República Humberto Jacques de Medeiros defendeu a instauração da apuração.
Embora tenha pedido a investigação, o vice-procurador apontou 'ausência de indícios' e disse que é preciso esclarecer as providências adotadas pelo governo. Em manifestação encaminhada à PGR, o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, disse que a pasta abriu uma investigação interna, mas não encontrou irregularidades envolvendo a compra da Covaxin.
O crime de prevaricação é descrito no Código Penal como 'retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal'.