Jornal Estado de Minas

CORRUPÇÃO

CPI busca entender saque e fiança milionários envolvendo contratos da Saúde



A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da COVID programou três depoimentos para esta semana. Os senadores vão se debruçar, primeiro, sobre o caso da VTCLog, empresa de logística contratada pelo Ministério da Saúde para cuidar do armazenamento e da distribuição de insumos, como as vacinas. Amanhã, os parlamentares aguardam o motoboy Ivanildo Gonçalves da Silva, responsável por sacar parte dos R$ 117 milhões movimentados de forma suspeita pela empresa nos últimos dois anos. No dia seguinte, será a vez de Marcos Tolentino, apontado como possível sócio oculto do FIB Bank. Depois, será a vez de Francisco Araújo, ex-secretário de Saúde do Distrito Federal, investigado pela Polícia Federal por causa de suspeitas em torno da compra de testes rápidos para o coronavírus.




 
A VTCLog compõe uma das linhas de investigação dos parlamentares. A suspeita sobre os R$ 117 milhões consta em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Além da CPI, o Tribunal de Contas da União (TCU) também analisa o contrato firmado entre a empresa e o governo federal. Segundo o vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a VTCLog “está no centro dos escândalos de corrupção envolvendo o Ministério da Saúde”. A defesa do motoboy Ivanildo pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a suspensão do depoimento.
 
Segundo o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), há suspeita sobre saque de R$ 117 milhões para a VTCLog, feito pelo motoboy Ivanildo Silva
 
 
Foi Randolfe quem solicitou a ida de Ivanildo ao Senado. O profissional é citado várias vezes no relatório do Coaf. A pedido da empresa, ele fez saques que totalizaram mais de R$ 4,7 milhões. “Chama a atenção a confiança que os donos da VTClog depositaram em Ivanildo. Com vencimentos que não ultrapassam teto de R$ 2 mil mensais, Ivanildo chegou a carregar em sua moto R$ 430 mil em 24 de dezembro de 2018, ironicamente, a poucas horas da noite de Natal daquele ano”, diz o político da Rede.
 
Ao Jornal de Brasília, Ivanildo, que fez saques na boca do caixa, disse ter depositado parte da verba na conta de pessoas que não conhece. O Coaf apontou que foram feitas operações financeiras em que a verificação da identidade do destinatário final fracassou. O motoboy teve o depoimento antecipado em dois dias e contará com proteção policial.





De volta aos holofotes Nesta quarta-feira, os senadores ouvem Marcos Tolentino, que seria sócio oculto do FIB Bank, responsável por entregar, à Precisa Medicamentos uma carta-fiança utilizada como seguro durante as tratativas pelas doses do imunizante indiano Covaxin. Antes de assinar acordo de R$ 1,6 bilhão com o Ministério da Saúde, a empresa responsável por oferecer a vacina precisou se comprometer com seguro de R$ 80,7 milhões. Foi o FIB Bank o responsável pela garantia.
 
O governista Eduardo Girão (Podemos-CE) pediu convocação para questionar aplicação de recursos liberados pela União (foto: Waldemir Barreto/Agência Senado %u2013 14/7/20)
 
 
Randolfe Rodrigues é o autor do requerimento para o depoimento de Tolentino. Segundo o senador, a carta oferecida pelo FIB Bank configura-se como  “garantia irregular”. O empresário é dono da Rede Brasil de Televisão. Na semana passada, o diretor do FIB Bank, Roberto Pereira Ramos, disse aos senadores que a companhia não é um banco, mas sim uma empresa que dá garantias pessoais. Jocosamente, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), chamou o FIB de “Lorota Bank”.

Distrito Federal Francisco de Araújo Filho foi preso em julho de 2020, por causa da Operação Falso Negativo. O ex-secretário responde por organização criminosa, descumprimento dos critérios para a dispensa de licitação, fraude e peculato. Ele tem, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), direito a permanecer em silêncio para não elaborar provas contra si mesmo.




 
“A convocação se destina, exclusivamente, a verificar a adequada aplicação dos recursos federais repassados ao governo do Distrito Federal em razão da pandemia”, afirma Eduardo Girão (Podemos-CE), que oficiou o pedido para ouvir Francisco. O depoimento era pleito de Izalci Lucas (PSDB-DF).
 

Nomes e atos interligados 

Operação muito comentada na CPI durante a semana passada, a Falso Negativo foi deflagrada no Distrito Federal pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e a Polícia Civil do DF. Apesar de ter sido um esquema criminoso de esfera distrital, dentro da Secretaria de Saúde do DF, envolveu também a Precisa Medicamentos, que comercializou pelo menos 20 mil testes rápidos, da marca Livzon – devolvido mundialmente – ao DF.
 
Portanto, os mesmos nomes investigados na comissão estavam envolvidos na operação. Por exemplo, o de Francisco Maximiano, dono da Precisa, e de Emanuel Catori, sócio da farmacêutica Belcher, que prestou depoimento na quarta-feira passada. No depoimento de Maximiano, no último dia 19, o empresário foi questionado sobre a quantidade de vezes que encontrou o ex-secretário. Ele respondeu que o encontrou poucas vezes para tratar sobre os testes.




 
À época, a operação já havia apontado também o alerta para “um possível esquema criminoso em curso dentro do Ministério da Saúde”, disse Randolfe Rodrigues. “Os negócios da Precisa vão muito mais além do que a tentativa de vender vacinas. Quando chegou nas vacinas, já tinha um know-how de negócios”, comentou o vice-presidente da CPI.
 
Apesar de Roberto Pereira Ramos Júnior ter afirmado, em depoimento, na última quarta-feira, que Marcelo Tolentino, apontado como sócio oculto da FIB Bank, empresa que fez uma carta de garantia que cobriria 5% do negócio – ou seja R$ 80,7 milhões – em contrato com o órgão federal, é procurador da empresa Pico do Juazeiro, uma das acionistas do FIB Bank, a CPI quer entender por que o advogado se apresentava como representante da seguradora. Assim como pretende esclarecer a justificativa de o endereço da Rede Brasil de Televisão, emissora de Tolentino, e o número de telefone do seu escritório de advocacia em São Paulo serem os mesmos que constam nos dados de CNPJ das empresas acionistas, a Pico e a Mb Guassu. 

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