A imprensa internacional continuou repercutindo nesta quarta-feira (08/09) a manifestação convocada pelo presidente Jair Bolsonaro para o 7 de setembro.
Atos reuniram milhares de pessoas em Brasília, São Paulo e outras cidades. Em dois discursos diante de seus apoiadores, Bolsonaro chamou as eleições de 2022 de "farsa", disse que só sai da presidência "preso ou morto" e exaltou a desobediência à Justiça.
O jornal argentino La Nacion disse que "a imagem do dia é um presidente descontrolado, jogando tudo ou nada".
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Para dois jornais europeus, no entanto, os protestos foram uma demonstração de força do presidente brasileiro.
O espanhol El País afirmou que Bolsonaro "conseguiu a demonstração de força que procurava neste 7 de setembro, 199º aniversário da independência do Brasil de Portugal".
"Com o patriotismo e a liberdade como bandeiras, o ultradireitista trouxe grandes multidões às ruas em meio à pandemia de Brasília, São Paulo e outras cidades", escreve o diário espanhol.
"Seu discurso, em tom messiânico e diante de uma multidão, incluiu uma ameaça de golpe aos juízes da Suprema Corte que o investigam por espalhar notícias falsas."
"Como bom populista, o presidente de extrema direita fala constantemente ao povo e se coloca acima do Congresso, como o máximo intérprete dos desejos populares. Seus constantes ataques à separação de poderes e seus gestos autoritários alimentam periodicamente o temor de um autogolpe ou de algum tipo de quebra da ordem constitucional na terceira maior democracia do mundo."
O jornal espanhol também traz uma coluna de opinião da jornalista brasileira Eliane Brum no qual ela escreve: "O que fazer quando um presidente se comporta como um terrorista e impõe o terror de Estado a seus oponentes na data cívica mais simbólica do país?"
O jornal francês Le Monde também destacou a adesão aos protestos convocados por Bolsonaro.
"Se dizia que ele está encurralado, cambaleando. À beira do abismo, enfraquecido por uma impopularidade recorde, vários inquéritos judiciais e crises repetidas. Mas talvez o tenham enterrado um pouco cedo demais. Contra todas as probabilidades, Jair Bolsonaro conseguiu na terça-feira, 7 de setembro, mobilizar seus apoiadores em massa nas ruas do Brasil, por ocasião do Dia da Independêncial."
Brasil 'no limite'
Os jornais financeiros destacaram as incertezas do Brasil diante das manifestações — e ressaltaram que pesquisas de opinião mostram que o apoio a Bolsonaro está encolhendo no Brasil.
A manifestação convocada pelo presidente Jair Bolsonaro para o 7 de setembro "alimentou a tensão que existe no Brasil" e colocou o país "no limite", na avaliação do jornal britânico Financial Times publicada na edição desta quarta-feira.
Segundo o britânico Financial Times, "os protestos (convocados por Bolsonaro) geram medo de violência contra juízes após críticas do presidente".
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"Apesar das grandes multidões esperadas ontem, um feriado nacional, a popularidade de Bolsonaro está diminuindo drasticamente, já que sua retórica antidemocrática assustou muitos antigos apoiadores, como a comunidade empresarial", afirma o Financial Times.
"Na avenida Faria Lima, em São Paulo, a versão brasileira de Wall Street, executivos admitem silenciosamente que a turbulência política está prejudicando os investimentos na maior economia da América Latina."
Outro jornal influente na comunidade financeira internacional, o Wall Street Journal, também publicou nesta quarta-feira reportagem sobre os protestos de 7 de setembro.
"Com seu índice de aprovação caindo em meio ao aumento da inflação e 584 mil mortes por covid-19, Bolsonaro convocou seus partidários para se manifestarem na terça-feira — o Dia da Independência do Brasil — contra as instituições que ele afirma que estão prestes a derrubá-lo. Além do tribunal superior, Bolsonaro está lutando contra promotores, adversários no Congresso, a justiça eleitoral e alguns governadores de Estado, incluindo o de São Paulo, João Doria. Ele também enfrenta o desafio de tentar vencer o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição do próximo ano", destaca o jornal.
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O jornal americano também destacou os ataques de Bolsonaro contra a urna eletrônica.
"Observadores internacionais de democracia elogiam amplamente o sistema de votação eletrônica do Brasil, mas Bolsonaro disse que ele é vulnerável a fraudes", escreve o Wall Street Journal.
O jornal também cita entrevistas com cientistas políticos que alertam que "o discurso inflamado de Bolsonaro na terça-feira corre o risco de minar ainda mais a confiança dos brasileiros em suas instituições, que já era baixa antes de ele assumir o cargo no início de 2019".
O jornal americano Washington Post destacou a prisão de Jason Miller, ex-conselheiro do ex-presidente americano Donald Trump e criador da rede social GETTR, que pretende abrigar os principais representantes da direita global.
Quando deixava o país, na manhã de terça-feira, Jason Miller foi conduzido à sala da Polícia Federal no Aeroporto Internacional de Brasília para ser ouvido no âmbito do inquérito das fake news, sob o comando do ministrodo STF Alexandre de Moraes.
"Jason Miller, ex-conselheiro sênior de Donald Trump, disse na terça-feira que foi brevemente detido e interrogado pelas autoridades brasileiras em um dia em que o país sul-americano se aproximava ainda mais de uma crise constitucional completa", escreveu o Washington Post.
"A popularidade de Bolsonaro despencou nos últimos meses, à medida que o coronavírus devastou o país, a economia eliminou milhões de empregos e as investigações sobre sua conduta se intensificaram. Seu desconforto com as investigações tem alimentado comentários cada vez mais belicosos, tanto dele quanto de seus apoiadores, alguns dos quais o pediram repetidamente para liderar uma tomada militar do país e depor aqueles que procuraram restringir seu poder."
O jornal britânico The Guardian destacava na sua capa nesta quarta-feira uma reportagem intitulada: "Os obstinados apoiadores de Bolsonaro vão às ruas do Brasil para incitar pelotões de fuzilamento e golpes".
Na terça-feira, outros veículos como o The Guardian, o New York Times, a Der Spiegel e o El Clarin também haviam noticiado os protestos no Brasil.
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