O diretório do PSDB em Minas Gerais decidiu, na segunda-feira passada, apoiar a pré-candidatura de Eduardo Leite (PSDB), governador do Rio Grande do Sul, em vez do nome de João Doria (PSDB), chefe do Executivo estadual de São Paulo, à Presidência da República nas eleições de 2022.
Segundo o deputado federal Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), presidente da legenda em Minas, um dos fatores para a escolha foi o atrito entre Doria e Aécio Neves (PSDB).
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PSDB renova o mandato de Paulo Abi-Ackel à frente do diretório de MGPSDB terá deputado Paulo Abi-Ackel no comando do diretório em MinasPaulo Abi-Ackel: Nenhuma razão justificaria autorização para inquéritoGoverno orienta ministérios a omitir informações em pedidos da LAIO presidente do PSDB mineiro também comentou o cenário político-eleitoral em Minas para 2022 e a posição dos tucanos em relação ao presidente Jair Bolsonaro.
Segundo Abi-Ackel, independentemente da escolha nacional por Doria ou Leite na disputa de 2022, o candidato precisará ter bom diálogo com as forças políticas do centro para conseguir o sucesso no pleito. Leia a entrevista de Paulo Abi-Ackel ao Estado de Minas.
Como foi a escolha do PSDB de Minas por Eduardo Leite?
A escolha foi absolutamente natural, partindo das bases do partido, e havendo naturalmente uma solicitação para a Executiva estadual no sentido favorável em apoio a Eduardo Leite na prévia partidária. Essa manifestação da base se dá através dos diretores, dos prefeitos, dos nossos segmentos, que são muito organizados, a juventude do partido, PSDB Mulher, Tucanafro, PSDB Sindical, PSDB Diversidade, mas também decorre do posicionamento dos deputados estaduais, dos próprios deputados federais. Foi bastante natural e foi quase unânime em favor do Eduardo Leite. Doria deverá ter votos nas prévias em Minas também, mas eu sinto que a ampla maioria do partido prefere o Eduardo Leite, tem mais simpatia pelo Eduardo Leite, e deseja recebê-lo em Minas e vê-lo como candidato do centro político brasileiro para concorrer contra as alternativas nos extremos que temos hoje no cenário nacional, que são Lula e Bolsonaro.
Como avaliou as investidas de João Doria entre os integrantes do PSDB de Minas?
Pode ter pesado na escolha do Leite, sem dúvida. Agressões não são muito bem-vistas pelo eleitor do centro, que já não agrada dos excessos do Bolsonaro, tanto que está buscando exatamente um político que tenha postura mais centrada, mais equilibrada. Então, as agressões feitas pelo governador de São Paulo ao ex-governador de Minas podem ter contribuído fortemente para aumentar a simpatia em torno de Eduardo Leite, sem dúvida.
Como evitar a divisão do PSDB diante da disputa entre os dois pré-candidatos?
Nós estávamos trabalhando com um ambiente muito favorável para a vinda dos dois a Minas, em condições absolutamente iguais, para que ambos pudessem falar ao tucano mineiro, peessedebistas de Minas Gerais, exatamente na busca por esse bom ambiente partidário. Mas depois de uma recente entrevista do governador de São Paulo ao programa “Roda viva”, da TV Cultura, em que ele foi extremamente agressivo com o ex-governador Aécio Neves, eu notei que as manifestações em apoio ao Eduardo Leite aumentaram, ficaram muito contundentes. Inclusive, pedindo para que o diretório estadual e a Executiva estadual, que representa em última análise o diretório, tomasse uma deliberação de escolha do Eduardo Leite como candidato preferencial. Isso não proíbe ninguém de votar no Doria, mas é uma sinalização de que o partido em Minas está unido, fechado com o Eduardo Leite. Eu, como presidente estadual, tenho que atender à demanda que vem da base, que vem da militância.
Como analisa o cenário nacional para as eleições de 2022?
As eleições sempre se definem no ano par, o ano ímpar é sempre um ano de muita especulação. Ainda tem muitos acontecimentos por vir, muita água para correr debaixo da ponte. Portanto, só lá para março, abril do ano que vem teremos um clareamento do cenário. Neste momento, há uma polarização, mas há muitas forças em todo o Brasil muito fortes e representam o centro político brasileiro. A união dessas forças, estamos falando de muitos governadores de estados, muitos senadores, alguns pré-candidatos à Presidência da República, ex-presidentes da República, grandes parlamentares, há uma legião de pessoas que não se identificam nem com a direita representada hoje pelo Bolsonaro e nem com o Lula, à esquerda. Se essas pessoas conseguirem se unir em torno de um nome podem perfeitamente alcançar um patamar de intenção de voto que pode permitir ir ao segundo turno. E, indo ao segundo turno, terá toda a condição de chegar à Presidência da República.
