Sabrina permaneceu em meio aos participantes da manifestação de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), durante todo o tempo enquanto o ato aconteceu, na manhã desta terça-feira (7/9), em Montes Claros, no Norte de Minas. Mas permaneceu totalmente alheia à mobilização. A mulher, cujo nome é Sabrina Pereira da Silva, de 24 anos, ficou cercada pelos bolsonaristas por mais de quatro horas pela sua condição: ela vive em situação de rua.
Sabrina vive em uma barraca instalada em cima do canteiro que divide Avenida Deputado Esteves Rodrigues (Avenida Sanitária). E foi justamente naquele ponto que houve a concentração dos apoiadores do atual mandatário da República na cidade-polo do Norte de Minas, que reuniu cerca de 10 mil pessoas, de acordo com os cálculos organizadores.
Ao lado da barraca, um homem também em situação de rua permaneceu dormindo no chão, sem se incomodar com o barulho dos carros de som, ronco dos motores das motocicletas. Ele parecia "invisível" diante dos manfestantes.
Sabrina, ao mesmo tempo que era ignorada, se "destacava" no meio da multidão. O "destaque" foi por conta da sua vestimenta. Enquanto os manifestantes, em esmagadora maioria, usavam camisas nas cores amarela e verde, nos tons da bandeira do Brasil – que muitos deles carregavam –, a mulher usava um vestido com estampa azul. Para se proteger do sol forte usava óculos escuros e uma touca vermelha.
A cor da touca, porém, nada tinha a ver com o partido adversário dos organizadores da manifestação deste 7 de setembro. Para Sabrina, não existe nenhuma separação entre direita e esquerda. Questionada sobre o que esperava da manifestação que "testemunhou", a mulher foi taxativa: "Acho que isso não resolve nada. Não vai trazer nada pra gente". Ali, o único esforço dela era o pedido de ajuda, ouvido por poucos.
Sem demonstrar entusiasmo com a eleição, a mulher diz que votou em Bolsonaro para presidente em 2018. Diz que não sabe em quem votará em 2022.
Quando perguntada porque foi parar na rua, Sabrina, de forma supreendente, respondeu: "Minha família tem casa".
Na sequência, emendou que, há cinco anos, passou a encarar a situação de rua por causa do companheiro dela, o sem-teto Wasgton Luiz Alves Silva, de 44, que disse que ganha alguns trocados com malabares - artista de rua. "Tenho casa, mas minha família não aceita ele (Wasgton). Por isso, vim morar aqui com ele", afirmou a mulher, reclamando da precariedade da barraca.
A reportagem do EM insistiu sobre qual o motivo de a família rejeitar seu companheiro. Sabrina argumentou: "Minha família acha que 'malabares' não é serviço".
Ela disse que já trabalhou como operária de uma firma em Montes Claros durante um ano. Informou que, mesmo enfrentando o sofrimento das ruas, tem ocupação: "catadora de recicláveis". Sabrina informou ainda que é mãe de seis filhos - que estão sendo criados pela avó. Mas a prole vai aumentar: ela revelou que está grávida novamente.