"Eu vou para a rua no dia 7 de setembro para mantermos a nossa liberdade. A liberdade de pensamento, de expressão, de opinião, de manifestar. E até nossa liberdade de crença, porque hoje estamos sendo atacados de todos os lados e isso precisa ser defendido", afirma Fernando Borja, suplente de deputado federal pelo Avante, empresário e pastor batista.
Um vídeo gravado por ele, ao lado de sua esposa Flavia Borja, vereadora em Belo Horizonte também pelo Avante, está entre uma das mais compartilhadas convocatórias para os protestos governistas desta terça-feira (7/9), com mais de 926 mil visualizações no Facebook até a noite da segunda-feira.
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"O índice da miséria no Brasil cresceu. Estamos diante de uma inflação acelerada, cresce o desemprego, aumenta o custo de vida, cai a renda do trabalhador. A crise hídrica é de grande repercussão: a carestia dos alimentos, o aumento da energia, gás de cozinha a R$ 120. Queimadas, destruição do meio ambiente. Tudo isso deve nos preocupar", enumera Adilson Araújo, presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), sobre os motivos para o protesto contrário ao governo.
A CTB é uma das centrais sindicais que estão convocando a manifestação da oposição no Anhangabaú, ao lado da CUT, de movimentos sociais como MTST e MST e de partidos de esquerda, incluindo PT, PCdoB e Psol.
Para entender o que pensa quem vai para as ruas nos protestos do 7 de setembro, a BBC News Brasil convidou Fernando Borja e Adilson Araújo para uma conversa conjunta, realizada de maneira virtual.
Eles temem violência nas manifestações? Como avaliam a participação de policiais e membros das Forças Armadas nos protestos? O que pensam do governo Bolsonaro? Acham que a democracia brasileira está em risco? E que pergunta fariam aos manifestantes do outro lado?
Num encontro improvável entre os dois lados que vão às ruas neste 7 de setembro, perguntamos tudo isso a eles. Confira abaixo o debate em vídeo e os principais trechos dessa conversa.
Risco de violência e policiais nos protestos
"Eu espero que não tenha violência de forma nenhuma, mas se você olhar as últimas manifestações que tiveram no país, em nenhum momento houve alguma manifestação pró-Bolsonaro que teve algumas violência, quebradeira, destruição de patrimônio público, queima de estátuas, quebrar vidro de comércio. Em lugar nenhum houve isso", diz Borja, quando questionado se tem medo de que possa haver violência nos protestos do dia 7.
"A gente sabe muito bem que a esquerda é muito bem preparada em provocar, confrontar e depois se vitimizar", completa, alfinetando o outro lado.
Já Araújo, da CTB, diz temer o que pode acontecer nesta terça-feira e afirma que não está sozinho nesta preocupação.
"Não somente eu, Adilson, estou receoso do que pode acontecer, como o mundo todo. O manifesto do agronegócio, o manifesto da Febraban, a manifestação dos líderes mundiais avocam que, de fato, os arroubos autoritários do Bolsonaro são uma ameaça ao país", afirma, fazendo referência às cartas lançadas nos últimos dias pela Associação Brasileira do Agronegócio, pela Federação Brasileira de Bancos e por políticos de 27 países em defesa da democracia brasileira.
Questionados sobre como avaliam a participação de policiais e membros das Forças Armadas nos protestos, os dois também mostram opiniões divergentes.
"Me parece que há uma certa rebelião", avalia o sindicalista. "E a prova disso é que militares compraram 116% mais armas do que em todo 2020. Essa milícia está sendo estimulada a uma provocação, uma desordem."
Ele faz referência a dados obtidos pelo institutos Sou da Paz e Igarapé, por meio da Lei de Acesso à Informação, que revelaram que os PMs compraram 24.991 armas de uso pessoal nos seis primeiros meses de 2021, ante 11.576 armas compradas com o mesmo fim nos 12 meses do ano passado.
Já o político do Avante avalia que é direito de policiais e membros das Forças Armadas participar dos protestos e defende o maior acesso às armas de fogo.
"Todos são cidadãos, 7 de setembro é uma festa nacional da nossa independência, todas as pessoas têm o direito de manifestar constitucionalmente. E vou falar mais uma vez: nós precisamos comprar é até mais armas", afirma. "Quem quer desarmamento no país, vai morar agora na Venezuela, ou vai morar na Argentina."
