Um dia após ser derrotado em votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do voto impresso no plenário da Câmara dos Deputados, o presidente Jair Bolsonaro continua colocando em xeque a segurança das eleições 2022, sob argumento de que o resultado indica desconfiança de parte do Parlamento sobre a confiabilidade das urnas eletrônicas. "Hoje em dia sinalizamos para uma eleição, não que está dividida, mas que não vai se confiar nos resultados da apuração'', disse o presidente a apoiadores na saída do Palácio da Alvorada, na manhã desta quarta-feira.
Com rejeição da maioria dos deputados, a PEC do voto impresso foi derrubada pelo plenário da Câmara nesta terça-feira. Foram 218 votos pelo seu arquivamento e 229 votos favoráveis. Para que ela fosse aprovada, seria necessário o apoio de, no mínimo, 308 deputados. A Casa tem 513 deputados, mas o quórum, contando com o presidente Arthur Lira (PP-AL) foi de 449 deputados. Essa foi a terceira derrota do Palácio do Planalto nessa matéria na Câmara. Antes, já tinha sido rejeitada em duas votações na comissão especial na semana passada.
Votação 'dividida'
Bolsonaro, contudo, se disse "feliz" com o Parlamento brasileiro, pois entende que foi uma votação "dividida" e que muitos deputados não puderam expressar, de fato, seus posicionamentos e dúvidas sobre o sistema eleitoral porque "foram chantageados". Segundo ele, dos votos que foram contra, "tirando PT, PCdoB e PSOL, que para eles é melhor o voto eletrônico", "muita gente votou preocupada". Na análise do chefe do Executivo, ainda, as abstenções, numa votação virtual, expressam o medo de retaliação por parte das legendas.
"Metade do Parlamento que votou sim ontem quer eleições limpas; outra metade, não é que não queira, ficou preocupada em ser retalhada", pontuou. Bolsonaro, então, deu um "recado para todo mundo": "A maioria da população está conosco, está com a verdade".
O presidente agradeceu ao Parlamento, que, segundo ele, "deu um grande recado ao Brasil", e projetou maior apoio à implementação do voto impresso no futuro. Para o chefe do Executivo, o resultado indica que metade do Legislativo, "não acredita 100% na lisura dos trabalhos do TSE". Após a votação, o presidente da Câmara, Arthur Lira, fez um apelo para que os envolvidos no debate sobre o sistema eleitoral adotem tom moderado. Bolsonaro havia se comprometido a aceitar a decisão dos parlamentares, mas na segunda-feira havia afirmou que "há outros mecanismos para a gente colaborar para que não haja suspeitas", em conversa com apoiadores em seu retorno ao Palácio da Alvorada.
Mesmo com a derrota, o chefe do Executivo voltou a apresentar a tese de que um grupo de hackers, ou um hacker, teve acesso às chaves criptografadas das urnas eletrônicas e acusou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de acobertar a invasão. "Se nós vivemos numa democracia e é difícil lutar enquanto tem liberdade, quando vocês (população) perderem a liberdade, vai ser difícil lutar".
Bolsonaro ainda disse aos apoiadores: "Eu perguntaria, agora aqueles que estão trabalhando por interesses pessoais, não são interesses do Brasil, se eles querem enfrentar uma eleição do ano que vem com a mácula da desconfiança, que não é de agora. E eu tenho a certeza que esse pessoal que votou ontem, cada vez mais, teremos mais gente a nosso favor."
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