Comprometidos, eles não desistem do apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nem mesmo ante a crescente rejeição vista nas pesquisas de opinião. E, para o 7 de Setembro, Dia da Independência, prometem mega-manifestações Brasil afora. O chefe do governo federal já estimou a participação de 2 milhões de pessoas no ato marcado para a Avenida Paulista, em São Paulo (SP).
A cidade vai receber alguns ônibus organizados por bolsonaristas mineiros. Paralelamente, outros grupos do estado se preparam para estar no protesto convocado para Brasília (DF). Em pauta, a "defesa da liberdade". Na ponta da língua dos manifestantes, as "quatro linhas" da Constituição, "demarcadas" e propagandeadas por Bolsonaro.
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Zema sobre as manifestações no 7 de setembro: 'Momento inadequado"Bolsonaro: 7/9 será 'ultimato para dois que precisam entender seu lugar'Rodrigo Maia diz achar que Bolsonaro é gay: 'Ele não consegue assumir'Caravana de apoio a Bolsonaro sai de Passos para SP no 7 de Setembro Embaixada dos EUA alerta cidadãos norte-americanos sobre protestos no dia 7De Belo Horizonte, é certo que partam dois coletivos rumo ao ato na Paulista. O comboio sairá da cidade na noite de segunda-feira (6), chega a São Paulo para as atividades e retorna ainda no dia da Independência.
Um dos organizadores é Wili dos Santos, de 31 anos, coordenador do grupo Direita Minas em Santa Luzia, na Região Metropolitana. De antemão, ele assegura que o bate-volta será cansativo. Para custear o deslocamento, os interessados devem desembolsar R$ 138, fora as despesas com alimentação, custeadas individualmente ao longo da jornada. A ideia é que cada um "forre" o estômago durante as paradas. Em São Paulo, o objetivo é achar um "cantinho" para o almoço.
"A gente já está acostumado com esse tipo de coisa. A militância que vai já sabe como funciona", diz ele, prevendo os desafios do périplo.
No grupo que sairá de BH rumo a São Paulo, estará o deputado estadual Bruno Engler (PRTB), que emprega Wili em seu gabinete e é defensor ferrenho do presidente. Ao lado deles, conta o organizador, estará a militância mais "aguerrida", com disposição para a viagem. Wili protesta contra a censura de influenciadores bolsonaristas na rede e fala em corte no alcance de algumas postagens. Por isso, cita pautas em prol da liberdade e da Constituição, sem se esquecer de mencionar oportunidades em que, supostamente, o Supremo Tribunal Federal (STF) "ultrapassou limites".
Wili garante que as manifestações não farão ecoar agendas antidemocráticas. A meta é permanecer dentro das tais "quatro linhas". "Vez ou outra, aparece alguém pedindo algo a mais, mas não faz parte da militância. São pessoas soltas na manifestação", diz. Pleitear a reprise do mais duro ato institucional da ditadura militar, o AI-5, é carta fora do baralho. "Em nenhum momento a gente quer esse tipo de coisa. Sabemos que, em um mundo globalizado como o de hoje, o que tem de problema em qualquer tipo de ruptura constitucional. O presidente jamais quer isso".
No Sul de Minas, 154 pessoas, divididas em três ônibus e uma van, vão percorrer os cerca de 200 quilômetros que separam Pouso Alegre e São Paulo. Os R$ 80 pagos pelos participantes subsidiam transporte e uma camisa personalizada da caravana. Lanches, frutas e água também compõem o pacote.
Entusiasmado, o coordenador do grupo, Robson Magalhães, de 34 anos, crê que a Avenida Paulista pode se tornar palco simbólico dos protestos à direita. Empresário, ele é responsável pela seccional pousoalegrense do movimento Direito Minas. O comboio foi ganhando adeptos pelas redes sociais. "Sempre concentramos as manifestações em nossa cidade, pois é a segunda maior do Sul de Minas. Essa é a primeira caravana que fazemos, em três anos do núcleo na cidade, para participarmos de uma manifestação em São Paulo".
