Em palestra para um grupo de empresárias que integram o Lide Mulher do Distrito Federal, o vice-presidente Hamilton Mourão defendeu o Estado de direito, frisou não haver remédio eficaz contra a covid-19 e pediu respaldo ao governo.
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CPI: Renan Calheiros diz ainda não saber quais requerimentos serão votados hojeMotoboy não tem função que possa colaborar com CPI da Covid, afirma VTCLogMontado a cavalo e sem máscara, Bolsonaro inaugura obra em MinasEm MG, Bolsonaro diz que povo terá 'oportunidade mais importante' no dia 7Mourão discursou por uma hora para 50 empresárias, no Espaço Renata la Porta, no Lago Sul, que teve como anfitriões os presidentes da Lide DF, o empresário Paulo Octávio; e da Lide Mulher, a advogada Livia de Moura Faria. Na fala inicial, Paulo Octávio apontou que o grande desafio do país no momento é lutar contra o desemprego que atinge 14 milhões de pessoas.
O vice-presidente, por sua vez, fez um apanhado do cenário nacional e internacional. Começou referindo-se à pandemia, comparada por ele a um golpe de boxeador. "Todo mundo tem estratégia até levar um murro na cara", enfatizou. "Sabem quem foi o filósofo que disse isso? Mike Tyson. E a covid-19 foi um grande murro na cara de todo o mundo", completou, na palestra sob o tema Desafios de uma nação. A seguir, os principais temas que Mourão abordou.
Vacinas e geopolítica
"A Índia e a China fizeram uma geopolítica da vacina oferecendo para outros países. Até que, para a Índia, a situação ficou crítica internamente, eles tiveram de dar uma segurada. Os Estados Unidos adotaram a lei de Mateus: primeiro para os meus. A imprensa endeusou o Biden, mas quem comprou todas aquelas vacinas que ele anunciou foi o Trump. Elas foram deixadas pelo presidente anterior. (...) O governo busca a vacinação em massa. Fora da vacinação, não foi descoberto um remédio para essa doença. É uma doença que a medicina está lutando para realmente saber como controlá-la."
China contra Estados Unidos
"Muita gente repete o ensinamento histórico da Guerra do Peloponeso, armadilha de Tucídides, com a guerra que houve entre Atenas e Esparta e levou à destruição do mundo helênico. Vemos dois cenários nessa situação: ou uma competição benigna entre China e Estados Unidos, os dois andando em paralelo e trazendo conquistas para o mundo, ou aquilo que está se apresentando, uma rivalidade predatória, podendo, lamentavelmente, nos levar a algum tipo de conflito. Para o Brasil, em ambas as situações, temos de ser pragmáticos e flexíveis."
Excesso de partidos
O vice-presidente contou ser difícil manter um "presidencialismo de coalizão" com o grande número de partidos que existem no país e com representação no Congresso. "É muita gente que o governo tem de negociar para aprovar medidas importantes. Esse presidencialismo que vivemos exige uma capacidade de parte do Poder Executivo, de negociação constante, sem que ela pare, para que a gente consiga atingir os nossos objetivos."
Estado de direito
"Na esteira do longo ciclo de endividamento global, surge um mundo mais propenso a crises políticas. É só olhar o que está acontecendo nos países. Estamos vivendo uma transição do mundo político do pós-guerra para outro ainda desconhecido. E a chegada desse modelo foi acelerada pela pandemia da covid-19. Sempre gosto de destacar os pilares da nossa civilização. Pacto de gerações, democracia como valor de um sistema de governo.
Fora da democracia, não existe outro, por pior que ela seja. O capitalismo no sistema econômico, o Estado de direito, a lei valendo para todos, sem prisões arbitrárias, sem o eu quero, eu posso, eu mando. E a sociedade civil forte, como está aqui representada. O papel da sociedade civil é cobrar dos representantes. Não é aparecer de quatro em quatro anos, apertar lá o botãozinho da urna eletrônica e depois reclamar das redes sociais. Tem de participar. O Brasil é muito maior do que os obstáculos que existem. Com a união do povo brasileiro, é possível. O que queremos é a democracia e a paz social no Brasil."
Zelo pela Amazônia
"É a última área estratégica do mundo. São três: África, Amazônia e Ásia Central. A China, que precisa ter acesso a materiais e insumos, está de olho em tudo. É direito deles. Mas nós, aqui, precisamos saber preservar a nossa soberania, em um território arduamente conquistado por aqueles que nos antecederam. Outra questão envolvida aí é a crise da água. Trinta por cento da água doce do planeta está na Amazônia, sendo mais de 20% na Amazônia brasileira. Nós, além da água sobre a terra, temos dois aquíferos. Vamos vender água num futuro próximo. Será item da pauta de exportação do Brasil, desde que a gente cuide bem da nossa Amazônia."