Como analisa a polarização anunciada entre Romeu Zema e Alexandre Kalil na
disputa pelo governo de Minas? O PSDB terá candidatura própria?
No cenário estadual, hoje, somos governo, temos o vice-governador do estado. Percebemos sim essa movimentação em torno de duas forças, que atualmente se mostram no Romeu Zema e no Alexandre Kalil, mas, como disse, ainda é um ano de movimentação e especulação. Acredito que no ano que vem vamos definir se iremos com o governo ou se, até, lançamos uma candidatura própria.
O senador Antonio Anastasia, considerado um dos grandes quadros de seu partido, foi para o PSD. Como o PSDB pretende preencher essa lacuna no Senado?
Não há lacuna não, essas coisas são normais na política. A pessoa tem todo o direito de trocar de partido, e o senador Anastasia merece toda a nossa consideração. É um homem que está, de certa maneira, na mesma trincheira, porque também é homem de centro. Nosso propósito ao Brasil é o mesmo. Quando Anastasia era do PSDB nós não tínhamos o vice-governador do estado; hoje nós temos, então é dinâmico. Amanhã, podemos, quem sabe, ter o governador do estado outra vez, não sei se em 2022 ou 2026. É preciso lembrar que o PSDB, nas últimas sete eleições, ganhou quatro para o governo de Minas. As outras três foram ganhas pelo PMDB, PT e Novo, mas quem teve realmente uma hegemonia nos últimos 30 anos na política mineira foi o PSDB. Temos que trabalhar para continuar como protagonistas.
Como é possível fazer a renovação do partido? O deputado federal Aécio Neves terá algum papel nesse processo?
Em cada processo eleitoral há, naturalmente, o reposicionamento do partido com seus quadros. Não sabemos ainda como estaremos, qual papel que teremos nas eleições de 2022, mas seguramente teremos um papel de muita importância, haja vista que um dos nomes mais importantes hoje do centro político nacional está exatamente no PSDB, que é o Eduardo Leite, que poderá ser candidato à Presidência da República se ganhar as prévias do Doria. Mas digamos que o Doria ganhe, será também um personagem central na vida nacional, o que talvez nos obrigue a ter um palanque próprio em Minas, que significa, quem sabe, até ter uma candidatura majoritária em Minas. Os rumos da política nacional é que ditarão o que faremos na política estadual, quadros nós temos de sobra. Tanto é verdade que o vice-governador do estado de Minas Gerais é do PSDB, temos cinco deputados federais de grande expressão do PSDB, dos quais o ex-governador Aécio Neves, temos quadros técnicos que ocupam posições de destaque, inclusive no governo estadual, temos prefeitos de grandes cidades, que governam grandes cidades.
Qual a posição do partido em relação à defesa de um processo de impeachment do presidente Bolsonaro?
No auge da parte mais tensa, no momento daquelas declarações mais agudas do presidente Bolsonaro, o PSDB se posicionou muito claramente dizendo que teria a discussão do impeachment como suas pautas internas. Porém, logo depois, houve um recuo, a carta do presidente Bolsonaro ao ministro Alexandre de Moraes, isso pacificou bastante e atenuou bastante as preocupações que havia naquela semana. Não vejo, sinceramente, hoje, mantido este clima de maior estabilidade, nenhuma probabilidade de se falar em impeachment do presidente da República. Desde que o ambiente permaneça pacificado, como está hoje. Por isso, eu não defendo o impeachment. Temos que torcer para que o ambiente permaneça pacificado e que a gente possa caminhar para o período eleitoral, quando, então, as forças políticas brasileiras vão apresentar ao eleitorado, provavelmente, três ou quatro projetos novos. Um projeto da esquerda, um projeto de centro, também um projeto mais de centro-esquerda, que pode ser representado pelo Ciro Gomes. O Bolsonaro vai defender seu legado, e o eleitor livremente vai escolher o que deseja para os próximos quatro anos. Eu não sou defensor do impeachment, nem espero e nem desejo isso acontecendo.
Há chances de o PSDB participar das manifestações contra o presidente, que estão sendo organizadas pela oposição para outubro e novembro, uma vez que o presidente do partido, Bruno Araújo, está discutindo a possibilidade de o partido se situar formalmente na oposição a Bolsonaro?
Na minha visão pessoal, e tenho impressão de que a grande maioria do PSDB pensa dessa forma, temos que agora trabalhar as prévias pensando sempre no seguinte: quem dos nossos candidatos terá, depois das prévias, maior capacidade de dialogar com outras forças políticas de centro? Não acho que temos que pensar em movimento de rua neste momento. Temos que pensar nas prévias do partido.