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Estado de Minas CONGRESSO NACIONAL

Onze deputados por MG contrariaram partidos para dizer sim ao voto impresso

Mesmo legendas com históricos de punição a dissidentes não devem adotar sanções desta vez; muitas siglas orientaram filiados, mas evitaram 'fechar questão'


11/08/2021 19:09 - atualizado 11/08/2021 20:37

Em plenário, deputados federais decidiram arquivar a PEC do voto impresso(foto: Cleia Vianna/Câmara dos Deputados)
Em plenário, deputados federais decidiram arquivar a PEC do voto impresso (foto: Cleia Vianna/Câmara dos Deputados)
Quinze dos 24 partidos políticos com representação na Câmara dos Deputados recomendaram a seus filiados a rejeição à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do voto impresso, votada nesta terça-feira (10/8). A orientação, no entanto, acabou descartada por mais de uma centena de deputados. Em Minas Gerais, 11 das 26 manifestações favoráveis à auditoria por meio de cédulas de papel partiram de parlamentares ligados a legendas que rechaçaram a ideia encampada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Mesmo orientando que seus deputados votassem pelo arquivamento da PEC, apresentada por Bia Kicis (PSL-DF), muitos partidos não "fecharam questão" em torno do tema. Ou seja: não houve a definição de uma diretriz uníssona a ser seguida. Por isso, parlamentares ouvidos pelo Estado de Minas creem que as divergências a respeito do projeto não devem proporcionar fissuras internas ou punições.

Embora a liderança do PDT tenha orientado os correligionários à rejeição da proposta, houve seis manifestações de apoio ao uso de cédulas de papel. Uma delas veio do Subtenente Gonzaga (MG). O presidente nacional, Carlos Lupi, chegou a defender o voto impresso neste ano, amparado nas convicções de Leonel Brizola, icônico líder trabalhista. A percepção, contudo, acabou mudando pelo fato de as ideias defendidas por bolsonaristas não terem relação com a posição da legenda acerca do assunto.

"Mantive minha posição por coerência com o que vinha defendendo e, inclusive, com a própria proposta partidária. Temos, em nossa base eleitoral, a compreensão de que mecanismos de aperfeiçoamento devem sempre ser admitidos. Se vai ter represália do partido ou advertência, não foi me comunicado nada", diz Gonzaga, que assegura não cogitar fraudes no sistema eleitoral nacional.

Seu pleito, enfatiza, é por pacificação, dando "segurança" à parcela da sociedade que questiona as urnas.

Também deputado federal, o presidente do PDT em Minas, Mário Heringer, admite que os votos favoráveis ao mecanismo de auditoria podem gerar certo desconforto. Apesar disso, ele garante que o posicionamento divergente em relação ao tema não é tido como "transgressor".

"A orientação partidária, nesse caso específico, foi sem fechamento de questão. Nas orientações com fechamento de questão, há uma transgressão à decisão. Como (o voto impresso) não era, neste momento, uma pauta pétrea do partido, não tem porquê fechar questão", explica ele, que marcou posição antagônica à PEC.

Em outros temas, como na reforma da Previdência votada em 2019, o PDT deflagrou ações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra dissidentes. Tabata Amaral, uma das "rebeldes" à época, se prepara para rumar ao PSB.

No Partido Liberal (PL), a orientação também foi rechaçar a impressão de um comprovante de votação. Em Minas Gerais, no entanto, houve divisão: Aelton Freitas seguiu a decisão da agremiação, mas Lincoln Portela e Zé Vitor optaram por caminho diferente.

"Não fico falando por aí 'fora, Supremo', 'fora, TSE', 'fora, fulano' ou 'fora, beltrano'. Sou um democrata. Estou no sexto mandato e fui líder e vice-líder do partido. O PL deu liberdade àqueles que quisessem votar dessa maneira. O partido não fechou questão", sustenta Portela, que prega a necessidade de o assunto ser debatido sem amarras ideológicas.

No MDB mineiro, o dissidente foi Hercílio Coelho Diniz. À reportagem, o presidente estadual da sigla, Newton Cardoso Júnior, ressaltou, assim como nomes de outras legendas, o fato de os emedebistas não terem fechado questão.

No PSB, o 'sim' foi por auditoria ampliada


Assim como o PDT, o PSB foi outro partido do campo progressista a ter representantes que votaram favoravelmente ao texto de Bia Kicis. O mineiro Júlio Delgado foi um deles. E, apesar da opção, garante ser terminantemente contra o fim das urnas eletrônicas.