Potência ambiental
"Ninguém tem dúvida de que sustentabilidade é tema fundamental do século 21. Não posso passar para meus filhos e netos um mundo pior do que eu recebi. O Brasil não é o vilão do meio ambiente. De 100% das emissões de gases do efeito estufa que ocorrem no mundo, 23% são oriundas da agricultura e do desmatamento, ou seja, é o nosso pacote. Os outros 77% são queima de combustível fóssil. É o pacote dos países mais industrializados. Somos uma potência ambiental e agroalimentar, nossa matriz energética é limpa, legislação ambiental avançada, a gente tem de fazer com que ela funcione."
Multa ambiental
"Temos aplicado, o problema é as pessoas pagarem. A multa ambiental não é igual à multa de trânsito, que você recebe em casa e o máximo que diz: 'Não, era a Renata (filha dele) que estava dirigindo, põe lá no CPF dela. Não, a multa ambiental é um contencioso fortíssimo que se arrasta".
Quarentena no Judiciário
"Quarentena para juízes está muito forte. Não sei se se dirige a Sergio Moro ou ao MP (Ministério Público). (Essa quarentena) Não é o caso. Transforma cidadãos brasileiros em de segunda categoria."
Crise no Afeganistão
"Os Estados Unidos não podem mais dominar o mundo. Mas também não podem mais retirar sua presença do mundo. É necessário dar continuidade. Ao sair do Afeganistão, os talibãs voltaram ao poder. O presidente Bolsonaro já sinalizou que o país estaria aberto para receber refugiados, mas devido à grande distância, não acredito que receberemos muitos."
Dívida e reforma tributária
"A dívida pública, em 12 anos, triplicou. Com a inflação, chegou a bater em 90% do PIB (Produto Interno Bruto), caiu para 84% no final do primeiro semestre, mas é uma dívida extremamente elevada para um país como o Brasil. Estamos no sétimo ano do país no vermelho. A previsão para 2021 é de R$ 250 bilhões. Uma inflação pelo retorno da demanda, pela questão do câmbio, preço das commodities, a China comprando tudo, o pessoal quer vender lá fora e aumenta aqui dentro os preços de insumos básicos.
A questão do desemprego; a baixa produtividade, pelo custo Brasil; a redução dos investimentos e do crescimento. Temos espaço para expansão fiscal? Complicado. Quem gasta mais do que ganha. Vive uma situação complicada. Governo é igual. Governo tem um limite que pode se endividar. O aumento dos gastos governamentais, num primeiro momento, houve aumento de imposto. Quando não deu mais, vamos nos endividar. Daí, o salto da dívida em 12 anos. Agora, não dá mais."
Mudança na Previdência
"Tivemos o pacote da Previdência. E vai ter de haver outra mudança. Estamos vivendo mais. Não vai adiantar o cara dizer que vai se aposentar aos 63 anos, porque não vai conseguir, ou, então, vai se aposentar e viver com uma mão na frente e outra atrás, porque o governo não tem dinheiro para bancar isso aí."
Orçamento e Estado
"É preciso desvincular o Orçamento, em que 96% são de despesa obrigatória. E precisa da modernização do Estado. O Estado tem de gastar menos. Não é só a questão do funcionário. Viemos reduzindo o gasto com pessoal. A própria Forças Armadas. Em 2012, 85% do Orçamento das Forças Armadas era para pagamento de pessoal. O último dado, 2019, tinha caído para 75%. Mas o Estado ainda é ineficiente e atrasado. Em plena era da digitalização, ainda circula papel na Esplanada dos Ministérios. Processos todos em papel."
Privatização e concessões
"É preciso se abrir ao mercado. As concessões são muito importantes, o trabalho que o ministro Tarcísio vem fazendo, via PPI (programa de parcerias de investimento), para melhorar a infraestrutura do país, trazendo o setor privado. Mas para o setor privado vir, tem de ter duas coisas: segurança jurídica e estabilidade no ambiente de negócios, senão, o privado não vai colocar o dinheiro dele aqui. (O ex-prefeito do Rio de Janeiro Marcelo) Crivella derrubou os pedágios da linha amarela, e quem é que vai investir naquilo lá para ter prejuízo?"
Liderança do agronegócio
"Por que o nosso agronegócio é líder? Porque investiu em tecnologia, se abriu na década de 1970, do ministro Alysson Paulinelli. Saiu mundo afora para descobrir qual era a melhor forma de plantar e produzir no nosso país. E se deu um choque para competir com o restante do mundo. E hoje o restante do mundo quer nos cercear nessa questão."