Após o presidente Jair Bolsonaro atacar novamente a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado sobre a pandemia de covid-19, ao deixar o hospital em São Paulo na manhã deste domingo, o presidente da CPI, Omar Aziz (PDB-AM), voltou a acusar Bolsonaro de ter prevaricado ao não investigar suspeitas de corrupção na compra de vacinas.
"O presidente mentir é normal, ele é contumaz nisso. Ele prevarica, ele desfaz fatos e cria versões. Ele está internado no hospital, mas está agredindo as pessoas. Ele tenta se vitimizar o tempo todo, mas a gente não vê na boca do presidente uma palavra de solidariedade ao povo brasileiro. Você só vê ódio", disse o senador, em entrevista à CNN Brasil.
Omar Aziz reforçou a avaliação de que o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, mentiu à CPI ao afirmar que em nenhum momento teria negociado diretamente a compra de vacinas. Ele citou o vídeo de março deste ano, no qual o general promete a intermediários a aquisição de 30 milhões de doses da Coronavac a um preço superior ao contratado com o Instituto Butantan. Mais cedo, Bolsonaro defendeu Pazuello com o argumento de que essa oferta não foi concretizada e avaliou que, se houvesse corrupção, o encontro não teria sido gravado, mas sim feito "às escondidas".
"O general Pazuello mentiu nacionalmente. Ele mentiu na CPI dizendo que não tratava desse assunto, e depois ele é pego na mentira. Então o presidente (Bolsonaro) acha que mentir não é nada. No Brasil, um ministro da Saúde pode mentir, não tem problema porque o presidente o perdoa, passa a mão por cima. E mantém no gabinete ao lado dele o general Pazuello e o coronel Élcio (Franco), que estavam negociando vacinas. Foi o próprio Pazuello que disse que não. A mentira é absorvida pelo mito", ironizou Aziz.
O presidente da CPI reafirmou que há "fortes indícios" de corrupção em negociações de compras de vacinas com preços superfaturados. Segundo ele, a comissão também vai investigar a compra de materiais hospitalares. "Os indícios são muito fortes. Não podemos prejulgar e dizer quem é o responsável, mas vamos chegar lá. O fato mais grave é que o presidente Bolsonaro foi alertado e não tomou nenhuma providência", completou.
Para Aziz, a questão em jogo na CPI não seria apenas se o governo é corrupto ou não. "Não é só isso. A corrupção em plena pandemia é um fato gravíssimo. Mas o pior são as vidas que se perderam pela brincadeira de gabinete paralelo. Essas pessoas não podem ter morrido em vão, elas morreram por omissão, porque (no governo) não acreditaram na ciência, porque o Brasil não quis comprar vacina de laboratório sério, perdeu tempo se reunindo com Precisa, Domingheti, Joãozinho, Mariazinha", acrescentou.
audima