Os candidatos à Presidência no ano que vem poderão encontrar uma configuração diferente do atual cenário de palanques regionais. Em ao menos 10 Estados os atuais governadores estão no segundo mandato e, como não podem tentar a reeleição, deverão se desincompatibilizar em abril se quiserem concorrer a um novo cargo.
Caso isso aconteça, eles deixariam o comando das máquinas públicas estaduais nas mãos de vices de partidos e alinhamento eleitoral diferentes do titular. Na prática, portanto, os mandatos 'tampão' podem mexer com os acordos regionais no período da campanha eleitoral.
Dos 10 chefes de Executivo estão nessa situação, 7 deles estão no Nordeste - região estratégica na campanha presidencial, responsável por 27% dos votos na eleição de 2020, e onde candidatos do PT ao Palácio do Planalto geralmente registram maior concentração de votos.
Os governadores que optarem pela disputa eleitoral no ano que vem terão que deixar o cargo em abril. Nem todos tratam do tema abertamente, mas nos bastidores aliados e correligionários da maioria deles admitem que o parlamento - Câmara ou Senado - é o caminho natural para quem está no segundo mandato consecutivo, especialmente para os que são bem avaliados. O único desses 10 Estados onde o vice é do mesmo partido que o governador é o Piauí, onde Wellington Dias (PT) vai disputar o Senado e deixar a vaga para a petista Regina Souza.
Casos
O Estado mais emblemático é o Maranhão. O governador Flávio Dino (PSB) avisou que vai renunciar para disputar o Senado, e quem assumirá em seu lugar é Carlos Brandão, do PSDB. Dino já foi tratado como presidenciável, mas hoje está afinado com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Já Brandão é próximo ao governador João Doria (PSDB), que vai disputar as prévias tucanas.
Outros Estados potencialmente problemáticos para o PT são o Ceará e a Bahia, ambos governados pela sigla. Reeleito em 2018, Camilo Santana ainda não definiu seu futuro, mas se decidir tentar uma vaga de senador terá que deixar a administração nas mãos de Izolda Cela, do PDT. "Izolda é militante nossa e vai dar palanque ao Ciro", garantiu o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi.
Já na Bahia o vice de Rui Costa é João Leão, do Progressistas, legenda do Centrão que hoje dá sustentação ao presidente Jair Bolsonaro. No plano local, a legenda está alinhada ao mesmo tempo com Costa e o grupo de ACM Neto (DEM), que comanda a prefeitura de Salvador. Em 2022, Neto planeja disputar o governo estadual e deve ter o senador petista Jaques Wagner como adversário.
"O fato de um governador apoiar um candidato presidencial tem um peso enorme, que é a máquina. Com a caneta na mão, o chefe do Executivo tem um espaço enorme nas administrações municipais e capacidade de aglutinar. O governador tem muita relação com o poder local", avaliou o cientista político Túlio Velho, da Fundação Joaquim Nabuco.
Em Pernambuco, o governador Paulo Câmara (PSB) não tornou pública sua decisão, mas sinalizou para aliados que vai disputar o Senado. Nesse caso, sua vice, Luciana Santos (PCdoB) assumiria o governo por 8 meses. O PCdoB está na órbita de Lula, mas o PSB ainda resiste em subir no palanque do ex-presidente e mantém diálogo com Ciro Gomes.
Na cena regional, PT e PSB têm uma relação conturbada marcada por rompimentos e atritos. "A expectativa de poder fala mais alto e o PSB se aproxima de Lula. Mas se o partido se alinhar ao Ciro, isso iria gerar muita tensão para Luciana Santos, se ela assumir o governo", afirmou o cientista político Juliano Domingues, da Universidade Católica de Pernambuco.
Sem vice
Em Alagoas, se deixar o cargo para disputar o Senado, Renan Filho (MDB) será substituído pelo presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Vitor (SD), porque em 2020, o vice-governador, Luciano Barbosa, foi eleito prefeito de Arapiraca. Assim, o filho do relator da CPI da Covid no Senado deixaria o governo para um deputado ligado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), aliado do presidente Jair Bolsonaro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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