Em seu depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, o ex-assessor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde coronel Marcelo Blanco, negou a versão de do policial militar Luiz Paulo Dominghetti de que o contrato da Covaxin com a Saúde teria sido condicionado a um pedido de propina feito pelo ex-diretor do Ministério da Saúde, Roberto Dias. Quando questionado diretamente sobre o pedido ele se limitou a dizer: "É isso que todo mundo se pergunta, não faço ideia".
Blanco também negou ter feito qualquer pedido de comissionamento ou vantagem durante a intermediação do acordo entre Dominghetti e Dias, conforme o policial militar que o denunciou. Segundo Blanco, inclusive, durante o encontro em 25 de fevereiro, não foi tratado sobre vacinas, mas sobre a agenda do Ministério da Saúde. Dominghetti, porém, queria uma agenda com autoridades da pasta para oferecer vacinas.
De acordo com Blanco, ele intermediou o encontro entre Dias e Dominghetti no início do ano, após ter se reunido na mesma semana com o vendedor para tratar de venda de vacinas para o setor privado. Segundo ele, em 25 de fevereiro, após Dias lhe informar que ele estaria em um restaurante à noite, ele sugeriu o encontro com Dominghetti. "Posso ter sido inconveniente de levar o Dominghetti lá sem a ciência do Roberto, até posso ter sido, mas não vi mal algum".
De acordo com o ex-assessor, o encontro foi intermediado para que Dominghetti pudesse enviar a proposta de venda de vacinas ao governo. Blanco também negou ter proximidade com alguém do Ministério da Saúde, dizendo ter apenas uma relação amistosa com Dias, e que apenas orientou Dominghetti para enviar aos e-mails institucionais. O ex-assessor negou também ter continuado a exercer funções no Ministério após sua exoneração, em 19 de fevereiro.
Explicações causam estranheza
As tratativas de Marcelo Blanco com o policial militar Luiz Paulo Dominghetti na venda de vacinas para o mercado privado, conforme declarou o depoente durante sua oitiva na CPI nesta quarta, causaram estranheza nos membros da colegiado. O vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), argumentou que, na época das conversas, o Parlamento ainda não havia discutido o tema de venda de vacinas ao setor, alegando que as negociações de Blanco eram feitas com base na irregularidade - e questionando se ele não teria informações privilegiadas sobre as matérias em debate no governo.
Segundo Randolfe, a venda de vacinas para o setor privado só começou a ser cogitada pelo governo em março. Mais cedo, Blanco afirmou que se reuniu com Dominghetti para tratar sobre a venda de vacinas ao setor privado na mesma semana em que o vendedor se reuniu com o ex-diretor de Logística do ministério Roberto Dias para tratar de venda de vacinas ao Ministério da Saúde, em 25 de fevereiro, encontro onde Dias teria feito um pedido de propina a Dominghetti para fechar o acordo com a Davati.
O ex-assessor negou então ter informações privilegiadas sobre a aprovação da lei - hipótese levantada pelos senadores - e disse que não era sua intenção negociar nada que não fosse aprovado pelo Congresso. Segundo ele, ele tentou se adiantar após um sinal de apreciação da lei para construir um modelo de negócio.
A suspeição sobre as tratativas também foi levantada pelo relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), que considerou como "gravíssimas" as declarações em torno das negociações. Renan criticou a declaração de que Blanco estaria tentado se adiantar a um modelo de negócios "projetando um mercado que não existia, e que era de interesse da Precisa", disse, em crítica à Precisa Medicamentos, "uma espécie de Dominghetti da Covaxin".
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