Para Robson, o país vive uma "ditadura do Judiciário". Embora assevere não pregar o fim da Suprema Corte, alega que o país viu, durante a pandemia, "liberdades individuais sendo suprimidas". O inquérito das fake news e as prisões do deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) e do presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, ambos após ameaças a ministros do STF, são citados como exemplos. "Esperamos que seja uma das maiores manifestações de direita das últimas décadas no país", crava, fazendo questão de salientar que a caravana vai seguir os protocolos de viagem determinados pela Vigilância Sanitária. Álcool gel, máscara e aferição de temperatura vão ser obrigatórios, garante.
Um dia no 'busão'
Mais longa que os bate-voltas rumo a São Paulo vai ser o caminho do ônibus que parte neste sábado (4) de Nanuque, na Região Nordeste do estado. O grupo organizado por Fabrício Felipe dos Santos, 50, escolheu Brasília. A longa viagem, estimada em cerca de 18 horas, segundo estimam os GPS, não é coberta apenas pelas contribuições dos participantes.
"Somos um grupo de 55 pessoas e iremos pagar só a metade do ônibus. O resto foi financiado por fazendeiros da região, o agronegócio mesmo. E também tivemos ajuda dos comerciantes", explica o coordenador da excursão, citando o apoio do dono de uma concessionária.
Para preencher os assentos do coletivo, Fabrício fez um folder propondo a viagem. Depois, jogou a imagem no Facebook; também houve divulgação. Assim, os lugares foram sendo reservados. Os crescentes índices negativos do presidente não esmorecem o bolsonarista. "O homem (Bolsonaro) está voando. Ele é o máximo. Se não tivesse pandemia, estaríamos voando também. Ele ia ter 80% de aprovação".
De Januária, no Norte, dois ônibus terão Brasília como destino. O grupo vai sair na segunda-feira, mas não divulga publicamente o horário, por motivo de segurança. Entre os participantes, está o pastor Ricardo Cordeiro. Na imagem de divulgação da caravana, que circula na web, é dele o número de telefone para a obtenção de informações. O religioso, contudo, evita se intitular como organizador ou "cabeça" da equipe. Sem ligação com movimentos formais, o passeio tem como mote a defesa dal "liberdade".
"O governo não é perfeito, existem falhas em alguns pontos, mas é preciso entender que o presidente não consegue governar desde sua eleição e que, apesar disso tem conseguido caminhar com o país para um cenário de progresso", comenta.
Segundo Ricardo, o WhatsApp e as redes foram palco para a organização dos interessados em estar na capital federal. Há pessoas que custearam a participação na caravana, mas também existem os que contribuem para concretizar a presença dos que não têm condições financeiras. "Coisas de patriotas, entende?".
Na pequena Machado, no Sul, a escolha foi por São Paulo, cerca de quatro horas distante. Na Paulista, estarão simpatizantes transportados em duas vans - uma, com 19 lugares; outra, com 15. O "rateio" das despesas entre os interessados possibilitou os aluguéis. Tudo isso para dar apoio a Bolsonaro e em prol da "liberdade". "Sentimos um forte desejo de estar presentes nessa grande manifestação de 7 de setembro", conta a educadora física Angélica Alves, 31, coordenadora da excursão.
Antecedência é chave para a caravana
Na manhã de terça, Bolsonaro estará com apoiadores em Brasília. O encontro com os presentes na Paulista será à tarde. Quem planeja já marcar território na principal avenida do país enquanto o presidente ainda estiver na capital federal é a caravana de Uberaba, no Triângulo, que tem o empresário Thiago da Rocha, 29, como um dos líderes. Ele e os colegas esperam desembarcar em São Paulo no início da manhã de feriado. São aproximadamente seis horas de chão até a "Terra da Garoa".
"Estamos indo para chegar bem mais cedo, se preparar melhor, ficar mais tranquilo, arrumar um lugar para ficar e procurar um local para se alimentar", projeta.
Um ônibus que partirá de Uberaba já tem todos os assentos ocupados. Até a saída, o grupo, ligado ao Direita Minas, espera alugar uma van. Um lugar na caravana custa R$ 150, sem alimentação ou outros adicionais. Thiago, que já esperava grande movimentação na Paulista, acredita em um aumento do movimento após Bolsonaro garantir que estará presente. "Depois dessa confirmação dele, com certeza (a adesão) vai aumentar".
O Direita Minas também arquitetou excursões para a capital paulista oriundas de cidades como Itajubá, Varginha, Bueno Brandão e São Lourenço. Para Brasília, há ônibus de Uberlândia, Pitangui e Patos de Minas.