Depois do Supremo Tribunal Federal (STF) dizer que "uma mentira repetida mil vezes não vira verdade", em referência ao discurso do presidente Jair Bolsonaro e de seus aliados de que a Corte teria proibido o governo federal de atuar contra a disseminação da COVID-19, o chefe do Executivo afirmou nesta quinta-feira, 29, que irá emitir nota para rebater a crítica do Supremo. "Não vai ser para peitar o Supremo, até porque eu estou por cima, eu tenho noção de judô", disse em conversa com apoiadores nesta manhã.
Bolsonaro classificou a informação do Supremo como "fake news". Ele novamente distorceu a decisão dos magistrados e manteve o discurso de que a Corte teria limitado sua atuação.
"Nós vamos demonstrar tudo que nós fizemos em meia dúzia de pequenos parágrafos, para todo mundo entender, não só nessa questão financeira, o total do gasto do endividamento de vocês foi mais de R$ 700 bilhões no ano passado, não só para Saúde, bem como rolagem de dívida entre de municípios, antecipação de receita, auxílio emergencial, tudo foi feito nessa parte", afirmou.
Segundo o presidente, "o Supremo cometeu crime ao dizer que prefeitos e governadores, de forma indiscriminada, poderiam suprimir todo e qualquer direito previsto no inciso quinto da Constituição, inclusive o ir e vir". Em crítica às medidas decretadas por Estados e municípios para conter o vírus, Bolsonaro disse que os gestores fizeram "barbaridades autorizadas pelo STF".
Insistindo no discurso de acusações, Bolsonaro justificou que não fechou "nenhum botequim", uma vez que "não adianta tomar uma providência porque prefeitos e governadores tinham mais poder que eu". De acordo com o chefe do Executivo, os gestores "tentaram derrubar a economia". "Estado não pode parar por muito tempo", reforçou.
Em um vídeo divulgado no seu canal oficial nesta quarta, 28, o Supremo reforçou o teor da decisão tomada por unanimidade pelos ministros da Corte em abril de 2020, pela qual determinou que Estados e municípios têm autonomia para executar as medidas necessárias para conter o avanço do novo coronavírus. A decisão da Corte, contudo, não retirou da União nem do presidente da República a responsabilidade pelas ações de combate à pandemia.
A decisão do Supremo foi usada, erroneamente, por Bolsonaro ao longo do ano passado como justificativa para a ausência de uma coordenação do governo central nas ações de combate ao vírus.
No vídeo de ontem, o STF rebateu Bolsonaro afirmando que uma "mentira repetida mil vezes não vira verdade". O presidente ficou insatisfeito com a publicação e disparou: "Isso é verdade, deveriam aplicar para a esquerda".