A estratégia do socialista foi aprovar a proposta original para, posteriormente, apresentar destaques que aprimorassem a redação original, considerada "muito ruim" por ele. Delgado queria a exclusão de um trecho que poderia, em sua visão, abolir as urnas eletrônicas. O deputado defendeu, ainda, que a auditoria pudesse ser feita por meios que não as cédulas em papel, em trabalho conduzido pelos atores do processo eleitoral.

Delgado reivindica aumento no número de urnas auditadas. Por isso, votou "sim" para, posteriormente, tentar as mudanças que queria. Como a PEC foi derrubada, não houve como mudar.

"Estávamos defendendo que tivéssemos a possibilidade de aumentar o número de urnas auditáveis para chegar a pelo menos uma a cada município", justifica.

Outros filiados ao PSB, como Emidinho Madeira (MG), optaram pelo "sim". Também sem posição fechada, parte do partido caminhou ao lado de Delgado em prol de mecanismos que pudessem fortalecer a auditagem das eleições. "Eles (o partido) sabiam da minha posição, como sabiam da posição de muitos colegas que votaram da mesma forma. Votamos eu e mais dez", pontua.

O diretório estadual socialista é comandado pelo deputado federal Vilson da Fetaemg. Procurado, o parlamentar afirmou que aguarda orientações do presidente nacional, Carlos Siqueira, para eventuais decisões sobre o caso.

Mais dissidências


No PSD, os mineiros Diego Andrade, Misael Varella e Stefano Aguiar foram a favor da proposta bolsonarista. Esse último crê que o líder federal pessedista, Gilberto Kassab, não punirá os dissidentes. "Já votei várias vezes contra a orientação do partido por causa dos meus princípios e Kassab nunca nos penalizou", observa ele, que diz ter feito sua escolha em prol de um sistema eleitoral "mais transparente".   

No Avante, comandado pelo mineiro Luis Tibé, a única manifestação contrária à orientação pela rejeição do voto impresso saiu das mãos de Greyce Elias, que assegura ter seguido sua "convicção", também embasada na busca por transparência.

O PSDB, por outro lado, fechou questão sobre o tema. Apesar de haver diretriz contra o voto impresso, Domingos Sávio foi de "sim". Procurado, ele não retornou aos contatos da reportagem. O presidente estadual da legenda, Paulo Abi-Ackel, que se ausentou da sessão dessa terça-feira, não foi encontrado. Áecio Neves foi o único a se abster.

A executiva nacional tucana ainda não definiu se serão aplicadas sanções aos "rebeldes". Mas, segundo o "Estadão", os 17 filiados que seguiram a orientação de rejeitar a PEC receberão parcela "bônus" do fundo eleitoral em 2022.

Raio-x do voto impresso: os 26 'sim' dados por MG


Disseram 'sim' ao voto impresso, mas estão em partidos que orientaram pelo 'não'
  1. Diego Andrade (PSD)
  2. Domingos Sávio (PSDB)
  3. Emidinho Madeira (PSB)
  4. Greyce Elias (Avante)
  5. Hercílio Coelho Diniz (MDB)
  6. Júlio Delgado (PSB)
  7. Lincoln Portela (PL)
  8. Misael Varella (PSD)
  9. Stefano Aguiar (PSD)
  10. Subtenente Gonzaga (PDT)
  11. Zé Vitor (PL)

Seguiram os partidos e disseram 'sim' ao voto impresso
  1. Alê Silva (PSL)
  2. Cabo Junio Amaral (PSL)
  3. Charlles Evangelista (PSL)
  4. Dimas Fabiano (PP)
  5. Delegado Marcelo Freitas (PSL)
  6. Gilberto Abramo (Republicanos)
  7. Lafayette Andrada (Republicanos)
  8. Léo Motta (PSL)

Compõem partidos que liberaram as bancadas
  1. Doutor Frederico (Patriota)
  2. Eros Biondini (Pros)
  3. Euclydes Pettersen (PSC)
  4. Franco Cartafina (PP)
  5. Fred Costa (Patriota)
  6. Lucas Gonzalez (Novo)
  7. Weliton Prado (Pros)

Como cada partido orientou
Sim:
PSL, Republicanos e Podemos

Não: PT, PL, PSD, MDB, PSDB, PSB, DEM, PDT, PDT, Psol, Avante, PCdoB, Cidadania, PV e Rede

Liberaram a bancada: PP, PSC, Pros, Novo, PTB e Patriota


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