O representante da Davati Medical Supply no Brasil, Cristiano Carvalho, admitiu em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da COVID-19, nesta quinta-feira (15/7), que soube do suposto pedido de propina relatado pelo cabo da Polícia Militar Luiz Paulo Dominghetti, apontado como vendedor autônomo de vacinas. Dominghetti disse que ao tentar vender 400 milhões de doses de vacinas, recebeu pedido de propina do ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias no dia 25 de fevereiro, em um restaurante em Brasília.
Leia mais: Carvalho citou oito militares no suposto esquema das vacinas; veja nomes
Leia Mais
Carvalho: Davati ofereceu Astrazeneca a Dias e depois Janssen ao Coronel BlancoDavati enviou oferta ao Ministério da Saúde um dia após 'jantar da propina'Advogada deixa defesa de ex-diretor da Saúde acusado de pedir propinacpiCOVIDInternado, Bolsonaro usa as redes para atacar Aziz, Renan e Randolfe
Blanco é o tenente-coronel Marcelo Blanco, ex-assessor do Departamento de Logística, chefiado por Roberto Dias. No depoimento que prestou à CPI, Dominghetti afirmou CPI que havia sido apresentado a Dias por Blanco.
Perguntado novamente pelos senadores, Cristiano disse que Dominghetti não mencionou a ele o valor da propina de US$ 1 por dose. Antes, ele disse que a informação que lhe chegou foi de que havia tido um pedido de "comissionamento". "Ele se referiu a esse comissionamento sendo do grupo do tenente-coronel Blanco e da pessoa que o tinha apresentado ao Blanco, que é de nome Odilon", disse. Cristiano afirmou que, após o pedido de propina, ele nunca mais falou com Roberto Dias, e quem passou a tratar com ele foi o tenente-coronel Blanco.
O depoente disse que não conhece Odilon, mas que ele uma vez ligou perguntando sobre comissão. "Eu acredito que essa tenha sido a principal pessoa (Odilon) interlocutora entre a Senah (Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários), o próprio Dominguetti e o Roberto Dias", afirmou. A Senah é presidida pelo reverendo Amilton Gomes de Paula. Cristiano afirmou que, no dia em que falou com Odilon, respondeu que o comissionamento total da Davati em uma negociação de vacina como esta seria de US$ 20, no total, e Odilon respondeu: "Estou indo falar com o Roberto Dias". Na CPI, os senadores afirmaram que Odilon é Guilherme Filho Odilon.
O que é uma CPI?
O que a CPI da COVID investiga?
Saiba como funciona uma CPI
O que a CPI pode fazer?
- chamar testemunhas para oitivas, com o compromisso de dizer a verdade
- convocar suspeitos para prestar depoimentos (há direito ao silêncio)
- executar prisões em caso de flagrante
- solicitar documentos e informações a órgãos ligados à administração pública
- convocar autoridades, como ministros de Estado — ou secretários, no caso de CPIs estaduais — para depor
- ir a qualquer ponto do país — ou do estado, no caso de CPIs criadas por assembleias legislativas — para audiências e diligências
- quebrar sigilos fiscais, bancários e de dados se houver fundamentação
- solicitar a colaboração de servidores de outros poderes
- elaborar relatório final contendo conclusões obtidas pela investigação e recomendações para evitar novas ocorrências como a apurada
- pedir buscas e apreensões (exceto a domicílios)
- solicitar o indiciamento de envolvidos nos casos apurados
O que a CPI não pode fazer?
Embora tenham poderes de Justiça, as CPIs não podem:
- julgar ou punir investigados
- autorizar grampos telefônicos
- solicitar prisões preventivas ou outras medidas cautelares
- declarar a indisponibilidade de bens
- autorizar buscas e apreensões em domicílios
- impedir que advogados de depoentes compareçam às oitivas e acessem
- documentos relativos à CPI
- determinar a apreensão de passaportes
A história das CPIs no Brasil
CPIs famosas no Brasil
1992: CPMI do Esquema PC Farias - culminou no impeachment de Fernando Collor
1993: CPI dos Anões do Orçamento (Câmara) - apurou desvios do Orçamento da União
2000: CPIs do Futebol - (Senado e Câmara, separadamente) - relações entre CBF, clubes e patrocinadores
2001: CPI do Preço do Leite (Assembleia de MG e outros Legislativos estaduais, separadamente) - apurar os valores cobrados pelo produto e as diretrizes para a formulação dos valores
2005: CPMI dos Correios - investigar denúncias de corrupção na empresa estatal
2005: CPMI do Mensalão - apurar possíveis vantagens recebidas por parlamentares para votar a favor de projetos do governo
2006: CPI dos Bingos (Câmara) - apurar o uso de casas de jogo do bicho para crimes como lavagem de dinheiro
2006: CPI dos Sanguessugas (Câmara) - apurou possível desvio de verbas destinadas à Saúde
2015: CPI da Petrobras (Senado) - apurar possível corrupção na estatal de petróleo
2015: Nova CPI do Futebol (Senado) - Investigar a CBF e o comitê organizador da Copa do Mundo de 2014
2019: CPMI das Fake News - disseminação de notícias falsas na disputa eleitoral de 2018
2019: CPI de Brumadinho (Assembleia de MG) - apurar as responsabilidades pelo rompimento da barragem do Córrego do Feijão