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Estado de Minas ENTREVISTA JUNIO AMARAL

Deputado bolsonarista diz que 'liberdade está acima da própria vida'

Junio Amaral defende manifestações pró-governo e afirma não ver "inversão de prioridades" no embate com o STF em meio à crise econômica


06/09/2021 04:00 - atualizado 06/09/2021 08:04

(foto: MICHEL JESUS/CÂMARA DOS DEPUTADOS - 9/5/19)
Ferrenho defensor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o deputado federal Junio Amaral (PSL-MG) diz que o “clamor por liberdade” vai pautar os atos que serão realizados na terça-feira (7/9) a favor do chefe do Executivo nacional. Agendados para o dia da independência em diversos pontos do Brasil, os protestos vão ter, segundo o parlamentar, um mote mais importante até mesmo do que a vida.

Por isso, não crê em inversão de prioridades quando, enquanto milhares de brasileiros enfrentam dificuldades para levar comida à mesa, outros vão às ruas reivindicar a “liberdade”. “Até as questões econômicas e a comida no prato do brasileiro, por mais simples que seja, estão diretamente ligadas à liberdade. Seja a liberdade para exercer as atividades e levar sustento para casa, seja a liberdade de expressão”, explica ele, ao Estado de Minas.

Cabo reformado da Polícia Militar, Amaral é investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito que mira bolsonaristas suspeitos de disseminar fake news. Ele foi citado também na apuração sobre o incentivo a atos antidemocráticos. Para ele, a Suprema Corte deve ser o principal alvo dos protestos.

“Parte muito mais expressiva vai às ruas clamar e pressionar para que a relação entre os poderes esteja, por parte de todos os três, dentro das quatro linhas. Não é o que está acontecendo por parte do STF”, afirma ele, mencionando, ainda, que parte do Congresso Nacional também extrapola limites legais de atuação.

O deputado classifica como “perfeitamente compreensível” o desejo do grupo que, em sua visão, é minoria, mas pleiteia que Bolsonaro ultrapasse as “quatro linhas” para “reagir” a atos do STF. Embora acredite que os índices desfavoráveis ao governo retratados pelas pesquisas são exagerados, ele reconhece que “prejuízos econômicos” têm afetado negativamente a gestão de Bolsonaro.

O que os bolsonaristas pretendem dizer nos atos do feriado?
A principal manifestação gira em torno do clamor por liberdade. É claro que, por consequência, há diversas outras pautas. Temos visto direitos sendo violados e relacionamentos promíscuos entre figuras do alto escalão da nossa política. Mas (a pauta é) principalmente liberdade. O STF talvez seja o principal alvo desses protestos. O cidadão tem direito de reclamar e se indignar com o que está acontecendo.

Com decisões absurdas e interferência do STF no Executivo, mas, principalmente, inquéritos inconstitucionais sendo abertos, de maneira totalmente não prevista na legislação, ferindo o sistema acusatório. Prisões ilegais, deputados, como Daniel Silveira (PSL-RJ), também sendo presos – e mantido preso. É uma conjuntura de coisas, mas se resume no clamor por liberdade, que estamos vendo cada dia mais sendo tolhida em relação aos apoiadores do presidente.

O presidente projetou 2 milhões de pessoas na Avenida Paulista. Paralelamente, a desaprovação do governo tem crescido. O que explica o crescimento dos índices negativos?
As pesquisas não revelam números verdadeiros em relação ao apoio ao presidente. Não estou dizendo que esses números são totalmente inversos, mas, na nossa história recente, a gente percebe que toda vez que se envolveu o presidente Bolsonaro, as pesquisas menosprezaram o resultado real. Falo de pesquisas eleitorais, que apesar de não serem a mesma coisa das pesquisas de aprovação, vão no mesmo sentido, e se relacionam à opinião das pessoas sobre políticos.

Para mim, são números que não correspondem à realidade. (Os índices são explicados) um pouco pela situação econômica do país. Aí, sim, há uma parcela da população mais insatisfeita. Não deixa de ter razão de estar insatisfeita, mas, muitas vezes, não compreende os motivos dos prejuízos que o país vem tendo, principalmente por conta das restrições muito perversas que aconteceram no início e no meio da pandemia. A atividade industrial e, por consequência, o emprego, acabaram sendo muito afetados. É uma consequência natural das questões que aconteceram nesses momentos.

Como a base fiel ao presidente lida com a piora dos números sobre a gestão?
A base do presidente lida com naturalidade. A gente entende que grande parte da população não tem a compreensão de causa e efeito. Não tem a compreensão de onde partiu o problema para que, na ponta da linha, algumas situações não estejam tão legais como antes da pandemia. A gente cita o preço dos combustíveis — o presidente explica muito bem em relação aos impostos estaduais, mas claro: houve, sim, um acréscimo, muito preço global do petróleo. (Há) outras coisas, como a inflação dos alimentos, algo que atinge diretamente as classes menos favorecidas. Enxergamos com naturalidade. Depende de a gente colaborar para a conscientização da população.

