O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da COVID, senador Omar Aziz (PSD-AM), rebateu os ataques mais recentes que recebeu do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em entrevista ao Estado de Minas, Aziz ironizou a forma depreciativa que Bolsonaro se referiu à comissão parlamentar e atribuiu ao presidente a responsabilidade por milhares de mortes pelo coronavírus no país: "Tenho certeza que poderiam ter sido evitadas mais de 200 mil mortes se o senhor tivesse agido com sanidade. Coisa que o senhor não fez”, afirmou, dirigindo-se diretamente a Bolsonaro.
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O presidente da República chamou os parlamentares de “patifes” e disse que não vai responder à carta. “Hoje fizeram uma festa, entregaram um documento lá embaixo. Vou responder a pergunta à CPI. Sabe qual é a minha resposta? Caguei. Caguei para a CPI. Não vou responder nada. É uma CPI que não está preocupada com a verdade”, disparou Bolsonaro.
“Que resposta posso ter para a CPI que não quer colaborar com nada, apenas desgastar o meu governo? Criar um caos. Quando, de vez em quando, tem uma certa reverberação, mexem na bolsa, faz aumentar o preço do petróleo, aumenta o preço do combustível, pois o preço do petróleo é atrelado ao preço do barril lá fora, o dólar aqui dentro. Não tenho paciência para ouvir patifes”, concluiu o presidente.
Em entrevista ao Estado de Minas, Omar Aziz afirmou que Bolsonaro falou "outra mentira" ao usar uma palavra chula para comentar a sua reação à CPI. “Esse negócio de que ele dizia que ia defecar para a CPI foi outra mentira. Você sabe que ele teve que sair de Brasília para São Paulo para conseguir fazer isso. Outra mentira dele. Até no ato de defecar o presidente mente”, respondeu.
“A arma do Bolsonaro naquele cercadinho foi sempre atacar a CPI, atacar qualquer pessoa que se contrapunha a ele, mas o mais incrível é que ele conseguia cancelar uma pessoa na internet. Fez isso com jornalistas, com mulheres jornalistas principalmente, com meios de comunicação. Tudo que ele falava, o pessoal gritava ‘mito, mito’. Só que agora, o negócio está três vezes mais embaixo”, disse.
Ele ainda mandou um recado ao presidente da República, ressaltando todo trabalho que a comissão teve nessa primeira etapa dos trabalhos. “O que a CPI fez? Presidente, a CPI fez muito. Mostrou a realidade de como o senhor tratou esse desastre que teve aqui no Brasil, mais de 550 mil mortes. Tenho certeza que poderiam ter sido evitadas mais de 200 mil mortes se o senhor tivesse agido com sanidade. Coisa que o senhor não fez”, lembra.
Aziz continua: “Hoje, se existe a vacinação e a corrida por vacina, foi porque a CPI fez com que ele se preocupasse. Porque até então o presidente chamava a vacina chinesa de “vachina”, falava que ‘quem quer comprar vacina compra lá com a mãe’, ‘a melhor imunização é a minha, eu sou atleta’, ‘a melhor imunização é você contrair o vírus’. Crime sanitário, propagar medicação como cloroquina, mostrando para a ema e ela correndo dele. Crime contra a vida”, ironiza.
O presidente da CPI ainda relembrou a contribuição que o deputado Luís Miranda (DEM-DF) deu quando levou ao colegiado a informação de que havia repassado a Bolsonaro sobre irregularidades na compra da vacina indiana, a Covaxin. “Se isso foi pouca coisa, tem mais: a acusação grave que o deputado Luís Miranda fez quando levou a ele os documentos que mostravam que iria ser pago 45 milhões de dólares, num paraíso fiscal, sem entregar nenhuma vacina. A CPI também não permitiu que dinheiro brasileiro fosse depositado em Singapura e a gente tivesse hoje esse tipo de problema que se tem, a falta de vacina”, pontua.
Por fim, Aziz classificou como "baixo nível" os ataques que têm recebido do presidente Bolsonaro. “O presidente me detratar não tem problema nenhum, isso é problema dele. Eu vou reagir com alto nível, não vou baixar o nível pra ele como eu não baixo o nível para ninguém. E eu não faço acusações levianas, não aponto o dedo para ninguém. Sempre disse que nós não estamos investigando pessoas, estamos investigando fatos e se esses fatos chegarem a qualquer pessoa, seja branco, negro, seja ateu, católico, crente, evangélico, seja civil, seja militar, o nome dessas pessoas estarão no relatório final”, conclui.
A CPI da COVID teve os depoimentos interrompidos durante o recesso parlamentar, apesar de ter continuado com os trabalhos nos bastidores. Após duas semanas, as oitivas serão retomadas nesta terça-feira (3/8). Confira a agenda da semana:
- 3 de agosto: reverendo Amilton Gomes de Paula, que teria sido autorizado pelo governo a negociar 400 milhões de doses da Astrazeneca com a Davati;
- 4 de agosto: Francisco Maximiano, sócio da Precisa Medicamentos;
- 5 de agosto: Túlio Silveira, advogado e representante da Precisa Medicamentos.
Os depoimentos devem manter o foco na atuação da Precisa Medicamentos e da Davati Medical Supply, que atuariam como intermediárias para contratos da Covaxin e da Astrazeneca.