Os parlamentares estão debruçados sobre o contrato firmado entre a estatal e a Exec, empresa responsável por recrutar Reynaldo Passanezi Filho para a presidência da energética.
Na visão de Professor Cleiton, a manobra desrespeita os princípios da administração pública. Por isso, o socialista fez uso da expressão cunhada pelo senador amazonense.
"Parafraseei o Aziz porque descobrimos que essas convalidações tentam justificar contratações verbais feitas pela Cemig. Usei 'chapéu de otário é marreta' pois estão querendo convencer a gente de que isso é normal", disse, ao Estado de Minas. Omar Aziz é presidente da CPI da COVID no Senado.
Hudson Felix afirmou ter ouvido de Cledorvino Belini, antigo presidente da Cemig, que a escolha da Exec para intermediar o processo de definição do sucessor partiu do governo estadual. Mesmo sem ter participado das tratativas com a headhunter - companhia responsável por recrutar executivos no mercado -, o diretor assinou a convalidação do contrato.
"O processo de convalidação me deu segurança. Dentro desse processo, a gente verifica se é uma empresa qualificada para tal, e verificamos que sim. A Exec é uma das grandes do mercado, com vários clientes semelhantes à Cemig - ou até maiores. Verificamos, também, o valor contratado, que é abaixo daquilo que usualmente se paga no mercado", sustentou.
O relator da CPI, Sávio Souza Cruz (MDB) cobrou, então, a existência de um relatório entregue pela Exec à Cemig detalhando as análises, entrevistas e dinâmicas seletivas feitas para a escolha do novo presidente. Hudson, no entanto, garantiu não ter acesso a um documento do tipo.
A resposta gerou protestos do presidente da comissão de inquérito, Cássio Soares (PSD). "Foi contratada empresa por inexigibilidade (de licitação) para proceder recrutamento da maior autoridade da empresa e o diretor de Gestão de Pessoas não sabe onde está esse processo, mas sabe que foi pago. É inadmissível tamanha ineficiência, para dizer o mínimo".
O depoimento de Hudson Félix foi o segundo desta quinta. Mais cedo, Rômulo Provetti falou aos parlamentares.
Relação com o Novo em xeque
Passanezi assumiu a Cemig em 13 de janeiro de 2020. Em novembro do ano anterior, quando a empresa procurava headhunters para auxiliar no processo de escolha do presidente, a Exec enviou a primeira proposta. O documento, no entanto, foi encaminhado a um diretor do partido Novo em Minas Gerais, que não trabalha na energética.
"Está claro que há uma pessoa estranha à Cemig operando dentro da companhia para favorecer uma empresa que, claramente, tem ligações com o partido Novo", reclamou Professor Cleiton.
Em maio de 2019, a Exec anunciou acordo com o partido Novo para buscar candidatos a prefeito na eleição do ano passado. À reportagem, a headhunter afirmou não comentar processos de seus clientes a fim de manter o sigilo.
O Novo foi procurado para prestar esclarecimentos acerca de suas relações com a empresa. Nesta sexta (20/8), o diretório estadual da legenda afirmou que irá se posicionar oficialmente ao longo dos trabalhos da CPI.
CEMIG
Em nota, a Cemig informou que "a contratação da empresa Exec, responsável pelo recrutamento e seleção do presidente da Companhia, foi feita dentro da legalidade e em conformidade com as normas internas da empresa".
Disse ainda que a formalização do contrato com a Exec foi realizada após o serviço prestado devido ao sigilo que envolve a substituição do cargo de presidente da empresa, que deve ser comunicada ao mercado por meio de Fato Relevante, o que foi feito em 13/01/20, data da eleição e posse do presidente.
"A contratação de serviços especializados neste valor não é matéria de deliberação do Conselho de Administração. A convalidação da prestação dos serviços foi aprovada pela Diretoria Executiva, tendo o Diretor-Presidente se abstido de participar da discussão e votação da matéria, conforme registro na ata da Reunião da Diretoria Executiva", conclui.