Nas últimas semanas, profissionais da área de segurança pública, especialmente policiais militares da reserva, convocaram a população para protestos a favor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) marcados para 7 de Setembro, dia da Independência do Brasil.
Um ano antes das eleições presidenciais e em um cenário de piora das expectativas da economia, os atos marcados para ocorrer em todas as capitais brasileiras servirão como termômetro para medir a popularidade de Bolsonaro.
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Policiais militares da reserva e da ativa, civis, guardas municipais e especialistas em segurança pública ouvidos pela BBC News Brasil disseram que a maior parte dos trabalhadores da segurança apoia Bolsonaro. Questionados, eles disseram que o principal motivo é ideológico, mas reforçam que apenas os mais radicais manterão apoio caso problemas na economia não sejam amenizados até as eleições em 2022.
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7 de setembro: como o Dia da Independência apagou a memória da luta negra por independência e abolição'Manifestações de alto risco' no 7 de setembro: o que diz a imprensa internacional sobre protestosDefesa do Estado Democrático de Direito deve unir o Brasil, diz PachecoEntre os argumentos usados por quem defende Bolsonaro estão a defesa da família e bons costumes, o medo de um possível retorno do PT ao poder e a necessidade de manter uma representatividade da categoria do Palácio do Planalto. Esse apoio ganhou força nos últimos meses.
De acordo com um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, cresceu de 30% para 38% a participação de agentes de segurança pública em redes sociais bolsonaristas em 2021, em comparação com o ano anterior.
1. Ideologia
Ex-investigador e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Guaracy Mingardi disse que o apoio de policiais a Bolsonaro é uma "questão meramente ideológica, nada prática".
"O Bolsonaro é um adepto do uso da força, da violência. E com esse argumento ele justifica as ações que levam policiais a matar. Isso faz com que alguns deles (policiais) o apoiem e influenciem outros. Além de que normalmente policiais, no mundo inteiro, são mais conservadores que a média da população", afirmou.
Agentes de segurança da ativa ouvidos pela BBC News Brasil disseram, na condição de anonimato, que comparecerão ao ato a favor do presidente da República - os que estiverem de folga. Ao contrário do que temem as forças de segurança estaduais, eles disseram que irão desarmados, mas garantem que a população os identificará com facilidade.
Esses policiais, e até guardas municipais, dizem que concordam com as ideias de Bolsonaro e afirmam que ele não consegue gerir o país porque o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) não permitem.
No entanto, a maior parte reconhece que o governo fracassou em alguns setores, principalmente na economia. Os policiais disseram que o protesto de 7 de Setembro será uma demonstração de apoio vital para que o presidente se reerga e ganhe força para aplicar novas políticas públicas.
Policiais ouvidos pela reportagem dizem que também apoiam Bolsonaro porque ele "defende os valores cristãos e da família", além de ter sido o único político que conseguiu tirar o PT e a esquerda do poder. Eles temem que uma queda de Bolsonaro signifique o retorno de Lula e da esquerda à presidência.
2. Abandono e representatividade no governo
O cientista político da Universidade Estadual do Rio (UERJ) e major da reserva da Polícia Militar do Rio de Janeiro Luiz Alexandre Souza da Costa disse que Jair Bolsonaro e os filhos dele souberam explorar o "abandono dos policiais" deixado pelas gestões anteriores e levar a categoria para o lado deles.
"Policiais sempre foram órfãos de gestores públicos. Policiais morrem muito no Brasil, têm salários, em geral, bem baixos, e em muitos Estados têm péssimas condições de trabalho. São uma categoria, em geral, conservadora, que lida com a violência. Bolsonaro, e depois seus filhos, souberam explorar muito bem esse sentimento de abandono dos policiais, notadamente os militares, por gestores públicos de diversos espectros políticos".
Os policiais apoiam o governo porque veem representantes da categoria deles ocupando cadeiras importantes no alto escalão da gestão Bolsonaro, incluindo boa parte dos ministérios.
Além da representatividade no governo, o professor da UERJ diz que Bolsonaro quer vitimizar o policial e valorizar a classe, ao fazer discursos de que "bandido bom é bandido morto" e "condecorar quem mata 10, 15, 20".
"Bolsonaro conseguiu, através dos anos, fazer um curral eleitoral nas polícias do Rio de Janeiro. Os policiais olhavam para o lado e não viam quem os representava. Isso mudou um pouco nas últimas eleições, em que vários PMs foram eleitos. E entenderam que isso foi possível somente graças a Bolsonaro", afirmou.
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3. Reforma da Previdência
Luiz Alexandre Souza afirma que os policiais militares também são fiéis a Bolsonaro por terem sido poupados da Reforma da Previdência.
"A reforma afastou policiais civis e federais de Bolsonaro. Mas não os PMs, que se sentiram 'priorizados', pois não caíram na vala comum dos civis. Eles apenas tiveram a mesma mudança aplicada aos militares federais, ou seja, cinco anos a mais. A diferença é que os militares federais ganharam um grande aumento salarial por esses 5 anos, mas mesmo assim se sentiram agradecidos", afirmou.
Para o professor, isso deu aos policiais militares um sentimento de que eles estão numa posição privilegiada, pois entenderam que não foram comparados a policiais civis e federais.
"Hoje, na PM, vejo um grupo bolsonarista raiz, que se identifica totalmente com o presidente. Um grupo que não gosta do governo, mas vota em Bolsonaro em 2022, pois entende que a esquerda é pior. É um pequeno grupo que entende o quanto o governo é ruim e o risco que Bolsonaro representa. Esses grupos não diferem muito da sociedade", disse o professor.
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