Ensinar parte da população que não compreende a relação de causa e efeito. Infelizmente, grande parte da grande mídia colabora para essa desinformação, sempre querendo, direta ou indiretamente, colocar na conta do presidente. Por outro lado, somos um dos países que menos sofreram consequências econômicas (da pandemia). O mundo inteiro está sofrendo, e nós ainda estamos em posição de menos impactados por isso. Mas, ainda assim, há, claro, um prejuízo político devido a esses prejuízos econômicos.

O senhor citou ações do STF que, em sua visão, são inadequadas. Críticas do tipo não podem soar como tentativas de interferir no Judiciário? O pedido de impeachment de Alexandre de Moraes não é a senha para acirrar ainda mais o debate público?
Não. Na verdade, o que temos que levar em conta são, salvo engano, as 140 decisões que o STF tomou até aqui interferindo em ações do Executivo. Bolsonaro não fez nem sequer 1% disso, a não ser fazendo sua parte de conscientizar a população. O STF vem, desde o primeiro mês de mandato, atrapalhando o Executivo e interferindo em ações que não lhe competem. Como disse, iniciando inquéritos inconstitucionais, ferindo o sistema acusatório e tentando, claramente, desgastar o governo.

Eles também fazem declarações públicas contra o governo, assim como Bolsonaro também faz — mas, pelo que constato, sempre em ato reverso, em defesa a um ataque, aí, sim, apontando problemas. Bolsonaro é, simplesmente, um cara que não está comendo nas mãos dos ministros, coisa que presidentes anteriores faziam. ‘Rabo preso’ de um com ‘rabo preso’ do outro. Essa relação promíscua por parte do Executivo acabou. Bolsonaro tem a liberdade de expor o seu ponto de vista e ser firme contra decisões ilegais que, antes, não eram nem necessárias, porque um poder jogava junto com o outro, mesmo estando todos em condições ilegais.

Alguns dos que olham as manifestações de fora relatam temor por defesas de agendas favoráveis à ruptura democrática. O senhor teme que discursos do tipo ecoem? Isso não é arriscado?
Parte muito mais expressiva vai às ruas clamar e pressionar para que a relação entre os poderes esteja, por parte de todos os três, dentro das quatro linhas. Não é o que está acontecendo por parte do STF. A população vai para pressionar para que STF e, até mesmo, parte do Congresso, retorne a jogar dentro das quatro linhas. Há uma parcela menor, que a gente não pode ignorar e tachar de extremista por achar que o STF já extrapolou a barreira das quatro linhas e que, a partir disso, o presidente deveria fazer o mesmo.

É compreensível que pessoas que estão vendo o Brasil ser travado com ilegalidades e inconstitucionalidades por parte do STF desejem que o presidente faça o mesmo em reação. Por mais que a gente tente manter essa maioria, limitada ao clamor e à pressão para que o STF diminua suas inconstitucionalidades, é perfeitamente compreensível o sentimento da minoria que entende que o presidente precisa agir, ainda que fora das quatro linhas, para reagir a essas ações, também fora das quatro linhas, do STF.

O senhor está dentro desse grupo que julga ser maioria?
Por ser um investigado no inquérito das fake news e dos atos antidemocráticos, mesmo sendo claramente inconstitucionais, prefiro não responder à pergunta. Tenho as minhas convicções, mas prefiro não responder, para permitir que, no momento certo, a gente fale disso. Para você ver o resultado desses dois inquéritos: a gente não pode sequer falar o que pensa mesmo sendo parlamentar e tendo o direito constitucional de exercer livremente quaisquer palavras, opiniões e votos, sendo invioláveis por isso. Prefiro não responder, para não correr o risco de ser preso como Daniel Silveira. Ao mesmo tempo, não quero ser um mentiroso e falar o que não penso. Quem me acompanha, me conhece e sabe da minha indignação, conhece meu posicionamento neste momento e qual, para mim, seria a única saída.

Gasolina, gás e combustíveis estão com o preço no alto. O cidadão comum enfrenta situação delicadíssima para levar alimentos à mesa. É adequado, neste momento, fazer esse debate sobre ‘liberdade’? Não é uma inversão de prioridades?
Não é. A liberdade está acima, inclusive, da nossa própria vida. Pode parecer, em uma primeira abordagem, que não tem relação direta, mas tem total ligação, tendo em vista que se a liberdade da classe trabalhadora, dos empreendedores, da classe produtiva e das pessoas que geram riquezas ao país não tivesse sido cerceada de maneira absurda no início da pandemia, hoje não teríamos esse problema econômico que o país está enfrentando.

Até as questões econômicas e a comida no prato do brasileiro, por mais simples que ele seja, estão diretamente ligadas à liberdade. Seja a liberdade para exercer o livre trabalho, as atividades e levar sustento para casa, seja a liberdade de expressão.


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