Durante evento realizado nesta quinta-feira (30/9) em Betim, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, compartilhou a tentativa de suicídio vivenciada aos 10 anos, após anos de abusos sexuais. Ela ainda falou sobre ações governamentais para prevenir o autoextermínio e a automutilação no I Seminário Mineiro de Valorização da Vida.
O evento acontece em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), no auditório da prefeitura, e faz parte das discussões do Setembro Amarelo, campanha que tem como objetivo a prevenção ao suicídio e à automutilação. A ministra foi convidada para falar sobre as ações do Poder Executivo em relação ao tema.
Damares contou com detalhes sobre os abusos que sofreu desde os seis anos por um pastor, que morava de favor na casa do pai dela. Ela ainda compartilhou o sofrimento mental que a levou, aos 10 anos, tentar suicídio. “Não é mimimi, as crianças não estão com frescura e não estão querendo aparecer”, pontuou a ministra.
“Eu fui barbaramente estuprada. Eu subi em um pé de goiaba, com um veneno na mão para morrer. Era o meu lugar de choro, de sofrimento. Naquele momento, quando eu estava com um saquinho de veneno na mão, a minha fé me salvou”, contou Damares, que pontuou que a violência sexual contra criança não termina no ato.
“Não existe remédio que apague memória. Eu aprendi a lidar com a minha dor e desde os 14 anos estou na militância em defesa das crianças no Brasil. Precisamos ampliar o olhar para as pessoas que estão em sofrimento. Eu tinha dor no corpo, na alma e ninguém percebia”.
Devido ao estupro recorrente, Damares teve problemas de saúde que deixou sequelas. “Eu paguei muito caro pelos abusos. Eu não consegui gerar uma criança. Uma mulher que lutou tanto a vida inteira pelas crianças, eu sou ministra das crianças e não tive a honra, a graça, de gerar uma criança por causa de um abusador. Eu perdi a capacidade de engravidar”.
Sobre a importância do acompanhamento aos que sofrem, ela pontuou: “Para nós, todos os meses são amarelos, todos os dias são amarelos. A nossa pauta é para a valorização da vida. As pessoas que se suicidam não querem morrer, elas querem aliviar a dor. Elas estão passando por um processo de saúde mental”.
Ações governamentais
A ministra Damares levantou dados sobre o suicídio no Brasil e apontou uma pesquisa de 2018 que diz que 20% dos adolescentes brasileiros estão se auto-mutilando, cerca de 14 milhões de jovens.
“Até 2019, nós não tínhamos no Brasil a notificação da automutilação. Nós tínhamos a notificação compulsória do suicídio. Desde 2019, nós temos uma Lei Federal (Lei Vovó Rose, Lei 13.819) que torna obrigatório a notificação do suicídio, a tentativa do suicídio e a automutilação. Não é só o serviço de saúde obrigado a notificar, a escola também passa a ser obriga a notificar aos órgãos responsáveis”, disse Damares.
“Essa lei cria no Brasil a política de prevenção do suicídio e da automutilação. E muita coisa nós estamos fazendo para prevenir. Por exemplo, estamos treinando os agentes do Samu para atuar, em casos de tentativa de suicídio e quando as pessoas pedirem socorro. Professores também estão sendo treinados. Nós queremos treinar e capacitar, também, os líderes religiosos”.
Os cursos de capacitação citados são online e gratuitos e se encontram no site do Ministério da Saúde.
Segundo a ministra, o governo liberou mais de R$ 600 milhões para remédios da área da saúde mental. “Nós estamos ampliando o fortalecimento dos centros de atendimentos em todo o Brasil. O suicídio já é entre os jovens e adolescentes no Brasil a segunda maior causa de morte. Não dá mais para fechar os olhos. Que essa discussão não seja só em setembro que seja todos os dias”, finalizou Damares.
Outros palestrantes do dia
Ainda nesta tarde, o deputado federal Lucas Gonzales ,que é presidente da Frente Parlamentar de Prevenção ao Suicídio e Automutilação, palestrou sobre “Pequenas ações podem salvar vidas – a importância do trabalho conjunto do poder público e sociedade civil”. Além dele, o secretário de Desenvolvimento Social de Ibirité, pastor Elias Silva, falou sobre “Rede de Proteção às crianças e adolescentes”.