O cientista político Francisco Weffort, de 84 anos, morreu nesta segunda-feira, 2, no Rio de Janeiro, em decorrência de um infarte no miocárdio. Com trajetória de destaque marcada pela atuação acadêmica e política, ele era um dos mais importantes pesquisadores e defensores da consolidação dos valores democráticos na vida política brasileira.
Natural da cidade de Quatá, no interior paulista, ele esteve entre os fundadores do PT, partido que deixou nos anos 1990, antes de assumir o Ministério da Cultura no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Weffort esteve no cargo durante os dois mandatos de FHC, sendo o ministro que mais tempo ficou no posto desde o início do processo de redemocratização do Brasil.
Weffort deixa quatro filhas de seu primeiro casamento, com Madalena Freire Weffort, filha do educador Paulo Freire. Desde 2002, ele era casado com a socióloga Helena Severo, ex-secretária estadual de Cultura do Rio de Janeiro.
Recentemente, como mostrou o Estadão, Weffort lançou, ao lado do também cientista político José Álvaro Moisés, o livro "Crise da Democracia Representativa e Neopopulismo no Brasil", publicado pela Fundação Konrad Adenauer. Na obra, eles analisam o impacto do neopopulismo na atual crise da democracia e as possibilidades de superá-la.
Na ocasião, em entrevista ao jornal, criticou o presidente Jair Bolsonaro que, segundo ele, "não obedece às regras de um sistema democrático".
Weffort iniciou sua trajetória acadêmica em 1961, como professor da Universidade de São Paulo, lecionando em cursos de graduação até o golpe militar de 1964. Anos mais tarde, voltou a integrar o quadro de docentes da USP, onde permaneceu até 1995. Ao longo de sua carreira, lecionou ainda em prestigiadas universidades como as universidades de Essex (Inglaterra), Notre Dame (França) e de La Plata (Argentina), além do Woodrow Wilson Center (EUA).
"Recebi a notícia com imensa tristeza. Além de grande intelectual, era um amigo muito próximo e querido, assim como é Helena", lamentou a cientista política Maria Tereza Sadek, que trabalhou a seu lado na Universidade de São Paulo.
PT
No PT, o cientista político chegou a se lançar como candidato a uma vaga na Assembleia Nacional Constituinte, em 1986, mas não conseguiu conquistar a vaga por São Paulo.
Três anos depois, Weffort apoiou a candidatura de Lula à Presidência da República, embora tenha manifestado publicamente discordâncias com relação a alguns aspectos da orientação política petista.
Peça fundamental na estruturação do PT, o cientista político deixou o partido no início dos anos 1990 para se concentrar no estudo sobre novos regimes políticos.
O desligamento do PT, seguido da entrada no governo tucano, foi alvo de críticas. O cientista político chegou a ser tema de dissertação de mestrado, publicada em 2020, na Unesp, sob o título de: "Do PT ao governo FHC: a trajetória político-intelectual de Francisco Weffort".
Nos anos 2000, ele era um dos defensores de que o PT fizesse aquilo que mais tarde seria chamado de autocrítica sobre a participação de dirigentes do partido no escândalo do mensalão.
Ministério da Cultura
Entre 1995 e 2002, Weffort esteve à frente do Ministério da Cultura. Depois do fim do governo FHC, o estudioso voltou a se dedicar prioritariamente ao ensino e pesquisa em ciências políticas e sociais.
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