A pressão de influenciadores da ala bolsonarista parece ter afetado o trabalho interno do Ministério da Saúde. Após uma intensa campanha feita nas redes sociais, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, decidiu suspender a vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos sem comorbidades. Em entrevista coletiva nesta quinta-feira (16/9) Queiroga relatou a pressão feita pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre o assunto.
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Na coletiva, Queiroga disse que Bolsonaro liga para ele com frequência para se queixar da vacinação. “O presidente me cobra sempre essa questão das vacinas de adolescentes. Hoje ele me ligou e disse ‘olha aí'”.
A pressão de Bolsonaro tem a ver com a notícia da morte de um adolescente que teria tomado vacina. Até o momento, o ministério afirmou que não se sabe se a morte tem relação com a vacinação.
A morte do jovem acabou criando uma onda negacionista na bolha bolsonarista. Uma campanha contra a vacinação de jovens influenciou na campanha de fake news que apontava os perigos – inexistentes – dos imunizantes.
A bolsonarista e ex-jogadora de vôlei, Ana Paula Henkel, foi uma das principais celebridades a aderir a campanha. Ela fez um apelo para Queiroga nas redes. “Sr. ministro da Saúde, decisões tão sérias envolvendo os riscos da vacinação contra COVID em crianças e adolescentes, riscos já expostos por vários estudos, precisam ser esclarecidas! A diretriz mudou em apenas três dias e sem explicações à população!”, escreveu.
Quem também entrou na jogada foi a deputada estadual por São Paulo, Janaína Paschoal (PSL). “A verdade é que NÃO HÁ pesquisas mostrando que a vacinação contra COVID é vantajosa para os próprios adolescentes”, disse. “Eles NÃO podem ser instrumentalizados! Até que haja pesquisas, está certo o Ministério da Saúde suspender. Não se pode defender a ciência só quando interessa!”, afirmou.
Douglas Garcia, também deputado estadual por SP, também falou sobre o assunto nas redes. "O Ministério da Saúde NÃO recomenda a vacinação a crianças e a adolescentes, mesmo assim, Doria insiste em querer vaciná-los. Representarei contra o governo de SP na promotoria de saúde e promoção da criança e da juventude!”, disse.
Após a decisão de Queiroga, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que tinha adiantado a vacinação de adolescentes, resolveu manter a imunização.