O empresário bolsonarista Luciano Hang afirmou, nesta quarta-feira (29/9), que não se vacinou contra a COVID-19. A declaração foi feita durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da COVID, onde Hang depõe.
Os questionamentos foram feitos pela senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), que alertava Hang sobre os perigos do “kit COVID” e do tratamento preventivo.
“O senhor se vacinou?”, perguntou a senadora.
“Não”, respondeu o empresário.
“Mas é um negacionista mesmo!”, disse o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM).
De acordo com Hang, ele não precisou se vacinar porque já se contaminou pela COVID-19. “Não tomei vacina porque tenho índice de anticorpos alto. Tenho neutralizante natural”, pontuou.
Nenhuma vacina oferece 100% de proteção contra qualquer doença, mas no caso da COVID-19, a imunização é a única medida adotada para a diminuição da transmissão do vírus.
Questionar a eficiência da vacina, estratégia adotada por Hang, é um debate infundado e contribui para a desinformação e a piora da pandemia da COVID-19.
O dia da CPI
O dono da rede de lojas Havan é suspeito de pertencer ao 'gabinete paralelo', grupo que supostamente aconselha o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em relação à pandemia do novo coronavírus, promovendo ideias negacionistas, como o tratamento precoce com medicamentos com ineficácia comprovada contra a doença.
A convocação foi requerida pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator do colegiado.
Hang também deve ser questionado pelos senadores pela suspeita de ter financiado a disseminação de 'fake news' sobre a COVID-19 junto ao blogueiro bolsonarista Allan do Santos, do canal 'Terça Livre', caso investigado em inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF). O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho '03' do chefe do Executivo, teria intermediado o contrato entre os dois.
Além disso, o empresário é alvo da CPI por supostamente fraudar a certidão de óbito de sua mãe, Regina Hang, que morreu em fevereiro, aos 82 anos, no hospital Sancta Maggiore, da Prevent Senior, operadora de saúde acusada de omitir mortes por ministrar medicamentos sem eficácia, como a hidroxicloroquina.
Em um dossiê de denúncias entregue aos senadores, 15 médicos que trabalharam para a empresa relatam que Regina foi infectada com a COVID-19 e usou medicamentos ineficazes, defendidos por Bolsonaro. Mas a doença não consta do atestado.
Em vídeo publicado nas redes sociais, Luciano Hang aparece dizendo que a mãe poderia ter sido salva se tivesse feito 'tratamento preventivo'. Porém, o prontuário de Regina na unidade da Prevent, obtido pela CPI, indica que ela tomara, sim, hidroxicloroquina e ivermectina antes da internação.
Além da ocultação de mortes, a Prevent Senior vem sendo acusada por médicos de incentivar a prescrição desses medicamentos, na contramão dos principais estudos científicos realizados desde o início da pandemia e sem consentimento dos pacientes e familiares.
O que é uma CPI?
As comissões parlamentares de inquérito (CPIs) são instrumentos usados por integrantes do Poder Legislativo (vereadores, deputados estaduais, deputados federais e senadores) para investigar fato determinado de grande relevância ligado à vida econômica, social ou legal do país, de um estado ou de um município. Embora tenham poderes de Justiça e uma série de prerrogativas, comitês do tipo não podem estabelecer condenações a pessoas.
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O que a CPI da COVID investiga?
Instalada pelo Senado Federal em 27 de abril de 2021, após determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), a CPI da COVID trabalha para apurar possíveis falhas e omissões na atuação do governo federal no combate à pandemia do novo coronavírus. O repasse de recursos a estados e municípios também foi incluído na CPI e está na mira dos parlamentares.