Governo Bolsonaro e risco à democracia
Para o empresário e pastor, o governo Bolsonaro tem a melhorar, mas também tem sido impedido de avançar devido "ao aparelhamento das instituições pela esquerda".
"Eu creio que o governo Bolsonaro tem sido hoje a única solução que nós temos. Temos muita coisa para aprimorar: temos. Tem muita coisa para reconhecer que podemos fazer diferente: podemos", diz.
"Mas nós sabemos muito bem que as instituições que foram aparelhadas pela esquerda nos últimos 30 anos estão hoje tentando travar o governo onde podem. Onde o governo tem a liberdade de agir, tem conseguido fazer satisfatoriamente", afirma, citando como exemplo as obras de infraestrutura que têm sido tocadas pelo ministro Tarcísio de Freitas.
O presidente da central sindical, por sua vez, tem uma opinião bem menos generosa da performance do governo até aqui.
"O governo Bolsonaro é a prova inconteste do negacionismo, do descaso, do diversionismo. Tudo que o presidente Bolsonaro não soube ser foi presidente da República. Bolsonaro aposta em incendiar o circo", afirma.
"Está claro e evidente que esse governo não tem nada a oferecer. Que a sua opção principal é liquidar o país, é vender as empresas públicas, é aprofundar o desemprego, a desigualdade."
Se discordam na avaliação do governo, ambos concordam que a democracia brasileira está em risco — mas por motivos bastante diferentes.
"O Brasil sofre a ameaça de um ruptura à sua democracia", opina Araújo. "Quem perde com isso? O povo. O povo que reclama um prato de comida à sua mesa. O povo que reclama a oportunidade de um emprego que não vem. Não vem porque esse governo é um descalabro."
Borja, por sua vez, ao falar da sua percepção de risco à democracia, cita países governados pela esquerda da América Latina, que enfrentam crises variadas.
Com base nesse argumento, defende a pauta bolsonarista do voto impresso.
"Nós temos um grande risco hoje de perdermos a democracia e virarmos uma Venezuela, uma Cuba, uma Argentina, por causa das fraudes que estão sendo preparadas para a próxima eleição", afirma.
"Nós estamos correndo risco se não tivermos o voto impresso. Estamos correndo risco com um Supremo hoje que está trabalhando de forma arbitrária. Nós corremos o risco de hoje entregar o país para a China, que está cada vez mais comprando espaço no país todo para dominar. A população está indo para as ruas para dizer não ao comunismo", conclui.
Uma pergunta ao outro lado
Durante a conversa realizada na segunda-feira (6/9), a BBC News Brasil questionou a cada um dos participantes o que gostariam de perguntar aos manifestantes do outro lado.
"O mundo todo acordou nessa segunda-feira um tanto preocupado com a situação em que o país se encontra, de profunda instabilidade política", disse Araújo.
"Um trecho da carta diz: 'Estamos seriamente preocupados com a ameaça iminente de quebra das instituições democráticas no Brasil. Bolsonaro não deve ter permissão de roubar a nossa democracia.' Isso não lhe preocupa?", perguntou a Borja.
O político do Avante respondeu criticando novamente a oposição.
"Mesma ladainha de sempre da esquerda. Nunca apresenta dados, só joga rótulos no atual governo. Um governo que recebeu um país quebrado. Um governo em que hoje as pessoas são presas por causa de opinião", disse Borja.
"O que estão falando mundo afora, vocês sabem muito bem que são fake news, são mentiras. Hoje, o único que tem chance de manter a liberdade nossa no Brasil, para não caminhar para ser entregue, virar uma fazenda da China, tem sido Bolsonaro. Nós sabemos o que está acontecendo, o povo acordou, o povo não é bobo."
Ao sindicalista, Borja perguntou quais seriam as proposições da oposição para mudar o país e se ele concordava com a avaliação de que o Supremo está aparelhado e realizando prisões arbitrárias. Araújo respondeu criticando novamente o governo Bolsonaro.
"Certamente, os problemas que agridem a nossa sociedade não serão encontrados a partir da interpretação do governo Bolsonaro, que insinua que o povo ao invés de ter acesso a um prato de feijão, tem que ter um fuzil na mão", disse.
"Isso é um retrato do descaso, do negacionismo de quem não tem compromisso efetivo com a sociedade. Se a miséria cresce, se o desemprego cresce, é muito decorrente da falta de um projeto de governo."
Entre as trocas de farpas, fica claro que o diálogo entre os dois lados seguirá difícil.
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