Jornal Estado de Minas

7 DE SETEMBRO

Moradores em situação de rua com vozes distintas: pró e contra Bolsonaro

O Brasil está cada dia mais pobre e com milhões de desassistidos. Em Belo Horizonte, de acordo com o último censo municipal, divulgado em janeiro de 2020, há 4,6 mil sem-teto na capital mineira. Um apopulação vulnerável, que só aumenta, e que neste 7 de Setembro vê as ruas da cidade invadida por manifestantes contra e a favor do governo federal. E procuram também ter voz neste momento.





Das escadarias da antiga Secretaria de Viação e Obras, Antônio Aroldo de Castro, de 62 anos, observa o vai vem da manifestação. Com casaco de frio marrom, ele contrasta com o verde amarelo de quem passa envolvido na bandeira do Brasil. Nas mãos, a edição da revista Veja com a manchete "Uma derrota da civilização".

Antônio diz que não se juntará aos manifestantes que, segundo ele, querem derrubar Bolsonaro. Ao falar do presidente usa a metáfora de carpinteiro. "Bolsonaro é o martelo, e eu sou o prego". Ele revela apoiar o presidente, que defende "valores humanos" que ele considera correto.

Antônio diz que o mundo está perdido com as "sapatões". "Estamos num mundo de prostituição. Os últimos dias da lei", afirma.

Natural de Francisco Sá, no Norte de  Minas, ele chegou à capital em 1976, mas, nesse meio tempo, conheceu mais 12 estados brasileiros. Está vivendo há quatro anos em uma barraca na Praça da Liberdade. Mas não sai de seu lugar enquanto os manifestantes ocupam o espaço da praça. Tudo dividido. Cada um no seu lugar. 



E Girlaine Rodrigues da Silva, de 38 anos, fala (vídeo) qual é a cor do Brasil e analisa o momento do país.

 
ESPANTO COM A MANIFESTAÇÃO


Com certo espanto, Charles Alves de Souza, de 39 anos, viu um grande número de carros e motos passarem por sua moradia. Ele vive há cinco anos em um humilde barraco próximo à Avenida Carlos Luz, ao lado da irmã Deise, de 51 anos, e do vira-lata Bradock.

"Isso é manifestação? Não sabia. Vi os carros passando e achei que era desfile de 7 de setembro", diz.

Enquanto veículos e motos de luxo passam por avenidas de Belo Horizonte, Charles e Deise não tinham o que comer no feriado. Ambos vivem basicamente da venda de latas e de pequenos serviços prestados a uma igreja.

O morador em situação de rua se mostra revoltado com a situação do país: "Não tenho casa, comida e nem consigo um emprego. Não temos nem o arroz com feijão hoje. Tudo está muito difícil. Espero que as coisas melhorem daqui para a frente".





Com relação à preferência política, ele é direto: "Não gosto do Bolsonaro. Prefiro o Lula".

Charles foi morar na rua depois que o pai vendeu a casa onde vivia no Bairro Jardim América, em BH. Mesmo em meio à dificuldades, ele mantém a fé de sair um dia da faixa extrema da pobreza. "A gente não pode perder a esperança. Trabalhamos para tentar um dia ser feliz".

HÁ 12 ANOS VIVENDO NA RUA, A CADELINHA DOBRADINHA É UMA PARCEIRA 

Alfrederson Sartler, de 34 anos, ao lado da cadelinha é Dobradinha, é outro que luta diariamente em busca do pão que está em falta. Ele vive há mais de uma década na Praça Raul Soares,sendo uma das vítimas da desigualdade social que assola o país.

Alfrederson Sartler, ao lado da cadelinha Dobradinha, diz que tudo é culpa do Bolsonaro e deviam fazer movimento contra ele (foto: Roger Dias/EM/DA Press)
"Tudo é culpa do Bolsonaro. Deviam fazer movimento contra ele. Minha revolta é essa. Temos que tirar logo esse cara, que ele não ajuda ninguém", expressa o morador, que fala em preconceito do presidente com os mais necessitados: "Ele manda a polícia bater e humilhar o morador de rua".

Alfrederson conta que é um desafio diário conviver com os problemas: "Estou sem emprego, sem ter onde morar. Estou na rua há 12 anos e a situação só piora".

Crítico e questionador, Alfrederson pergunta: "Quem desses aí (manifestantes) vai querer me dar um prato de comida? Até agora, não comi nada", diz, revoltado. "Será que um dia vou  sair da rua? Francamente, eu não sei".




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