O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), não cumpriu a promessa de que apresentaria, nesta quinta-feira (29/7), provas de fraude nas urnas eletrônicas. A tradicional live semanal foi cercada de expectativas após o anúncio, mas nenhuma comprovação foi apresentada. "Não tem como se comprovar que as eleições não foram ou foram fraudadas, são indícios", disse o mandatário.
O chefe do Executivo apareceu na transmissão ao lado de um suposto analista de inteligência, a quem se referiu apenas como Eduardo, e apresentou vídeos que circulam na internet sem qualquer comprovação sobre supostos erros nas urnas.
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Jair Bolsonaro aproveitou a transmissão que comprovaria suposta fraude em 2018 para, mais uma vez, defender o voto impresso. O objetivo da exposição, segundo Eduardo, o auxiliar do presidente, foi mostrar que "as urnas podem ser melhoradas" e que o uso do papel como instrumento de auditoria pode aperfeiçoar o processo.
Na visão de Bolsonaro e o suposto analista, a disputa das últimas eleições presidenciais poderia ter sido encerrada ainda no primeiro turno. "Quando entram as urnas do Sudeste, um grande volume, quando praticamente tinha acabado a apuração no Nordeste, acontece o inverso. Em vez de subir, eu caio. Parece que alguma coisa aconteceu", disse o presidente.
Bolsonaro disse que um dos indícios de que algo aconteceu é um "sorriso" dado por uma representante do Ibope em uma entrevista à GloboNews durante a apuração. O Ibope faz a pesquisa de boca de urna divulgada ao fim do horário de votação.
A live começou por volta das 19h, mas Bolsonaro fez longo preâmbulo, de quase quarenta minutos, repetindo tópicos como a defesa do voto impresso, o momento econômico da Argentina e as tentativas brasileiras de emplacar representante no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
Mais ataques a Barroso
Bolsonaro chegou a dizer que pessoas que queriam votar nele em 2018, digitando o 17, número do PSL, partido que o abrigava à época, recebiam da urna apenas as opções de manifestação nula ou de digitar o 13, do PT de Fernando Haddad.
O pleito por voto em papel como forma de conferência dos resultados das urnas tem sido defendido ferrenhamente por Bolsonaro. Para defender a "auditoria", o presidente da República voltou a atacar Luís Roberto Barroso, ministro da Suprema Corte e chefe do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
"Por que a ferocidade do presidente do TSE em não querer discutir e não querer falar sobre uma contagem pública de votos?", falou.
De acordo com Bolsonaro, o voto impresso não representa retrocesso. O presidente classificou as argumentações do tipo como "fake news". O governo chegou a lançar, inclusive, um "mascote" da campanha pelo "voto auditável".
O presidente afirmou não querer acusar Barroso, mas deu a entender que o magistrado busca manter os pleitos sob suspeita. "Por que o presidente do TSE quer manter a suspeição sobre as eleições? Quem ele é?", bradou.
Indiretamente, o presidente taxou Barroso de socialista ao falar que "regime que esse cidadão defende não deu certo em lugar nenhum do mundo".
Bolsonaro se ampara em 'alternância' entre Dilma e Aécio
Em dado momento, Bolsonaro falou sobre supostas irregularidades na vitória de Dilma Rousseff (PT) sobre Aécio Neves (PSDB). Sem apresentar provas, disse que sustentava a tese por causa de alternâncias entre Dilma e Aécio na liderança da contagem dos votos referentes ao segundo turno presidencial.
O resultado oficial dá conta de que a petista venceu o tucano por 51,64% a 48,36%. Segundo o dito especialista ouvido por Bolsonaro, os candidatos se revezaram no topo da marcha da apuração por 241 vezes.
"Isso é a mesma coisa de, em quatro horas de apuração, 240 minutos, 240 vezes, jogar uma moeda para cima e, ora dar cara, ora dar coroa. Equivale a, aproximadamente, você ganhar, de forma consecutiva, seis vezes na Mega-Sena. Pode acontecer, mas a probabilidade se aproxima de zero", tentou justificar o presidente.
As informações sobre a eleição de sete anos atrás serão, segundo o presidente, encaminhadas ao ministro da Justiça, Anderson Torres, e à Polícia Federal.
Irmã de doutora Nise divulgou teoria sobre 2014
Na tese propagandeada pelo presidente, apenas a interferência de um algoritmo - e não as tradicionais alternâncias vistas em contagem de votos - seria capaz de explicar tantas mudanças na liderança.
A ideia de influência externa para dar a vitória a Dilma "navega" pela esfera bolsonarista desde 2018. Naquele ano, em 25 de outubro, o YouTube recebeu um vídeo em que Naomi Yamaguchi entrevista o "dono" da tese compartilhada nesta quinta. Na gravação, a tal "fonte" detalha a suposta manipulação.
Naomi é irmã de Nise Yamaguchi, médica defensora do uso da hidroxicloroquina para combater a COVID-19. A profissional já foi, inclusive, ouvida pelos senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a postura do governo ante a pandemia.
Bolsonaro armou "esquema especial" para a live desta quinta. Ele convidou representantes de veículos de imprensa para acompanhar presencialmente a transmissão, feita da biblioteca do Palácio da Alvorada, mas sem direito a perguntas.