Brasília – Dias depois de mais uma crise institucional causada pela polêmica do voto impresso que envolveu o ministro da Casa Civil, general Walter Braga Netto, o presidente Jair Bolsonaro voltou a dizer que “não dá para termos” eleições no modelo atual e voltou a atacar o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada, ontem à tarde.
Disse também que vai apresentar nesta semana provas de falhas nas urnas eletrônicas. Pela manhã, acompanhado por Braga Netto, ele passeou de moto por vários bairros de Brasília, por onde foi parando para cumprimentar várias pessoas.
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Bolsonaro volta a falar contra segurança de urnas eletrônicas e atacar BarrosoBolsonaro diz que talvez não participe da eleição em 2022: 'Com essa urna?'Sem provas, Bolsonaro põe urnas em xeque: 'Só Deus me tira daquela cadeira'"Na quinta-feira, vou demonstrar em três momentos a inconsistência das urnas, para ser educado. Não dá para termos eleições como está aí", disse Bolsonaro ele em frente do Alvorada. O presidente disse não ver democracia no que chamou de "eleições sujas", em referência ao sistema atual. O TSE já diz que não há registro de fraude comprovada envolvendo a urna eletrônica desde que ela foi adotada, em 1996.
"Então, eleições limpas, todos nós queremos. Eleições sujas, isso eu não chamo eleições, isso não é democracia. E nós estamos com bastante antecedência falando o que pode acontecer na frente, e o que nós podemos fazer para evitar", disse Bolsonaro. As declarações foram transmitidas pela rede social do filho do presidente e deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Ele também voltou a criticar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Vocês acham que alguém ia tirar um bandido da cadeia, ia torná-lo elegível, para não ser presidente na fraude? Não tem que raciocinar, é isso", afirmou. "Geralmente quem frauda é quem está no governo, eu estou dando a chance para ele ganhar no primeiro turno com voto impresso. Ele é o primeiro a ser contra", disse Bolsonaro, citando a vantagem do petista na pesquisas eleitorais.
O presidente do TSE foi alvo de críticas. "É inadmissível o ministro presidente do TSE, do Supremo, dentro do Congresso, não sei o que ele negociou, o que ele falou, porque rapidamente ele cativou grande parte dos líderes, se apaixonaram por ele, não sei o que ele ofereceu. E no dia seguinte trocaram integranets da comissão especial que analisa a PEC do voto impresso. Dá para desconfiar ou não dá?", disse Bolsonaro.
"Não façam isso por mim, minha vida aqui, não queiram. Mas pode ter certeza, que eu vou cumprir meu mandato até o último dia, só Deus me tira daqui", disse ainda Bolsonaro aos apoiadores, como já falou em outras oportunidades.
"O cara não gostar de mim, tudo bem, mas ser apaixonado pelo Lula? Desvios, roubalheira em tudo quanto é lugar. Um milagre eu estar aqui, dois, a vida e a eleição. E um terceiro, permanecer na cadeira. O que muita gente quer é o poder, a volta da impunidade e da corrupção. Será que não conseguem enxergar isso? Querem me criticar, critiquem, até gente que se diz de direita, né? Tudo bem, se eu sair fora, você vai ficar com quem em 2022?", completou o presidente.
"O cara não gostar de mim, tudo bem, mas ser apaixonado pelo Lula? Desvios, roubalheira em tudo quanto é lugar. Um milagre eu estar aqui, dois, a vida e a eleição. E um terceiro, permanecer na cadeira. O que muita gente quer é o poder, a volta da impunidade e da corrupção. Será que não conseguem enxergar isso? Querem me criticar, critiquem, até gente que se diz de direita, né? Tudo bem, se eu sair fora, você vai ficar com quem em 2022?", completou o presidente.
PANDEMIA
O presidente disse ainda aos apoiadores que se estivesse coordenando o combate à pandemia, o país teria registrado menos mortes. E fez novamente a defesa do tratamento precoce, que é comprovadamente ineficaz contra a COVID-19. “Se eu estivesse coordenando a pandemia não teria morrido tanta gente. Você fala de tratamento inicial. A obrigação do médico, em algo que ele desconhece, é buscar amenizar o sofrimento da pessoa e o tratamento off label”, disse.
Apesar de não mencionar, o presidente fez referência a uma decisão do Supremo Tribunal Federal que que possibilitou que estados e municípios decretassem medidas de combate à COVID-19. No entanto, ministros da corte e o próprio STF já esclareceram mais de uma vez que essa decisão não retirava responsabilidade do governo federal. Mesmo assim, Bolsonaro vem insistindo que não teve poderes para atuar durante a pandemia.
Ele voltou a criticar as vacinas e ressaltou os possíveis efeitos colaterais nas pessoas vacinadas. “Qual país faz acompanhamento de quem tomou vacina? Tem gente que está sofrendo efeito colateral, o que está acontecendo? A Coronavac é experimental e tem gente que quer tornar obrigatória”, disse. Todas as vacinas sendo aplicadas no Brasil, inclusive a Coronavac, tiveram aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e são consideradas seguras e eficazes contra a COVID.
Bolsonaro também criticou decisão do TST-SP que validou demissão por justa causa de uma auxiliar de limpeza que se recusou a tomar vacina. “Tem juiz do trabalho que tá aceitando demissão por justa causa a quem não quer tomar vacina. Eu falei ano passado, que no que depender de mim a vacina é facultativa, me acusam de negacionista”, afirmou.
PASSEIO
Bolsonaro fez passeio de moto por regiões próximas ao centro de Brasília na manhã de ontem. Sem máscara, conversou e tirou fotos com apoiadores na Estrutural e em quadras residenciais da Asa Norte. Ele ainda fez uma parada na Catedral. Já de volta ao Alvorada, esteve acompanhado de seguranças e, em parte do passeio, pelo ministro Walter Braga Netto.
No último dia 8, Braga Netto, por meio de um importante interlocutor político, enviou um recado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sobre as próximas eleições. "O general pediu para comunicar, a quem interessasse, que não haveria eleições em 2022, se não houvesse voto impresso e auditável. Ao dar o aviso, o ministro estava acompanhado de chefes militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica", diz o texto.
Durante o passeio de ontem, Bolsonaro foi questionado pela reportagem do jornal Estado de S. Paulo, que revelou a suposta ameaça de Braga Netto. Em cima da moto, Bolsonaro acelerou e não respondeu à pergunta. Neste momento do passeio, Braga Netto já não estava acompanhando o presidente. O passeio de Bolsonaro ocorre a poucas horas do início de mais manifestações contra o seu governo país afora.