“Essa pergunta foi feita por internautas.”. O bordão do relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da COVID, senador Renan Calheiros (MDB-AL), acabou gerando uma discussão na sessão realizada, nesta quarta-feira (4/8).
O bate-boca começou depois que Renan disse que recebeu uma “dica” de um internauta sobre as relações do tenente-coronel da reserva Marcelo Blanco da Costa, ex-diretor substituto do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, que depõe na CPI.
“Como assim, o internauta sabe mais que a CPI?”, questionou o governista Eduardo Girão (Podemos-CE).
“A CPI já dispunha dessas informações. A CPI tem um acervo enorme de informações. Estamos analisando um mar de lama, uma roubalheira inacreditável, que a cada dia as coisas se revelam mais. O internauta lembrou que nós dispúnhamos dessas informações”, respondeu Renan.
“O grande internauta”, cutucou o senador governista Marcos Rogério (DEM-RO).
“Ê os internautas”, gritou um senador.
Mais tarde, durante os questionamentos, Rogério voltou a falar do bordão de Renan Calheiros. “Como é que um internauta alerta sobre um documento sigiloso? Essa CPI está sendo comandada por perfis falsos da internet”, disse.
O dia da CPI
O tenente-coronel da reserva Marcelo Blanco da Costa depõe nesta quarta-feira (4/8), à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da COVID, do Senado.
O ex-diretor substituto do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, exonerado em janeiro, era subordinado ao então diretor de Logística da pasta Roberto Ferreira Dias, e participou de jantar em restaurante em Brasília onde teria sido feita a proposta de pagamento de propina de US$ 1 por dose na compra da vacina da AstraZeneca.
O pedido de convocação foi feito pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE). Segundo o policial militar Luiz Paulo Dominguetti, representante da empresa Davati Medical Supply, que fez a denúncia ao jornal Folha de S. Paulo, o encontro ocorreu em 25 de fevereiro deste ano, no restaurante Vasto, em um shopping em Brasília.
Na ocasião, ele apontou que o coronel Blanco estava presente e que o teria apresentado a Roberto Dias. O ex-diretor de Logística confirmou que o jantar aconteceu, mas negou as acusações sobre o pedido de propina em 7 de julho, quando foi ouvido pela comissão.
Cristiano Carvalho, outro vendedor da empresa Davati Medical Supply no Brasil, também citou o militar durante seu depoimento aos parlamentares, em 15 de julho. “A informação que veio a mim não foi 'propina'. Ele (Dominguetti) usou 'comissionamento'". Se referiu ao comissionamento sendo do grupo do tenente-coronel Marcelo Blanco e da pessoa que o tinha apresentado a Blanco, de nome Odilon”, declarou Carvalho.
Os senadores aprovaram ainda requisições ao Comando do Exército Brasileiro de todos os relatórios e informações de inteligência, com as correspondentes cópias, a respeito do tenente-coronel Blanco, assim como de Antônio Élcio Franco (ex-secretário-executivo da Saúde), Alexandre Martinelli Cerqueira (ex-subsecretário de Assuntos Administrativos da Saúde) e do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello.
Instalada em 27 de abril deste ano, a CPI da COVID apura possíveis ações e omissões do governo federal no enfrentamento à pandemia e repasses de verbas a estados e municípios.
*Estagiária sob supervisão do subeditor João Renato Faria